Osmunda regalis

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Osmunda regalis é uma espécie de plantas herbáceas, perenes, decíduas, do grupo das pteridófitas, pertencente à família Osmundaceae,[2] conhecida pelo nome comum de feto-real.[3][4][5] A espécie tem distribuição natural na Europa, África e Ásia, ocorrendo em pântanos e nas margens dos cursos de água. A espécie é por vezes conhecida como feto florido devido ao aspeto das suas frondes férteis que quando maturas parecem um espigo.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaOsmunda regalis
feto-real

Estado de conservação
LC [1]
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Pteridophyta
Classe: Pteridopsida
Ordem: Osmundales
Família: Osmundaceae
Género: Osmunda
Espécie: O. regalis
Nome binomial
Osmunda regalis
L.
O. regalis com frondes férteis maduras.
Hábito da planta.
Frondes estéreis de feto-real.
Grande plano de uma fronde estéril.
Pínula de uma fronde estéril com nervuras proeminentes e ramificadas.
Frondes juvenis exibindo vernação circinada.
Colónia clonal de O. regalis num pântano (Lagune de Contaut, Hourtin, França).

Descrição

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Morfologia

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Osmunda regalis é uma planta herbácea perene, caducifólia, de grandes dimensões, do tipo fisionómico hemicriptófito (do sistema de Raunkiær),[6] com um rizoma grosso, recoberto pelos restos dos pecíolos,[7] com rizoma ascendente robusto que, ao longo de muitos anos, constrói uma base lenhosa, semelhante a um tronco, coberta por raízes entrelaçadas, com 1 m ou mais de altura, formando poderosas massas radiculares.

As frondes, com longos pecíolos, nascem diretamente do rizoma e são grandes, tipicamente até 120 cm, mas excecionalmente até 400 cm de comprimento e 30-40 cm de largura. Cada fronde é bipinada, com 5-9 pares de pinas até 30 cm de comprimento, cada pina com 7-13 pares de pínulas com 2,5-6,5 cm de comprimento e 1-2 cm de largura. Apresentam acentuada dimorfia, produzindo separadamente dois tipos de frondes heteromorfas fascículadas de crescimento anual: as fertéis e as estéreis. As estéreis atingem tipicamente 60-160 cm de altura[8] e 30-40 cm de largura. As frondes férteis são erectas e mais curtas, medindo entre 20 a 50 cm de altura.[9] Muitas das frondes têm uma porção fértil terminal, onde a lâmina é reduzida quase até à nervura central e densamente coberta com esporângios castanhos.

As lâminas foliares têm um formato oblongo-lanceolado.[8]As pínulas têm formatos oblongo-lanceolados.[8] As pínulas estéreis medem até 5x1,5 cm, ao passo que as férteis medem cerca de 12x3 mm.[8] As pínulas férteis são verde-pálidas, tornando-se castanhas com a maturação.[8] As frondes juvenis exibem vernação circinada.

Os esporângios, subglobosos, curtamente pediculados, ocorrem dispostos em forma de panícula na parte superior das frondes.[10][9]

As frondes são inicialmente cobertas de tricomas castanho-dourados que desaparecem rapidamente, deixando uma superfície lisa e verde-pálida na face superior das lãminas foliares. As nervuras são proeminentes em ambas as superfícies foliares. A folhagem adquire um tom vermelho-acastanhado no Outono.[5]

Os esporos são verdes e globosos.[8] Na fase de gametófito, o protalo é uma planta pequena, verde e carnuda, com apenas alguns milímetros de tamanho.[11][12]

Ecologia e distribuição natural

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Ecologia

A espécie é uma planta ripícola e higrófita, ou seja, privilegia as orlas dos cursos de água e o sotobosque de áreas ribeirinhas ou em barrocas.[13][3] Medra em zonas húmidas e umbrias, em solos tendencialmente mais ácidos.[3]

Ocorre também frequentemente em turfeiras florestadas, ravinas e taludes, bem como em falésias costeiras. Embora possa ocorrer abaixo dos 100 metros de altitude, é geralmente encontrada entre os 500 e os 1000 metros de altitude.[8] Em muitas zonas, a espécie O. regalis tornou-se rara devido à drenagem das zonas húmidas para ocupação agrícola.

