Enheduana
Enheduana (acádio: 𒂗𒃶𒁺𒀭𒈾) também transliterado como Enheduana, En-hedu-ana, e suas variantes foi uma poeta e filósofa suméria, filha do rei Sargão da Acádia. Foi eleita alta sacerdotisa do deus lunar Nana na cidade suméria de Ur.[1] Seu nome é composto pelas palavras "en", que significa "alta sacerdotisa"; a palavra "heduana" é um epíteto poético para a Lua (algo como "adorno do céu"),[2][3][4] mas que também pode se referir ao deus Anu ou à deusa Inana.[5] Considerada a primeira escritora do mundo com textos atribuídos à sua autoria.[6]
Enheduana | |
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Nascimento | século XXIII a.C. Império Acádio |
Morte | século XXIII a.C. |
Residência | Ur |
Cidadania | Império Acádio |
Progenitores | |
Irmão(ã)(s) | Manistusu, Ilaba'is-takal, Rimus da Acádia, Shu-Enlil |
Ocupação | poeta, escritora, sacerdotisa, filósofa |
Obras destacadas | The Exaltation of Inanna |
Título | princesa |
Enheduana deixou um grande legado literário, definitivamente escrito por ela, que inclui textos devotados à deusa Inana e uma coleção de hinos conhecido como Hinos Sumérios do Templo.[4] É conhecida por ser uma das primeiras autoras e poetas de nome conhecido e atribuído na história.[1][7] Foi a primeira mulher a deter o título de EN, um papel de grande importância política, posteriormente atribuído a todas as filhas reais, em um movimento político do pai para assegurar o poder sumério sobre a cidade de Ur.[1][3][8] Indicada pelo pai, sua mãe era a rainha Tashlultum.[9][10]
Fez parte do governo do irmão, o rei Rimus, onde ela teria se envolvido em alguma turbulência política, banida e posteriormente restituída a seu cargo de alta sacerdotisa. Seu canto "A Exaltação de Inana" (‘nin me sar2-ra’[11]) conta os detalhes de sua expulsão de Ur e sua restituição. Mesmo depois de sua morte, Enheduana continuou sendo lembrada como uma figura importante do reino, talvez até mesmo com caráter semi-divino.[1][3]
Evidências arqueológicas
editarA vida de Enheduana é bem documentada, tanto na forma textual quanto em artefatos arqueológicos. Dois selos contém seu nome, pertencendo a seus servos e datando do período de Sargão, escavados no cemitério de Ur.[12][13] Um disco de alabastro contendo seu nome foi escavado em Giparu, também em Ur, residência de Enheduana. Sua estátua foi encontrada em Giparu (2000-1800 A.C.).[3][12]
Arte literária
editarEnheduana compôs 42 hinos dirigidos aos templos por toda a Suméria e Acádia, incluindo Eridu, Sipar e Esnuna.[1][14] Os textos foram reconstruídos com base em 37 placas de argila de Ur e Nippur, a maioria datando dos Antigos Períodos babilônicos e de Ur III. A coleção, conhecida como "Os Hinos Sumérios do Templo" foram os primeiros deste tipo.[3][12] Enheduana assim declama:
As cópias feitas durante tão longo tempo depois da morte de Edehuana mostram sua grande reputação no reino. A autoria de Enheduana em tantos textos de grande importância levanta a questão da alfabetização feminina na antiga Mesopotâmia; além de Enheduana, as esposas reais são conhecidas por terem encomendado ou talvez composto poesia frequentemente.[17] Os sumérios tinham até uma deusa escriba, Nidaba, o que revela a importância cultural das mulheres e seu papel na sociedade da época.[17]
Grande parte dos trabalhos de Enheduana está disponível com tradução para a língua inglesa no Electronic Text Corpus of Sumerian Literature, tendo sido traduzidos pelo especialista em povos sumérios, Samuel Noah Kramer e pela poeta Diane Wolkstein, no livro Inana, Rainha dos Céus e da Terra: suas histórias e hinos da Suméria, publicado em 1983.[4] A primeira tradução ao português foi publicada em 2020, Senhora de todos os me's: exaltação a Inanna/Nin-me-šara, ao lado do original sumério, na tradução de Gleiton Lentz.
Lista de composições
editar- Nin-me-šara, "A Exaltação de Inana", 153 linhas, editado e traduzido primeiro por Hallo and van Dijk (1968), depois por Annette Zgoll (1997) em alemão. As primeiras 65 linhas se dirigem à deusa com uma lista de epítetos, comparando-a Anu, deus supremo do panteão sumério. Depois, Enheduana fala em primeira pessoa, expressando sua infelicidade por ter sido exilada do templo e das cidades de Ur e Uruk. Ela clama pela providência de Nana para que retorne ao templo. As linhas 122-135 recitam diversos atributos a Inana.
