Jebala
Jebala (em castelhano: Yebala; em árabe: جبالة; romaniz.: Jbala) é um termo de origem árabe que tanto se aplica a uma região histórica e cultural do norte de Marrocos como aos seus habitantes, e que se estende desde Tânger, a norte, até ao rio Uarga, a sul, e até ao Rife central, junto a Taounate,[1] a leste, incluindo as planícies atlânticas desde Tânger a Larache, na foz do rio Lucos.[carece de fontes] Numa aceção mais restrita, estas planícies designadas por Habt, já não fazem parte de Jebala.[1]
Jebalas | |||
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Mapa das cabilas de Jebala | |||
População total | |||
Regiões com população significativa | |||
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Línguas | |||
Dialeto jbeli, árabe | |||
Religiões | |||
Islão sunita | |||
Etnia | |||
Berberes (Gomaras, etc.) |
Outra designação da região usada pelos geógrafos é Península Tingitana, uma reminiscência da província romana Mauritânia Tingitana, um nome com origem no personagem da mitologia grega Tinjis que segundo a lenda teria fundado Tânger.
Os habitantes da região são igualmente chamados Jebalas, Jbalas ou Jebli, sendo esta última designação também usada para o dialeto local, uma espécie de mistura de árabe, berbere rifenho e castelhano. Apesar de quase todos os habitantes serem de amazigues (berberes) ou terem origem berbere, todos estão arabizados e falam árabe desde o século XII ou XIII, por influência das populações vizinhas de Fez, da generalidade do norte de Marrocos e do Al-Andalus.[2] A população total é de cerca de 1 100 000 habitantes.[3]
Etimologia
editarO termo Jbala provém de jbel (montanha em árabe); jbala significa "gente da montanha" ou montanheses. Os homens são chamados jebli e as mulheres jebliya.
A palavra Jebala surge no século XVI ou XVII para designar esta região do norte de Marrocos, substituindo a antiga Gomara, usado por historiadores como Albacri, ibne Caldune e Leão, o Africano. As planícies atlânticas de Tânger a Larache são denominadas historicamente como Habt. A população a que ibne Caldune chamava Gomara coincide aproximadamente com os limites da atual Jebala e é de etnia berbere, pertencente ao ramo dos Masmudas.
História
editarAo longo da História, a região de Jebala assistiu a várias ondas de imigração de árabes e berberes, entre elas os berberes Sanhajas que se fixaram a norte do Uargam nas montanhas Beni Mestara, Beni Mesguilda e Erhuna, os árabes do século VIII, os árabes Banu Hilal no século XI, as dinastias berberes dos almóadas e almorávidas nos séculos XI e XII. A arabização de Jebala começou cedo, no século XI,[2] e foi bastante intensa, principalmente na planícies atlânticas, e não tanto na área mediterrânica de Xexuão e Oued Laou. A rabização intensificou-se na região depois da independência de Marrocos em 1956, sobretudo por via da alfabetização.
Organização administrativa
editarNa estrutura administrativa do estado marroquino, o território Jebala está repartido por uma prefeitura (Tânger-Arzila) e quatro províncias (Fahs Anjra, Tetuão, Larache e Xexuão). Estas, por sua vez, estão divididas em entidades municipais (círculos comunas). Os limites dos territórios controlados pelas cabilas (tribos) jebali na época em que foram instaurados os protetorados francês e espanhol, no início do século XX, foram alterados pela divisões administrativas estabelecidas pelas autoridades coloniais francesas e espanholas antes da indepndência, em 1956, e depois desta pelo estado marroquino.
Os territórios de Jebala incluídos na provícia de Sidi Kacem são os que eram controlados pelas cabilas dos Beni Mestara, Beni Mesguilda e Erhuna quando foram instituídos os protetorados. A distribuição por cabilas de Jebala varia conforme as fontes. A lista de Moulierás, um sociólogo francês que publicou uma obra sobre Jebala no final do século XIX refere 52 tribos, bastante mais do que a chamada "Carta de povoamento do Marrocos Setentrional", publicada em 1991, que refere 44 tribos.