Distribuição natural

A área de distribuição natural do feto-real estende-se por toda a Europa e Norte de África (da Noruega para sul até à Argélia, incluindo a Macaronésia) e ainda no Médio Oriente até ao Irão e Índia,[5] ocorrendo em regiões de clima subtropical e temperado.[13] Está listada como naturalizada na Nova Zelândia.[14] A sua presença na América do Norte é disputada com base na incerteza taxonómica sobre se Osmunda spectabilis deve ou não ser considerada uma espécie separada.[15]

A espécie é nativa na Península Ibérica, incluido o território português, e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira. Em Portugal continental, as maiores populações ocorrem nas zonas do Noroeste, sendo certo que também algumas populações mais modestas dispersas pelas regiões do Centro e da Estremadura.[9] Há uma população significativa no barlavento Algarvio, ao passo que o interior alentejano e o interior algarvio têm muito poucas comunidades desta espécie.[13] No arquipélago dos Açores, embora esta espécie marque presença em todas as ilhas, é rara em Santa Maria e muito rara na Graciosa, sendo, por contraste, extremamente comum na ilha das Flores.[8]

Taxonomia e evolução

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Nomenclatura

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O nome genérico Osmunda tem etimologia incerta, deriva possivelmente de Osmunder, um nome saxónico para o deus Thor,[16] ou do nome do chefe anglo-saxónico Osmund, rei do Sussex no século VIII.[17]

O epíteto específico, regalis, provém do étimo latino rēgālis, que significa «real»,[18] que também deu origem ao nome comum «feto-real», que poderá resultar de este ser ser um dos maiores e mais imponentes fetos europeus.[19] O nome foi qualificado como «feto-real-do-velho-mundo» nalguma literatura americana para o distinguir do feto-real-americano, que lhe está intimamente ligado, a espécie O. spectabilis. No entanto, esta terminologia não se encontra na literatura internacional.[20]

Para além de feto-real, nome mais comum,[6][8] a espécie é ainda conhecida em Portugal pelos seguintes nomes comuns: afentos, fento-real,[21] fento-de-flor[13] e osmonda[22] [23] ou osmunda[24] (não confundir com as demais espécies do género Osmunda que também são conhecidas por estes dois últimos nomes comuns).

Espécie similares e variedades

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Existem três espécies muito semelhantes: Osmunda spectabilis, Osmunda lancea e Osmunda japonica. Análises genéticas recentes (Metzgar et al., 2008) mostraram que as variedades do Novo Mundo estão num clado que é o grupo irmão das variedades do Velho Mundo de Osmunda regalis. Se isso for, então O. lancea e O. japonica devem ser consideradas como variedades de O. regalis, ou, inversamente, O. regalis var. spectabilis deve ser considerada como uma espécie separada, Osmunda spectabilis Willdenow. A variedade brasiliensis seria então Osmunda spectabilis Willdenow var. brasiliensis Hooker & Greville.

Tendo em conta as incerteza taxonómicas atrás apontadas, podem ser consideradas três a quatro variedades, como tradicionalmente se entende, dependendo o seu número da circunscrição taxonómica usada para a espécie (com exclusão ou inclusão das populações americanas):

  • Osmunda regalis sensu stricto (só populações euro-asiáticas e norte-africanas)
    • Osmunda regalis var. regalis — Europa, norte da África, sudoeste da Ásia, com frondes estéreis até 1,6 m de altura;[25][26]
    • Osmunda regalis var. panigrahiana R.D.Dixit — sul da Ásia (Irão e Índia).[25][26]
  • Osmunda regalis sensu lato (quando se considera que a espécie americana Osmunda spectabilis não ser considerada uma espécie separada)

Evolução

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Os fósseis mais antigos conhecidos de Osmunda datam do Paleoceno, Osmunda provavelmente deriva de espécies fósseis atualmente atribuídas a Claytosmunda.[27]

Etnobotânica

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Cultivo

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A Osmunda regalis é amplamente cultivada nas regiões temperadas.[5] A espécie[28] e a cultivar 'Cristata'[29] chegaram ambos, inclusive, a ganhar o galardão Award of Garden Merit da Royal Horticultural Society britânica.[30]

O feto-real deve ser plantado em solos húmidos com baixo pH (solos ácidos). Convivem bem com outras plantas higrófilas como a Rodgersia e a Gunnera.[31][5] No entanto, tolera uma larga variedade de condições edafoclimáticas.[32]

A raiz, na senda do que também acontece com as raizes das demais espécies do género Osmunda, são usadas para produzir fibra de osmunda,[33] que por sua vez serve como substrato de crescimento de orquídeas e outras plantas epifítas.[34]

Rebentos de feto-real temperados é um prato tradicional de namul (em coreano: 나물) muito apreciado na gastronomia da Coreia. Os rebentos da planta são comestíveis, a par dos de outras variedades de fetos, ostentando um travo similar ao dos espargos.[35] Os rebentos exibindo vernação circinada são uma apreciada iguaria, sendo comercailizados como rebentos de feto ou com a designação anglófona de fiddleheads.

