Jardins de Mecenas

Jardins de Mecenas (em latim: Horti Maecenatis) eram jardins de propriedade do rico Caio Cílnio Mecenas (c. 68–8 a.C.), um poderoso conselheiro e amigo do imperador Augusto, localizado no monte Esquilino de Roma, perto da Porta Esquilina dos dois lados da Muralha Serviana. A área corresponde, a grosso modo, ao ângulo sudoeste da moderna Piazza Vittorio Emanuele II e fazia fronteira (a leste) com os Jardins Lamianos segundo Fílon de Alexandria.[1]

Jardins de Mecenas
Jardins de Mecenas
Cabeça de uma amazona, uma das várias obras de arte encontradas no local.
Jardins de Mecenas
Localização (à esquerda do local indicado pela seta)
Informações gerais
Tipo Jardim
Construção 35 a.C.
Promotor Caio Cílnio Mecenas
Geografia
País Itália
Cidade Roma
Localização III Região - Ísis e Serápis
V Região - Esquilino
Coordenadas 41° 53′ 38,4″ N, 12° 30′ 05,04″ L
Jardins de Mecenas está localizado em: Roma
Jardins de Mecenas
Jardins de Mecenas

Jardins da Roma Antiga

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Em Roma, era costume chamar de horti (singular: hortus) as residências dotadas de um grande jardim (hortus significa "jardim") localizadas dentro da cidade, mas nos subúrbios. Os jardins eram lugares de lazer, onde era possível aproveitar o isolamento e a tranquilidade sem a necessidade de grandes viagens.[2]

A parte mais importante dos horti era, sem dúvida, a vegetação, geralmente composta por folhagens espessas podadas em formas geométricas ou animais segundo os ditames da ars topiaria. Entre a vegetação ficavam pavilhões, pórticos de passeio com proteção contra o sol, fontes, termas, pequenos templos e estátuas, geralmente cópias romanas de originais gregos. O primeiro jardim foi o suntuoso Jardim de Lúculo, no monte Píncio,[2] seguido logo depois pelo Jardim de Salústio.

História

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Entre 42 e 35 a.C., Mecenas construiu seus jardins e sua villa no Esquilino, recuperando a área que era ocupada pela antiga necrópole, o que lhe valeu uma menção pelo poeta Horácio.[3] A recuperação consistiu provavelmente em uma movimentação de terra de consideráveis proporções, mas a memória da antiga utilização funerária não foi de todo perdida, pois Mecenas especificou um local para abrigar algumas lápides funerárias antigas.[4]

 
Relevo de uma ménade dançando.

Acredita-se que Mecenas tenha sido o primeiro romano a construir uma piscina de água quente, provavelmente nos seus jardins.

Depois da morte de Mecenas, os seus jardins passaram para as mãos de Augusto. O enteado dele e futuro imperador Tibério (r. 14-37) passou bastante tempo ali depois de seu retorno a Roma (2 d.C.) vindo de seu auto-exílio na ilha de Rodes.[5]

Nero incorporou os jardins à sua residência no Palatino através do Palácio Transitório (Domus Transitoria)[6] e foi do alto de uma torre que provavelmente ficava ali que ele famosamente observou o grande incêndio de 64.[7][8]

Contudo, os Jardins de Mecenas eram vizinhos da propriedade de Lúcio Élio Lamia (os Jardins Lamianos), o que torna difícil conciliar as indicações topográficas fornecidas pelos autores antigos para determinar seu local exato. Os topógrafos não estão em consenso sobre a questão de os Jardins se estenderem pelos dois lados do áger, ao norte e ao sul da Porta Esquilina. O fato, porém, de muitas putículos ("valas comuns") da antiga Necrópole do Esquilino terem sido encontradas perto do canto noroeste da Piazza Vittorio Emanuele II, que fica fora da Porta Esquilina e do áger e a norte da Velha Via Tiburtina sugere que é provável que os Jardins de Mecenas tenham se estendido para norte da porta e da via, ocupando os dois lados da já inútil Muralha Serviana.[9]

No século II, os Jardins de Mecenas foram adquiridos por Marco Cornélio Frontão (c. 100–166), um famoso retórico e professor de Marco Aurélio e Lúcio Vero.[10] Uma fístula aquária[11] com o nome de Frontão foi recuperada perto do Auditório de Mecenas, a pouca distância do no qual a Via Merulana moderna cruza com a Muralha Serviana.