Em 1925, o Tratado de Madrid, assinado por Espanha e França durante a Guerra do Rife, divide as zonas de influência dos dois países sobre Jebala. As aspirações francesas e espanholas sobre o rio Uarga e o curso superior do Lucos estabelecem uma linha que deixa na zona francesa várias cabilas jebali.
Infraestruturas
editarA região de Jebala é uma das mais urbanizadas de Marrocos, com as cidades de Tânger, Tetuão, Larache, Alcácer-Quibir, Xexuão e Ouezzane. A densidade populacional também é das mais altas do país. A sociedade jebali é predominantemente rural e agrícola, cuja economia se baseia numa agricultura de tipo mediterrânico de trigo, oliveira e árvores de fruto. As comunicações são bastante precárias, principalmente nas áreas rurais. As cidades estão ligadas entre si e com os núcleos rurais mais importantes por estradas asfaltadas ou de macadame, mas a maior parte das localidades rurais só são servidas por estradas de terra e há algumas que nem estradas ou psitas têm.
A região é objeto de múltiplos programas de desenvolvimento europeus e é a região de Marrocos que recebe mais cooperação por parte da Espanha. A ação de um grande número de associações locais e estrangeiras e de ONG's espanholas e francesas completa o quadro de ações em prol do desenvolvimento em Jebala.
As taxas de alfabetização são bastante baixas nos meios rurais, principalmente entre as mulheres.
A divisão sexual do trabalho nas zonas rurais faz incidir sobre as mulheres a maior parte das atividades produtivas, tanto domésticas como fora da residência. As mulheres encarregam-se da maior parte dos trabalhos agrícolas e também do artesanato. Um bom exemplo disso é a atividade cerâmica, em riscos de desaparecimento em muitas áreas de Jebala.
Religião
editarA grande maioria da população é muçulmana sunita. O sufismo está muito implantado e existem numerosas zauias em toda a região. O culto dos santos (awliya) tem grande força na zona. As principais figuras deste culto são Mulei Abdalcáder Aljilani (Abde Alcadri Jilani) e Mulei Abde Assalame ibne Mexixe Alami (Abde Assalame ibne Mexixe Alami; 1140-1227). A sepultura deste último encontra-se em Xexuão, o que está na origem do estatuto de cidade sagrada e interdita aos não muçulmanos até ao século XX.
Vestuário
editarO vestuário tradicional das mulheres inclui xailes chamados mendils, feitos de algodão ou lã. De forma quadrangular, estes xailes são usualmente tecidos com riscas brancas e vermelho. São amarrados em volta da cintura para serem usadas como saias, mas também são usados como xailes comuns e para segurar bebés ou mercadorias nas costas ou na frente do corpo.
O peça de roupa tradicional dos homens é a djellaba, uma capa de uma só peça de algodão ou lã, com um capucho com ponta bicuda. Na região de Jebala, é comum que a lã não seja tingida, pelo que as cores mais comuns são o bege e o castanho escuro. Nas cerimónias e festividades religiosas são usadas djellabas brancas.
O calçado tradicional são chinelos de couro com a ponta bicuda e levantada. As cores mais comuns são castanho claro, amarelo e branco.
Os chapéus altos, em forma de pirâmida truncada, feitos em cana, são outra tradição de Jebala, tanto para homens como para mulheres. É frequente que os chapéus femininos sejam decorados com cordões e borlas de lã colorida, principalmente negras, brancas e vermelhas.
Notas e referências
editar- Texto inicialmente baseado na tradução dos artigos «Jebala» na Wikipédia em inglês (acessado nesta versão), «Pays Jebala» na Wikipédia em francês (acessado nesta versão) e «Yebala» na Wikipédia em castelhano (acessado nesta versão).
- ↑ a b Zouggari, A.; Vignet-Zunz, J (1991). «Jbala: Histoire et société». Sciences Humaines (em francês). ISBN 2-222-04574-6
- ↑ a b Lévy, Simon (1996). Repères pour une histoire linguistique du Maroc (em francês). [S.l.]: E.D.N.A. p. 127-137
- ↑ «Jebala of Morocco». Joshua Project (www.joshuaproject.net) (em inglês). U.S. Center for World Mission. Consultado em 10 de fevereiro de 2012