Centro Cultural São Francisco

igreja em João Pessoa, Brasil

O Centro Cultural São Francisco está localizado no centro histórico da cidade de João Pessoa no estado da Paraíba, no Brasil.

Centro Cultural São Francisco
Centro Cultural São Francisco
Tipo igreja, património cultural
Inauguração 1589 (435 anos)
Página oficial (Website)
Geografia
Coordenadas 7° 6' 51.94" S 34° 52' 57.45" O
Mapa
Localização João Pessoa - Brasil
Patrimônio Património de Influência Portuguesa (base de dados)

O Centro Cultural funciona em um complexo arquitetônico formado pela Igreja e Convento de Santo Antônio, a Capela da Ordem Terceira de São Francisco, a Capela de São Benedito, a Casa de Oração dos Terceiros (chamada de Capela Dourada), o Claustro da Ordem Terceira, uma fonte e um grande adro com um cruzeiro, constituindo um dos mais notáveis testemunhos do Barroco no Brasil. Por sua importância, foi tombado pelo IPHAN. Ao ser fundada a igreja era dedicada a Santo Antônio, e aparentemente a troca de nome ocorreu o início do século XX, por força de um costume popular, mas ainda é conhecida também pela antiga denominação.[1][2][3][4]

História

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Suas origens remontam à chegada ao local, em 1588, do Frei Melchior de Santa Catarina, incumbido de instalar uma missão franciscana. O convento foi fundado em 1589, com projeto do Frei Francisco dos Santos, quatro anos após a ocupação da região pelos portugueses, e foi concluído no ano de 1591 pelo Guardião Frei Antônio do Campo Maior, mas sua conformação presente é fruto de várias reformas efetuadas nos séculos XVII e XVIII. Inicialmente havia sido apenas uma pequena edificação de taipa, com 12 celas e um claustro, logo ampliada nos anos seguintes, já em alvenaria de pedra calcária. Em 1634 foi ocupado pelos invasores holandeses, e transformado em fortificação. Depois de recuperado pelos franciscanos, foi reformado, com as obras concluindo em 1661. Nos próximos dois séculos sofreria outras intervenções, até ter a fachada da igreja concluída em 1779, data gravada no frontispício. Os interiores foram ricamente decorados, destacando-se o trabalho de azulejaria, talha dourada e pintura. O convento se tornou o maior centro franciscano ao norte de Pernambuco, tendo um papel decisivo na exploração e ocupação da região através do trabalho missionário e cultural dos frades. Sua decoração interna apresenta várias alegorias referentes a esse papel.[3][5][2][6]

Os edifícios foram novamente modificados no século XIX, resultando na perda do altar-mor original da igreja. Entre 1885 e 1894 foi usado pelo governo, que instalou no convento uma escola de aprendizes marinheiros e um hospital militar. A posse retornou para a igreja por intervenção do 1º Bispo da Paraíba, Dom Adauto de Miranda Henriques, que transformou o conjunto em seminário. Nesta função permaneceu até 1964, mas depois o governo novamente o utilizou para instalar algumas instituições: o Museu do Estado da Paraíba, a Escola Estadual do Róger e a Escola de Teatro Piollin. Em 1979 foi fechado para restauro e em 6 de março de 1990 foi reinaugurado como Centro Cultural.[1][6][4]

Importância artística

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Detalhe da Glorificação dos Santos Franciscanos, no teto da igreja
 
Glória do Espírito Santo, detalhe do teto da sacristia

O conjunto arquitetônico foi considerado por Germain Bazin como o mais perfeito representante da escola franciscana de arquitetura do nordeste brasileiro. Seu estilo é Barroco-Rococó. O teto da igreja é decorado com uma das mais importantes pinturas de arquitetura ilusionística do Barroco brasileiro, mostrando a cena da Glorificação dos Santos Franciscanos. A tradição a atribui a José Joaquim da Rocha (1737-1807), fundador da Escola Baiana de Pintura, mas ainda há muita polêmica a este respeito. A pesquisadora Carla Mary S. Oliveira, docente do Departamento de História da UFPB, em dois estudos tratando especificamente do assunto defendeu a teoria de que seu autor deve ser Manuel de Jesus Pinto (?-c.1815/1817), artífice recifense que prestou serviços à Ordem 3ª franciscana em Pernambuco, mas também já foi proposto o nome de José Teófilo de Jesus (1758-1847), outro expoente da Escola Baiana de Pintura do Século XVIII e discípulo de José Joaquim da Rocha. Outros espaços também possuem importantes tetos pintados.[2][5]

