Lista de encouraçados do Brasil

A partir de 1865, o Brasil passou a comissionar navios encouraçados em sua armada. As embarcações caracterizadas como encouraçados pela marinha, construídas entre os anos 1865 e 1875, eram embarcações de couraça (blindagem) mista de madeira, ferro, cobre ou aço. Internacionalmente, esse tipo de embarcação era denominada ironclad.[1] O primeiro encouraçado brasileiro foi o Brasil, construído nos estaleiros franceses da Societé Nouvelle des Forges et Chantiers. Seu desenvolvimento e construção se deu devido ao atrito que o império brasileiro tinha com os ingleses na chamada Questão Christie. O navio acabou por combater apenas na Guerra do Paraguai.[2] Posteriormente, o império solicitou a construção de seus próprios encouraçados ainda em 1865. O Tamandaré foi o primeiro encouraçado construído no país, seguido do Barroso e Rio de Janeiro. Esses navios foram construídos nos estaleiros do Arsenal de Marinha da Corte, Rio de Janeiro.[3] Os navios compartilhavam algumas semelhanças entre si, mas com mudanças significativas em tamanho e armamento. Ambas as embarcações combateram na Guerra do Paraguai.[4] Foi neste conflito que o Rio de Janeiro foi perdido, sendo o único entre os encouraçados brasileiros construídos durante os combates afundado pelos paraguaios.[5][6]

Minas Geraes nos anos 1940

Durante a construção destes, o império adquiriu da Inglaterra o encouraçado Bahia. Pelas suas características foi qualificado como monitor encouraçado. Combateu na Guerra do Paraguai e no levante de 1892 no Mato Grosso. O Bahia foi o primeiro de uma série de encouraçados encomendados pelo Paraguai, antes da guerra, que o Brasil adquiriu pelo fato do primeiro não ter conseguido efetuar o pagamento pelas embarcações devido ao conflito. Seguiu-se os encouraçados Lima Barros, navios da Classe Mariz Barros e Cabral e o Silvado. Ironicamente, todos eles combateram o país que os encomendou.[7][8][9][10] Para atender a necessidade da marinha de navios blindados de calados rasos e de resistir a grandes incêndios, foram projetados monitores encouraçados baseados nas experiências navais da Guerra Civil Americana e da própria Guerra do Paraguai. Assim, surgiu a classe Pará, composta por seis monitores encouraçados mais adequados às condições do conflito.[11][12] O último encouraçado encomendado durante o conflito foi o Sete de Setembro, porém só foi completado quatro anos após o final da guerra, por causa da indecisão sobre o tipo de armamento que deveria ser instalado.[13][14] Em 1872, o Brasil encomendou o encouraçado Independência para fazer frente à Argentina visto que, à época, havia certa tensão entre os dois países. A embarcação seria a maior entre os navios da Armada Imperial Brasileira, porém durante a fase de lançamento, o navio foi avariado e, posteriormente, foi incorporado à Marinha Real Britânica.[15][16]

Entre 1874 e 1875, chegaram os encouraçados da classe Javari: Javari e Solimões. Os navios dessa classe figuraram entre os encouraçados que compunham a Esquadra de Evoluções, grupo dos mais modernos navios da armada imperial. Os outros dois encouraçados da esquadra eram o Sete de Setembro e o Riachuelo.[17][18] Esse último, construído em 1883, estava entre os navios mais poderosos da época, junto com Aquidabã de aparência semelhante.[19] Já no período republicano, o país encomendou a estaleiros franceses os encouraçados da classe Deodoro: Deodoro e Floriano. Críticos franceses os categorizaram como encouraçados de segunda categoria, apesar de observarem que era notável como tanta blindagem e armamento pudessem ser transportados em navios de pequenas dimensões.[20] No período de atuação desses dois encouraçados, o Brasil passou a estudar planos de reaparelhamento de sua frota. Em 1906, foram encomendados três grandes encouraçados à Inglaterra: Minas Geraes, São Paulo e Rio de Janeiro. Quando terminados, eram os mais poderosos navios de guerra do tipo dreadnought. Apenas os dois primeiros foram entregues ao Brasil,[21] com o terceiro sendo cancelado em 1910.[22] Em 1911, o Brasil encomendou um segundo encouraçado de nome Rio de Janeiro, porém dificuldades financeiras fizeram com que fosse colocado à venda, com ele sendo comprado em 1913 pelo Império Otomano.[23][24][25][26] Ainda em 1913, encomendou-se também a construção de um encouraçado ainda maior, o Riachuelo, mas devido à Primeira Guerra Mundial, o projeto foi cancelado.[27][28]