Folclore

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A esta planta foram, ao longo dos séculos, atribuídas propriedades mágicas em diferentes mitologias e folclores europeus.[35][36] Na sua versão mais comum, como é o caso português, está ligada à mística do solstício de Verão, a noite de S. João, e aos poderes devinatórios que ocorrem nessa noite. Na mitologia eslava, as crenças são similares, mas envolvem Perun, o deus do raio e da tempestade do paganismo eslavo, e os seus poderes mágicos.

Folclore português

Na crença popular portuguesa sustentava-se que, na noite de S. João, pouco antes da meia-noite, o feto real brota uma flor vermelha e escura, que ilumina tudo o que estiver em redor. À meia-noite, essa flor liberta uma semente invisível, que confere uma infinidade de virtudes mágicas ao seu detentor,[36][37][38] entre as quais: obter conhecimento a respeito do que quiser;[38] ter força mágica para derrotar demónios; desenvolver uma espécie de magnetismo carismático, capaz de atrair as pessoas que se deseje ou de produzir encontros fortuitos com quem se queira, e de convencer a pessoa atraída a aceder às vontades do detentor da semente mágica.[36][37] Contudo, a apanha da semente mágica seria difícil e perigosa, porque existiriam entidades maléficas (como o diabo, bruxas e almas penadas) que também quereriam apanhar a semente encantada, sendo necessário vencê-las para a obter.[36][38]

A tradição popular prescreve que, para ter sucesso na apanha da semente, é preciso, aquando da meia-noite, colocar sob o feto um lenço, guardanapo, pano ou toalha, para onde a semente invisível possa cair, sem se perder, pois se cair ao chão nunca mais se volta a encontrar.[38] Para que o diabo não interfira com o processo, a tradição popular aconselhava a que se desenhasse um signo saimão no chão, englobando o espaço ocupado pela planta e pelo aventureiro, porquanto o Diabo era incapaz de entrar nesse espaço.[37] Nas palavras do etnólogo Francisco Adolfo Coelho: «Na noite de S. João, segundo a crença popular, o ‘feto real’ larga a flor à meia-noite. É costume estender-se um lenço por baixo da planta para a flor, que tem grandes virtudes, cair nele. Mas é muito difícil depois ir buscar o lenço, por causa das bruxas que o não consentem. No entretanto se lá se pode chegar, apanha-se a flor, mete-se dentro de um canudo de lata, e quando se quer saber alguma coisa, vai-se ao canudo porque se sabe logo[38]

Mitologia eslava

De acordo com a mitologia eslava, o feto-real estaria ligado a Perun, sendo por isso denominado flor-de-Perun[39], estava imbuído dos mais variaados poderes mágicos, entre os quais dar ao seu detentor a força para derrotar demónios; concretizar desejos; desvendar segredos; e permitir comunicar com as árvores e as plantas.[34]

Sem embargo, para que se pudesse colher as «flores de Perun» era necessário triunfar numa provação difícil e medonha. As tradições mais recuadas no tempo indicavam que a flor só poderia ser colhida por ocasião da noite de kupala (coincidente com a véspera de São João). Ulteriormente, no rescaldo da cristianização dos povos eslavos, a data foi alterada por forma a coincidir com a véspera da Páscoa.[40] De qualquer forma, a pessoa que queira colher as flores de Perun deve permanecer dentro de um círculo desenhado à volta da planta e resistir às provocações ou ameaças dos demónios, que também cobiçavam a flor.[40]

Referências

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  1. Matchutadze, I. (2014). «Osmunda regalis». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2014: e.T164368A63306495. doi:10.2305/IUCN.UK.2014-2.RLTS.T164368A63306495.en . Consultado em 13 novembro 2021 
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Bibliografia

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  • Metzgar, Jordan S., Judith E. Skog, Elizabeth A. Zimmer, and Kathleen M. Pryer (2008). "The Paraphyly of Osmunda is Confirmed by Phylogenetic Analyses of Seven Plastid Loci." Systematic Botany, 33(1): pp. 31–36
  • Erik Sjögren, Plantas e flores dos Açores. Edição do autor, 2001.

Ligações externas

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