Vestígios

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O único vestígio arqueológico monumental conservado da villa de Mecenas é o já citado Auditório de Mecenas, um triclínio de verão semi-hipogeu decorado com pinturas de jardins e decorado com pequenas esculturas e fontes. As pinturas são da época do próprio Mecenas e do primeiro decênio do século I, quando os jardins foram incorporados ao domínio imperial.

É duvidoso que a chamada Casa Tonda, um sepulcro romano do final do período republicano que ficava no trajeto da antiga Via Labicana (moderna Via Principe Eugenio) e chamado tradicionalmente de "Túmulo de Mecenas" tenha feito parte dos jardins[a]. Este monumento, do qual restava apenas a fundação (não visível) no ângulo oriental da Piazza Vittorio Emanuele II, foi removido em 1886, depois de muita polêmica, durante as obras de sistematização da praça.[13]

Obras de arte

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As diversas obras de arte recuperadas principalmente na área das já demolidas Villa Caserta e Villa Palombara, no final do século XIX (durante as obras para criação do novo bairro do Esquilino), são testemunhas do gosto por coleções de Mecenas e do luxo com que ele decorou sua villa e seus jardins. Muitas destas obras foram recuperadas em fragmentos reutilizados como material de construção em muros da Antiguidade Tardia, sobretudo no Esquilino.[14] Entre elas estavam a fonte em forma de um corno (rhytón) assinada pelo artista grego Pôncio,[15] um refinado relevo de um ritual dionísiaco de modelo helenístico do século II a.C,[16] a chamada estátua de "Sêneca moribundo", um relevo com uma ménade dançando inspirado por um modelo grego do século V a.C., uma cabeça de uma amazona, cópia de um original do século V a.C,[17] a estátua de Marsias em mármore pavonazzetto e uma estátua de cães em «mármore verde» (na realidade serpentinite) conhecido por serpentino moschinato.[18]

O grupo escultório conhecido como "Auriga do Esquilino", uma obra de notável valor artístico do início do período imperial no estilo do século V a.C., é, assim como a já citada estátua de Marsias, um bom exemplo da recuperação de uma obra a partir de fragmentos remontados a partir de várias escavações na região.[19]

Outras obras notáveis, que denotam uma contínua referência à arte grega, são representadas por um grupo de lápides funerárias de origem ática e valiosas cópias de originais gregos, como a estátua de Deméter ou a do chamado "Hércules Combatente", que é uma cópia de um original do século V a.C.[20]

Diagrama da Casa Dourada

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  1. Sabemos que o túmulo do poeta Horácio ficava extremis Esquiliis, iuxta Maecenatis tumulum ("no extremo do Esquilino, ao lado do túmulo de Mecenas")[12]