Legenda
Armas principais Número e tipo dos canhões da bateria principal
Deslocamento Deslocamento do navio totalmente carregado
Propulsão Número e tipo do sistema de propulsão e velocidade máxima
Batimento Data em que o batimento de quilha ocorreu
Lançamento Data em que o navio foi lançado ao mar
Comissionamento Data em que o navio foi comissionado em serviço
Destino Fim que o navio teve

Ironclads

editar

Brasil

editar
 
Ilustração do Brasil danificado durante a Guerra do Paraguai

O Brasil foi o primeiro navio encouraçado comissionado na Marinha do Brasil. Foi projetado em meio à ruptura de relações entre o Império do Brasil e o Império Britânico, evento conhecido como Questão Christie. A encomenda foi feita ao estaleiro francês Societé Nouvelle des Forges et Chantiers pela quantia de 1 560 000 francos. O Brasil participou das campanhas da Guerra do Paraguai, como as batalhas de Itapirú e Curupaiti em 1866. Em 9 de fevereiro de 1867, foi para o Rio de Janeiro, onde precisou ser reparado. Em 30 de março partiu da capital para se juntar à esquadra que posteriormente forçaria a Passagem de Curupaiti. Em 2 de março de 1868, socorreu os encouraçados Lima Barros e Cabral, que haviam sido abordados de surpresa. Em 10 de abril, participou no bombardeio de Humaitá. Em 16 de agosto, forçou a passagem do Timbó. Em 26 de novembro, forçou o Passo de Angostura. Após o fim da guerra, o Brasil continuou fazendo parte da frota até sua baixa em 1879.[2][29]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [30][31]
Brasil 4 × 70 libras 1 518 t 1 motor de expansão única;
10,5 milhas/h (16,89 km/h)
1864 23 de dezembro de 1864 2 de março de 1865 Desativado em 1879

Tamandaré

editar
 
Ilustração do Tamandaré e Brasil danificados durante a Guerra do Paraguai

O Tamandaré foi o primeiro encouraçado construído no Brasil. Foi encomendado ao estaleiro Arsenal de Marinha da Corte, a um custo de 40 506 libras, em meio à Guerra do Paraguai. O navio foi comissionado em 1865 e foi enviado ao conflito. Em 1866, atacou a fortaleza de Itapirú e nesse ataque, quatro tripulantes do encouraçado morreram, incluindo o comandante tenente Antônio Carlos de Mariz e Barros. Ainda nesse ano, bombardeou a fortaleza de Curuzu em duas ocasiões e, no ano seguinte, os fortes de Curupaití e Timbó. Forçou com sucesso a passagem de Humaitá em 19 de fevereiro de 1868 e, em novembro, bombardeou a capital paraguaia Assunção. Após a guerra, o navio foi destinado à Flotilha do Mato Grosso, com sede em Ladário. Tamandaré foi desativado a 18 de abril de 1879 e posteriormente demolido.[3][32]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [33]
Tamandaré 1 × 70 libras 845 t 1 motor a vapor;
8 nós (15 km/h)
31 de maio de 1865 21 de junho de 1865 16 de setembro de 1865 Desmontado em 1879