Atualmente o claustro é a parte mais antiga, terminado em torno de 1730.[7] Revela influência mourisca e é constituído por um pátio quadrado cercado de uma galeria coberta, para onde se abrem as celas. Seus azulejos das paredes laterais são decorados com motivos vegetais. No interior da igreja e no grande adro também há vários painéis azulejados. Na primeira retratam a história de José do Egito, atribuídos ao mestre português Teotónio dos Santos (1688-1762)[8][9], e no segundo, cenas da Paixão de Cristo, de autoria de Policarpo de Oliveira Bernardes (1695-1778). A fachada, em triângulo escalonado, com uma galilé de cinco arcos na base, é ornamentada com motivos vegetais, predominando o caju, uma árvore comum no nordeste. O púlpito da igreja foi considerado pela Unesco único no mundo pelo esplendor de sua talha. [3][4]

Muito já foi escrito sobre a construção, considerada uma obra de arte desde o início, e Carla Mary Oliveira afirmou que já foram usados os adjetivos de "harmonia, formosura, graciosidade, grandiosidade" para louvá-la. E para ela, "é certo que até hoje ela emociona quem chega aos pés do cruzeiro monumental, à entrada do adro".[2] Mário de Andrade, admirado, assim o descreveu:

"Chego no pátio do convento de S. Francisco e paro assombrado.... Do Nordeste à Bahia não existe exterior de igreja mais bonito nem mais original que este. E mesmo creio que é a igreja mais graciosa do Brasil – uma gostosura que nem mesmo as sublimes mineirices do Aleijadinho vencem em graciosidade. Não tem dúvida que as obras de Aleijadinho são de muito maior importância estética, histórica, nacional e mesmo as duas S. Francisco de Ouro Preto e S. João Del Rei serão mais belas, porém esta da Paraíba é graça pura, é moça bonita, é periquito, é uma bonina. Sorri.
"O interior é irregular e já está bem estragado por consertos e substituições. Assim mesmo possui um púlpito, joia de proporção e desenho. As pinturas também são excelentes.... Os azulejos são dos mais ricos que já vi, suntuosos. O pátio exterior é murado por eles também e mostra nichos com cenas da Paixão ainda em azulejos magnificamente desenhados e que assim, emoldurados pelos nichos e distantes uns dos outros, a gente pode isolar, contemplar e gozar bem.
"Na frente de tudo o cruzeiro é um monólito formidável. Estou assombrado. Paraíba possui um dos monumentos arquitetônicos mais perfeitos do Brasil. Eu não sabia... Poucos sabem..." [2]

O Centro Cultural

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Cruzeiro da Igreja de São Francisco, em João Pessoa.

Embora permaneça um patrimônio da Arquidiocese da Paraíba, o Centro Cultural São Francisco é mantido através de convênio com um grupo de instituições: o Estado da Paraíba, a Prefeitura Municipal de João Pessoa, a Universidade Federal da Paraíba, a Fundação Joaquim Nabuco e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O Centro inclui uma galeria-museu de arte popular, um museu de arte sacra com peças de várias procedências, a Galeria de Pedra, dedicada à arqueologia do monumento, espaços de exposições e eventos, um centro de restauro e biblioteca, além de apresentações musicais regulares, às terças e sextas, das 10h às 12h30, do grupo Suoni della Chiesa, que recebe os visitantes do centro ao som de música barroca e sacra.[6][4]

Ver Também

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Referências

  1. a b Moraes, Ronei Marcos de. Igreja de São Francisco - Convento de Santo Antônio. Departamento de Estatística - UFPB
  2. a b c d e Oliveira, Carla Mary S. "A Glorificação dos Santos Franciscanos do Convento de Santo Antônio da Paraíba: algumas questões sobre pintura, alegoria barroca e produção artística no período colonial". In: Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Outubro/ Novembro/ Dezembro de 2006 Vol. 3 Ano III nº 4
  3. a b c Convento e Igreja de Santo Antônio e Casa de Oração e claustro da Ordem Terceira de São Francisco (João Pessoa, PB). Iphan
  4. a b c d Centro Cultural São Francisco: O barroco e o seu esplendor. Folheto do Centro Cultural São Francisco, s/d
  5. a b Oliveira, Carla Mary S. "Circulação de artífices no Nordeste colonial: indícios da autoria do forro da igreja do convento de Santo Antônio da Paraíba". In: 'Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Outubro/ Novembro/ Dezembro de 2009 Vol. 6 Ano VI nº 4
  6. a b c História. Centro Cultural São Francisco
  7. Moura Filha, Maria Berthilde. "Registros dos franciscanos em Pernambuco e Paraíba: arquitetura e identidade". In: Ferreira-Alves, Natália Marinho (coord.). III Seminário Internacional Luso-Brasileiro "Os Franciscanos no Mundo Português: Artistas e Obras". vol. I. CEPESE - Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade, Rio de Janeiro, 24 a 26 de Novembro de 2008, p. 184
  8. Meco, José. “A expansão da azulejaria portuguesa”. Oceanos, Lisboa, n. 36/37, out. 1998/ mar. 1999, p. 08-17.
  9. Meco, José. Azulejaria portuguesa. 3. ed. Lisboa: Bertrand, 1989.

Ligações externas

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