- In-nin ša-gur-ra, "Grande Senhora do Coração", 274 linhas incompletas, editado por Sjöberg (1976) usando 29 fragmentos de placas de argila.
- In-nin me-huš-a, "Deusa dos terríveis poderes", traduzido por Limet (1969)
- Os Hinos do Templo, editado por Sjöberg e Bergmann (1969): 42 hinos de tamanhos variados, dirigidos aos templos.
- Hino a Nanna, editado por Westenholz
Traduções
editar- 1. EN-HEDU-ANA. Senhora de todos os me's: exaltação a Inanna/Nin-me-šara. Trad. Gleiton Lentz. (n.t.) Revista Nota do Tradutor, Fpolis, n. 15, vol. especial, 2020, pp. 12-27. ISSN 2177-5141
Ver também
editar- Deusa Nidaba
- Deus Anu
- Deusa Inana
- Sargão da Acádia
Ligações externas
editarReferências
- ↑ a b c d e Transoxiana (ed.). «Enheduanna, Daughter of King Sargon Princess, Poet, Priestess». Transoxiana. Consultado em 21 de fevereiro de 2017
- ↑ Binkley, Roberta (1998). «Biography of Enheduanna, Priestess of Inanna». University of Pennsylvania Museum. Consultado em 21 de fevereiro de 2017. Arquivado do original em 12 de dezembro de 2009 "ca. 2285-2250 B.C.E."
- ↑ a b c d e Black e Green, Jeremy e Anthony (1992). Gods, Demons, and Symbols of Ancient Mesopotamia: An Illustrated Dictionary. Texas: University of Texas Press. p. 134. ISBN 978-85-316-0189-7
- ↑ a b c The Electronic Text Corpus of Sumerian Literature (ed.). «The temple hymns: translation». The Electronic Text Corpus of Sumerian Literature. Consultado em 21 de fevereiro de 2017
- ↑ Ancient History Encyclopedia (ed.). «Enheduanna - Poet, Priestess, Empire Builder». Ancient History Encyclopedia. Consultado em 21 de fevereiro de 2017
- ↑ AngelFire (ed.). «The Concept Of Personal God(dess) In Enheduana's Hymns to Inanna». AngelFire. Consultado em 21 de fevereiro de 2017
- ↑ Dr. Aaron Ralby (2013). «Sargon the Great, c. 2300 BCE: The Fall of Sumer». Atlas of Military History. [S.l.]: Parragon. pp. 48—49. ISBN 978-1-4723-0963-1
- ↑ Franke, Franke, S. Kings of Akkad: Sargon and Naram-Sin" in Sasson, Jack, M. "Civilizations of the Ancient Near East". Scribener, New York, 1995, p. 831
- ↑ Elisabeth Meier Tetlow (2004). Women, Crime, and Punishment in Ancient Law and Society: The ancient Near East. [S.l.]: Continuum International Publishing Group. ISBN 978-0-8264-1628-5. Consultado em 29 de julho de 2011
- ↑ Michael Roaf (1992). Mesopotamia and the ancient Near East. [S.l.]: Stonehenge Press. ISBN 978-0-86706-681-4. Consultado em 29 de julho de 2011
- ↑ ETCSL translation: t.4.07.2
- ↑ a b c Gadd, C. J. et al. Ur Excavations Texts I – Royal Inscriptions" Trustees of the British Museum and of the Museum of the University of Pennsylvania, London, 1928
- ↑ Woolley, Leonard. Ur Excavations II: The royal cemetery: a report on the pre-dynastic and Sargonid graves excavated between 1926 and 1931". For the Trustees of the two Museums by the Oxford University Press, Oxford, 1934 p.312, 334–335 & 358.
- ↑ Sjoberg, A. W. and Bergman, S.J 1969 'The Collection of Sumerian Temple Hymns' J.J Augustin Publisher, New York p.5
- ↑ University of Oxford (ed.). «ETCSLtranslation : t.4.80.1». Faculty of Oriental Studies. Consultado em 21 de fevereiro de 2017
- ↑ SCHATZ, Kate. Mulheres incríveis: artistas e atletas, piratas e punks, militantes e outras revolucionárias que moldaram a história do mundo. Bauru: Altral Cultural, 2017.
- ↑ a b Leick, Gwendolyn (1994). Sex and Eroticism in Mesopotamian Literature. London: Routledge. p. 336. ISBN 0415311616