Barroso

editar
 
Ilustração do Barroso

Assim como o Tamandaré, Barroso foi construído no estaleiro do Arsenal de Marinha da Corte e lançado em 1865. Envolveu-se na Guerra do Paraguai, ao bombardear diversas posições fortificadas ao longo dos anos de 1866 e 1867. Forçou a passagem de Humaitá, quando três monitores de rio da classe Pará, Rio Grande, Alagoas e Pará, foram amarrados aos encouraçados maiores caso algum motor ficasse inoperacional pelos canhões paraguaios. O encouraçado Barroso liderou juntamente com Rio Grande, seguido por Bahia com Alagoas e Tamandaré com Pará. Após a guerra, foi enviado à Flotilha do Mato Grosso, onde foi descomissionado em 1882.[34][35]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [4]
Barroso 1 × 120 libras 1 354 t 1 motor a vapor;
9 nós (16 km/h)
21 de fevereiro de 1865 4 de novembro de 1865 - Desmontado em 1882
 
Bahia no Rio de Janeiro. Fotografia tirada após 1885

O monitor Bahia foi um navio blindado construído na Inglaterra. Era parte da frota que o Paraguai havia encomendado àquele país, mas não conseguiu efetuar o pagamento por causa da guerra (1864-1870). O Império do Brasil adquiriu o navio e o enviou às campanhas do conflito. O monitor participou dos combates em Itapirú, Passo da Pátria, auxiliando no transporte e desembarque das tropas brasileiras; Curupaití, quando bombardeou o forte e o transpôs em 15 de agosto; Humaitá, na sua transposição e bombardeio; Tebiquary, no forçamento de suas baterias defensivas; Angostura, e por fim, do bombardeio à Assunção. Após o fim da guerra, Bahia foi enviado à Flotilha do Mato Grosso. Em 1892, foi destacado para dar suporte aos legalistas contra insurgentes separatistas de Mato Grosso. Foi desmontado em 1895.[36][10][37][38]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [38]
Bahia 2 × 150 mm 928 t 2 motores a vapor;
14,48 km/h
- 11 de junho de 1865 17 de janeiro de 1866 Descartado em 1895

Lima Barros

editar
 
Ilustração do Lima Barros

Lima Barros foi um monitor encouraçado construído na Inglaterra. Fez parte da frota solicitada pelo Paraguai antes da Guerra da Tríplice Aliança. Devido às dificuldades ocasionadas pelo conflito, o Paraguai não conseguiu efetuar o pagamento pela embarcação, sendo adquirida pelo Brasil. O monitor participou dos combates da guerra a partir de 1866, quando atacou as baterias da fortaleza de Curupaití. Dois anos depois, em março de 1868, o Lima Barros e o Cabral foram atacados por uma frota de mais de 20 canoas paraguaias. Cada canoa levava 12 homens munidos de facões, machadinhas e espadas de abordagem. Os paraguaios abordaram os navios e iniciou-se luta corporal com as tripulações. Os atacantes somente desistiram do assalto após serem desbaratados pelos canhões dos encouraçados Brasil, Herval, Mariz e Barros e Silvado. Após a guerra, o Lima Barros foi enviado para patrulhar a costa entre o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro. O monitor encouraçado foi enviado para desmanche por volta de 1905.[39][10][40][41]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [42][39]
Lima Barros 4 × 150 mm 1 705 t 2 motor a vapor;
20,37 km/h
1864 21 de dezembro de 1865 1866 1905

Rio de Janeiro

editar
 
Ilustração do Rio de Janeiro posto a pique

Terceiro dos encouraçados construídos no Arsenal de Marinha da Corte em 1865. Rio de Janeiro foi enviado à Guerra do Paraguai em maio de 1866. Durante os combates na batalha de Curuzú, o Rio de Janeiro foi atingido por projéteis paraguaios, recuando, em seguida, para reparos. No dia seguinte, em 2 de setembro, enfrentou novamente os canhões da fortaleza, quando tentava se aproximar dos outros navios da frota brasileira, momento em que foi atingido por dois torpedos (minas). O impacto causou uma explosão que partiu o encouraçado ao meio, e afundou em poucos minutos. O afundamento causou a morte de 53 marinheiros. Foi o primeiro e o único encouraçado perdido na guerra.[3][43][44][5][6]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [4]
Rio de Janeiro 2 × 70 libras 1 001 t 1 motor de expansão única;
9 nós (16 km/h)
28 de junho de 1865 18 de fevereiro de 1866 abril de 1866 Afundado em 1866