Referências

  1. Fílon de Alexandria, Legatio ad Gaium 351.
  2. a b «Vivere a Roma 2000 anni fa» (em italiano) 
  3. Horácio, Sátiras I, 8, 14
  4. Malcolm Bell III, Un gruppo di stele greche dell'Esquilino e il cimitero di Mecenate em Horti Romani (1998), p. 295-314.
  5. Suetônio, Vidas dos Doze Césares, Vida de Tibério III, 15.
  6. Tácito, Anais XV, 39.
  7. Suetônio, Vidas dos Doze Césares, Vida de Nero VI, 38: turris Maecenatiana
  8. Horácio, Carmina III, 29, 10: molem propinquam nubibus arduis.
  9. Rodolfo Lanciani (1874). Antica sala da recitazioni, ovvero Auditorio, scoperto fra le ruine degli Orti mecenaziani, sull'Esquilino Arquivado em 20 de dezembro de 2020, no Wayback Machine.. Bullettino della Commissione archeologica comunale di Roma 2 (3): pp. 166‑171; Otto Ludwig Richter, Topographie der Stadt Rom, Munchen, C.H. Beck, 1901, p. 313.
  10. Frontão, Epistulae ad Marcum Caesarem I, 8 p. 23 N.
  11. CIL VI, 7438.
  12. Suetônio, De Viris Illustribus. De poetis. Vita Horati 20.
  13. Emanuele Gatti, La "Casa Tonda" em Roma Capitale (1983), p. 165-166.
  14. Robert Coates-Stephens (2001). "Muri dei bassi secoli in Rome": observations on the re-use of statuary in walls found on the Esquiline and Caelian after 1870. Journal of Roman Archaeology 14: pp. 217-238. ISSN 1047-7594.
  15. «Fontana a forma di corno potorio (rhytón) firmata da Pontios» (em italiano). Museus Capitolinos 
  16. «Rilievo con iniziazione dionisiaca» (em italiano). Museus Capitolinos 
  17. «Testa di Amazzone» (em italiano). Museus Capitolinos 
  18. «Statua di cane» (em italiano). Museus Capitolinos 
  19. Eugenio La Rocca, L'auriga dell'Esquilino, Roma, L'Erma di Bretschneider, 1987. ISBN 88-7062-639-3
  20. «Statua di Ercole combattente» (em italiano). Museus Capitolinos 

Bibliografia

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  • Cianfriglia, Laura (1976–1977). Horti di Mecenate (em italiano). [S.l.]: Istituto di Topografia Antica, Università di Roma I, Facoltà di Lettere e Filosofia, A.A. 
  • Colini, Antonio Maria (1979). «La torre di Mecenate». Rendiconti dell'Accademia dei Lincei (em italiano). 35: 239ss. ISSN 0391-8181 
  • Sartorio, Giuseppina Pisani; Quilici, Lorenzo, eds. (1983). L’archeologia in Roma capitale tra sterro e scavo. Roma Capitale 1870 – 1911 (em italiano). catalogo della mostra (Roma, novembre 1983 – gennaio 1984), Venezia: Marsilio. ISBN 88-317-4666-9 
  • Cima, Maddalena; La Rocca, Eugenio (1986). Le tranquille dimore degli dei. Catalogo della mostra (Roma, maggio-settembre 1986) (em italiano). Venezia: Marsilio. ISBN 88-7693-022-1 
  • Cima, Maddalena; La Rocca, Eugenio, eds. (1998). Horti romani (em italiano). Atti del convegno internazionale (Roma, 4-6 maggio 1995), Roma: L'Erma di Bretschneider. ISBN 88-8265-021-9 
  • Cima, Maddalena; Talamo, Emilia (2008). Gli horti di Roma antica (em italiano). Milano: Electa. p. 74–81. ISBN 88-3705-080-1 
  • Häuber, Ruth Christine (1990). «Zur Topographie der Horti Maecenatis und der Horti Lamiani auf dem Esquilin in Rom». Kölner Jahrbuch für Vor- und Frühgeschichte (em alemão). 23: 11-107. ISSN 0075-6512 
  • Häuber, Ruth Christine (1991). Die Horti Maecenatis und die Horti Lamiani auf dem Esquilin in Rom. Geschichte, Topographie, Statuenfunde (em alemão). Colônia: Köln, Universiẗat 
  • Häuber, Ruth Christine (1996). Steinby, Eva Margareta, ed. Lexicon Topographicum Urbis Romae. s.v. Horti Maecenatis (em alemão). III. Roma: Quasar. p. 70-74. ISBN 88-7097-049-3 
  • Lanciani, Rodolfo (1901) [1893]. Forma Urbis Romae. tav. 24 (em italiano). Roma-Milano: [s.n.] 
  • Platner, Samuel Ball (1929). Ashby, Thomas, ed. A Topographical Dictionary of Ancient Rome. s.v. Horti Maecenatis (em inglês). London: Oxford University Press. p. 269 
  • Richardson jr, Lawrence (1992). A New Topographical Dictionary of Ancient Rome. s.v. Horti Maecenatiani (em inglês). Baltimore: JHU Press. p. 200-201. ISBN 0-8018-4300-6 

Ligações externas

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