José Geraldo Vieira
José Geraldo Vieira[nota 1][2] (Rio de Janeiro, 1897 – São Paulo, 1977), foi um escritor e tradutor brasileiro. Foi o primeiro tradutor de James Joyce no Brasil,[3] e um dos primeiros escritores brasileiros a serem fortemente influenciados por Joyce.[3]
José Geraldo Vieira | |
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Retrato tirado por Marcio Scavone | |
Nascimento | 16 de abril de 1897 Rio de Janeiro, Brasil |
Morte | 17 de agosto de 1977 (80 anos)[1] São Paulo, SP |
Nacionalidade | brasileiro |
Cidadania | Brasil |
Ocupação | Escritor radiologista crítico de artes plásticas Professor Universitário |
Distinções | Prémio Jabuti 1963 |
Filiação | Partido Comunista Brasileiro (PCB) |
Obras destacadas | A Quadragésima Porta, |
Escola/tradição | Modernismo |
Como escritor, notabilizou-se com romances urbanos onde abordava conflitos nacionais,[1][4] reconstruídos de um cenário metropolitano e internacional.[5]
Vida
editarJosé Geraldo nasceu no Rio de Janeiro, apesar dos boatos de que, na verdade, seria açoriano.[6] Ele formou-se em medicina, atuando como radiologista durante grande parte de sua vida.[6] Atuou ainda como jornalista, na área de crítica de artes plásticas da Folha de S. Paulo.[1][4][7] Posteriormente, foi professor universitário na Faculdade Cásper Líbero.[8]
José filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro pelo qual participou de comícios a fim de concorrer a uma vaga de deputado federal nas eleições gerais no Brasil em 1947. A candidatura acabou não ocorrendo.[6][9]
Ele ocupou a cadeira de número 39 da Academia Paulista de Letras, que já havia pertencido a Monteiro Lobato. Nos anos 50, assumiu o cargo de membro titular da Bienal de São Paulo.
Obra
editarTradução
editarTradutor prolífero, Vieira traduziu mais de 60 obras entre 1944 e 1971.[10] Dentre os autores traduzidos, estão Albert Schweitzer, Alphonse Daudet, Bertrand Russell, Dostoievski, Emil Ludwig, Erskine Caldwell, François Mauriac, Hemingway, Mark Twain, Mika Waltari, Níkos Kazantzákis, Pirandello, Stendhal, Thomas Merton e Tolstoi.[11]
Seu trabalho mais marcante como tradutor ocorreu em 1945 ao traduzir Retrato do Artista quando Jovem (1916) de James Joyce, primeira tradução de Joyce no Brasil.[12]
Ficção
editarVieira foi considerado pela crítica da época um dos mais destacados ficcionistas contemporâneos,[13] cultivou, em mais de 40 anos de carreira, os mais diversos gêneros literários, como poesia, conto, romance, ensaio e biografia, embora tenha se destacado na prosa.[5]
O poema em prosa "O Triste Epigrama", publicado em 1920, marcou definitivamente sua estreia na literatura. A obra, de coloração épica, apresenta como pano-de-fundo elementos pictóricos da Antiga Grécia e seus deuses cultuados.[7] Na trama, um homem solitário e que perdeu a memória perambula pelas ruas da cidade, adernando entre o desvario e a razão.[7] O personagem tem seu destino manipulado ao bel-prazer dos deuses, característica assinalada em citações como esta:
“ | Quem foi feliz atire às ondas o seu anel, para que o olhar dos deuses continue desviado para longe... |
” |
A crítica costuma apontar o "livro-reportagem" A Quadragésima Porta, de 1943, como sua obra de maior expressão.[5] Nele, o escritor retrata o cotidiano de uma agência de notícias internacional, remetendo, em algumas passagens, à história do primeiro escritório de tradução de despachos estrangeiros fundado em 1832 pelo francês Charles-Louis Havas – e que, mais tarde, viria a se transformar na Agência Havas.[5]
Em Mansarda Acesa (1975), reunião de 14 poemas alegóricos sobre os desvãos e a fugacidade da vida, o autor imprime ao texto uma estética classicizante, com profusão de construções metalinguísticas e metaliterárias, aparentada à tensão crítica e problematizadora do neo-realismo reminiscente da década de 1930.[5][7]
Em Território Humano Geraldo Vieira mistura autobiografia e ficção.[14] Esse romance de formação termina com uma tragédia de proporções gregas e cita inúmeras obras do Cânone ocidental.
