Drama de Inês de Castro (Columbano)
O Drama de Inês de Castro é uma pintura a óleo sobre tela do pintor português Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929), datada de 1901-04 e que se encontra actualmente no Museu Militar de Lisboa.
Drama de Inês de Castro | |
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Autor | Columbano Bordalo Pinheiro |
Data | 1901-04 |
Técnica | Pintura a óleo sobre tela |
Dimensões | 196 cm × 246 cm |
Localização | Museu Militar de Lisboa |
A pintura representa os momentos antecedentes do fim trágico de Inês de Castro que ocorreu a 7 de janeiro de 1355, após o rei D. Afonso IV concordando com os seus conselheiros ter dado a ordem do assassinato da mulher do seu filho, o infante D. Pedro, o que veio a suceder no paço de Santa Clara, em Coimbra, onde ela vivia.
Segundo a página do Museu Militar de Lisboa, Columbano inspirou-se em Os Lusíadas para pintar Drama de Inês de Castro, bem como as 3 outras pinturas suas que estão neste museu, designadamente, O Velho do Restelo, O Concílio dos Deuses e Vénus em auxílio dos Navegadores Portugueses.[1]
Luís de Camões, na Estrofe 125 do Canto Terceiro de Os Lusíadas, canta assim o momento da súplica de Inês imaginado por Columbanoː[2]
Para o céu cristalino alevantando
Com lágrimas os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos),
E depois nos meninos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfandade como mãe temia,
Para o avô cruel assim dizia:
Descrição
editarA cena aparece divida em dois grupos de personagens. Do lado esquerdo, Inês de joelhos com expressão suplicante e desesperada enlaça a filha que procura abrigo ao abraçar-se ao pescoço da mãe. Atrás dela prendendo-a pelo braço está o que parece um guarda, ou até um algoz, atendendo à roupagem mais pobre e capuz que tem sobre a cabeça. Perto de Inês está outro filho em atitude típica de criança tapando os olhos à cena horrível que se desenrola à sua frente.
Do lado direito, quase em frente a Inês, e de costas para o observador, está uma figura imponente vestida de negro que representará o rei Afonso IV, o qual tem ao seu lado dois nobres que, descontraídos, observam a cena com alguma indiferença.
O local onde se terá desenrolado o episódio é habitualmente identificado com a Quinta das Lágrimas, em Coimbra, que na pintura é sugerido pelas arcadas e colunas. Não obstante, os capitéis das colunas estão a um nível muito baixo, pouco acima da cabeça dos personagens em pé, o que poderá sugerir que se tratava de uma cripta o local imaginado pelo pintor.
Existe um Estudo para esta obra que se encontra no Museu Grão Vasco, em Viseu com o número de Inventário 2455, [3] cuja descrição apresenta uma composição muito semelhante à obra final.[4]
Maria Aires Silveira descreve o estilo de Columbano como uma paleta de tonalidades claras, que posteriormente escurece, nos retratos de intelectuais portugueses, já na viragem do século, numa característica pintura em mancha e tonalidades, terminando numa obsessiva preocupação pelo tratamento da luz que desmaterializa a figura. Pioneiro do realismo, as suas obras referenciam artistas como Velázquez, Rembrandt, Manet, Degas, Courbet, Fantin-Latour. Amigo de John Singer Sargent, próximo da estética do alemão Wilhelm Leibl, Columbano constrói uma original modernidade.[5]
Fundamento histórico
editarInês de Castro, fidalga galega do reino de Castela, veio para Portugal como aia de Constança Manuel quando esta se casou com o infante herdeiro Pedro. Mas Pedro e Inês acabaram por se apaixonar, e o seu romance levou D. Afonso IV a ordenar o exílio de Inês para Castela.
O afastamento, porém, não apagou o amor entre Pedro e Inês, e após a morte de Constança, em 1345, ao dar à luz o futuro rei D. Fernando, Pedro, contra a vontade do pai, fez com que Inês regressasse, passando a viver juntos, o que provocou grande desavença entre o rei e o príncipe herdeiro.
Afonso IV tentou ainda casar o filho com uma dama de sangue real, mas Pedro opôs-se a tal solução. Fruto da vida em comum, Pedro e Inês tiveram quatro filhos: Afonso, em 1346 (que morreu pouco depois de nascer), Beatriz em 1347, João em 1349 e Dinis em 1354.
Ocorreu então o receio de que a família dos Castros conspirava para assassinar o príncipe herdeiro D. Fernando, de modo a que subisse ao trono o filho mais velho de Inês de Castro, o que levou o Rei e o seu Conselho a decidirem o assassínio de Inês, o que veio a acontecer a 7 de Janeiro de 1355, no paço de Santa Clara, em Coimbra.
Influência cultural
editarA pintura Drama de Inês de Castro de Columbano foi objecto de um programa, integrado na série Grande Quadros Portugueses, que foi transmitido pela RTP em 8 de Fevereiro de 2013 com apresentação de Manuel João Vieira.[6]
Notas e referências
editar- ↑ Página web do Museu Militar de Lisboa, [1]
- ↑ Luís de Camões, Os Lusíadas, Colecção História da Literatura, 1994, Editores Reunidos, Lda. e R.B.A. Editores S.A., pag. 104, ISBN 972-747-105-6
- ↑ Lista de Obras de Columbano Bordalo Pinheiro nos Museus Nacionais, na página da Matriznetː [2]
- ↑ Página MatrizNet, sobre o Estudo para o quadro Morte de D. Inês, [[3]]
- ↑ Maria Aires Silveira, Nota sobre o percurso artístico de Columbano na Página do Museu Nacional de Arte Contemporânea, [4]
- ↑ Página da RTP na Net [5]
Bibliografia
editar- José Augusto França, Museu Militar. Pintura e Escultura, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1996.
Ligações externas
editarPágina oficial do Museu Militar de Lisboa, a descrever a Sala Camões, onde se encontra a pintura relativa a Inês de Castroː [6]