Características de estilo
editarEm sua maioria, as personagens de José Geraldo Vieira compõem um quadro de ambientação cosmopolita, onde se veem às voltas com questões intemporais arrostadas pela humanidade desde sempre. Como resultado, quase toda aventura ficcional é povoada com representações clássicas de uma burguesia culta e abastada (inspirada na belle époque parisiense) e sua busca incessante por valores.[1][5]
A linguagem é erudita e expressa a riqueza de intenções simbólicas dos cenários e do enredo, contando com arranjos vocabulares soberbamente vergastados.[5] As técnicas de Vieira foram fortemente influenciada por James Joyce, como notou Almeida Sales, que identificou no livro A Túnica e os Dados uma mudança estrutural da técnica novelística brasileira, a partir da influência de Joyce,[15] autor que, de acordo com o próprio Vieira teria sido seu "tratado propedêutico":
“ | É que, à medida que vamos melhorando o nosso artesanato e sofrendo influências, vamos, nós os romancistas, atingindo confluências. Eu, no primeiro livro, me saí bem no episódio que lhe serve de perspectiva. No segundo já desci a dédalos psicológicos e estéticos. No terceiro dei toda a minha capacidade, por fora e por dentro, e quase que A Quadragésima Porta me saiu um “Atlantique”. Agora, em A Túnica e os Dados, tento remodelar minha banca de artesão, untando com poesia uns bonecos tipo tortila Flat(sic) e pretendendo ter aberto nova vereda à novela, meu tratado propedêutico, para isso, tendo sido Ulisses, de Joyce. | ” |
Livros publicados
editar- O Triste Epigrama (poema em prosa, 1920)
- A Ronda do Deslumbramento (contos, 1922)
- A Mulher que Fugiu de Sodoma (romance, 1931)[17]
- Território Humano (romance, 1936)
- A Quadragésima Porta (romance, 1943)[18]
- A Túnica e os Dados (romance, 1947)
- Carta à Minha Filha em Prantos (carta dirigida pelo escritor a sua filha Rosa, 1946)
- A Ladeira da Memória (romance, 1950)[19]
- O Albatroz (romance, 1952)
- Terreno Baldio (romance, 1961)
- Paralelo 16: Brasília (romance, 1966)
- A Mais que Branca (romance, 1974)
- Mansarda Acesa (poemas, 1975)
- Crítica de Arte na Revista Habitat (coletânea de críticas de arte, póstumo, 2012)[20]
- Impressões e expressões (coletânea de textos de crítica literária, crônicas e contos, póstumo, 2016)[21]
Referências
- ↑ a b c d Nunes, Ana. «José Geraldo Vieira». Consultado em 13 de julho de 2010. Arquivado do original em 11 de outubro de 2011
- ↑ «José Geraldo Vieira, Itaú Cultural»
- ↑ a b Quirino, M. T. Retratos de tradutores de James Joyce como agentes da tradução literária no Brasil: um estudo de caso (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo). p. 115 a 150
- ↑ a b Grande Enciclopédia Larousse Cultural 2 ed. São Paulo: Nova Cultural Ltda. 1998. 6.112 páginas. ISBN 85-13-00778-1
- ↑ a b c d e f g Carlos Eduardo Fernandes Netto (2007). "Êxtase e catástrofe na ficção ecumênica de José Geraldo Vieira" (pdf) (português). Mídia eletrônica. UNAR, Araras (SP). Acessado em 1 de junho de 2017.
- ↑ a b c GARCIA, Márcia Aparecida. José Geraldo Vieira (1897-1977), fortuna crítica. Dissertação de mestrado em letras. UNESP-Marília, 2003. Disponível em repositorio.unesp.br
- ↑ a b c d e Isabel Gardenal (16 de junho de 2005). «Pós-graduandos do IEL 'escavam' produções de José Geraldo Vieira». Unicamp. Consultado em 13 de julho de 2010[ligação inativa]
- ↑ «Em homenagem, a Fundação Cásper Líbero nomeou sua biblioteca com o nome de Geraldo Vieira, Sete décadas do local que mantém rico acervo da Faculdade Cásper Líbero.»
- ↑ «Jorge Amado, Entrevista 1991». Folha de S.Paulo
- ↑ Quirino, M. T. Retratos de tradutores de James Joyce como agentes da tradução literária no Brasil: um estudo de caso (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo). p. 128
- ↑ Quirino, M. T. Retratos de tradutores de James Joyce como agentes da tradução literária no Brasil: um estudo de caso (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo). p. 117
- ↑ Quirino, M. T. Retratos de tradutores de James Joyce como agentes da tradução literária no Brasil: um estudo de caso (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo). p. 133
- ↑ MILLIET, S. Diário crítico de Sérgio Milliet. Volume II. 2.ed. São Paulo: Martins, 1981.
- ↑ Geraldo Vieira: Território humano
- ↑ Publicados na contracapa em VIEIRA, José Geraldo. A Mulher que Fugiu de Sodoma. 3ª. ed. São Paulo: Martins.
- ↑ VIEIRA,José Geraldo. “J. L. C.”, in GÓES,1979, p. 107
- ↑ Vieira, José Geraldo. A mulher que fugiu de Sodoma. Campinas, SP: Sétimo Selo. ISBN 9786588732229
- ↑ Vieira, José Geraldo. A quadragésima porta. Campinas, SP: Sétimo Selo. ISBN 9786588732311
- ↑ Vieira, José Geraldo (2021). A ladeira da memória. Campinas, SP: [s.n.] OCLC 1289502667
- ↑ Vieira, José Geraldo (2012). Crítica de arte na Revista Habitat. José Armando Pereira da Silva, Márcio Scavone. São Paulo, SP, Brasil: EDUSP. OCLC 849745209
- ↑ Vieira, José Geraldo (2016). Impresões & expressões. Curitiba: [s.n.] OCLC 1090813988
Referências citadas
Notas
- ↑ Nome Completo:José Geraldo Manuel Germano Correia Vieira Machado Drummond da Costa
Bibliografia
- FERNANDES NETTO, Carlos Eduardo. Prosa de ficção brasileira sobre a Segunda Guerra Mundial. Literatura e Autoritarismo (ISSN 1679-849X), Santa Maria, n. 13, p. 6-21, jan.-jun. 2009. Disponível em: ufsm.br - pdf Acesso em: 2 jun. 2017.
- Quirino, M. T. Retratos de tradutores de James Joyce como agentes da tradução literária no Brasil: um estudo de caso (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo) Disponível em: - pdf Acesso em: 2 jun. 2021.