Classe Mariz e Barros

editar
 Ver artigo principal: Classe Mariz e Barros
 
Ilustração do Herval

A classe Mariz e Barros foram dois navios encouraçados de bateria central, originalmente encomendados pelo Paraguai, vendidos para o Brasil em meio à Guerra do Paraguai: Mariz e Barros e Herval. Os encouraçados foram comissionados em 1866. Tomaram parte no bombardeio da fortaleza de Curupaití em 2 de fevereiro de 1867 e, no dia 15 de agosto, forçaram com sucesso a passagem da fortaleza. Em 2 de março de 1868, o Herval ajudou a repelir a tentativa de abordagem dos encouraçados Lima Barros e Cabral por parte dos paraguaios. Ambas as embarcações participaram do bombardeio de Angostura em 19 de novembro. O Mariz e Barros foi aposentado em 1897 e o Herval em 1885.[36][45][46]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [36][46]
Mariz e Barros 2 × 70 libras 1 196 t Máquinas a vapor alternativa;
10 nós (18,52km/h)
1864 1865 1866 23 de julho de 1897
Herval 1 353 t Descartado em 1885

Classe Cabral

editar
 Ver artigo principal: Classe Cabral
 
Ilustração do Cabral

A classe Cabral foram dois navios encouraçados, originalmente encomendados pelo Paraguai, vendidos ao Brasil em 1865: Cabral e Colombo. Provavelmente estavam em fase de construção ou que os projetos já estavam prontos, uma vez que foram entregues de maneira rápida. As embarcações também combateram na Guerra do Paraguai. Em 2 de fevereiro de 1867, ambos os encouraçados bombardearam a fortaleza de Curupaití, transpondo-a no dia 15 de agosto. O Cabral sofreu tentativa abordagem de cerca de cem paraguaios em canoas em 2 de março de 1868, com o encouraçado sendo ajudado pelo Silvado e Herval. Continuaram os combates ao longo do ano de 1868. Após a guerra, os navios foram designados para o terceiro distrito de defesa de portos do Brasil, região que compreendia desde a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, até a fronteira com a Guiana Francesa. O Colombo foi desativado em 1875 e o Cabral em 1882.[9][8][47][48][49]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [10][36][50][51]
Cabral 8 x 70/68 calibres 1 050 t 2 motores a vapor;
10,5 nós (19 km/h)
- 1865 setembro de 1866 novembro de 1882
Colombo 1 069 t - julho de 1866 fevereiro de 1875

Silvado

editar
 
Ilustração do Silvado

Silvado foi um encouraçado construído em Bordéus, na França, nos estaleiros L'Ocean. Deve seu nome ao primeiro tenente Américo Brasílio Silvado, comandante do encouraçado Rio de Janeiro, por ocasião do afundamento que resultou em sua morte, quando da Batalha de Curuzú. O navio chegou ao Brasil em 25 de agosto de 1866. Em 1867, participou nas ações contra o forte de Curupaití. No ano seguinte, voltou a bombardear o forte e, em seguida, tomou parte nos combates contra as fortalezas de Humaitá e Angostura. Em 1869, ofereceu apoio de transporte às tropas do general José Antônio Correia da Câmara. O encouraçado foi desativado em 1885.[52][36]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [52][36][53]
Silvado 4 × 68 libras 1 150 t 2 motores a vapor

10 nós (18 km/h)

1864 1865 25 de agosto de 1866 Descartado em 1885

Classe Pará

editar
 
Ilustração de um monitor da classe Pará
 Ver artigo principal: Classe Pará (monitores)

A classe Pará foram um grupo de seis monitores encouraçados construídos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, em 1866. Foram projetados especificamente para as condições da Guerra do Paraguai. Os três primeiros finalizados, Pará, Rio Grande e Alagoas, participaram da Passagem de Humaitá, em 19 de fevereiro de 1868, e de diversos outros combates ao longo do ano. Os três últimos, Piauí, Ceará e Santa Catarina, participaram, principalmente, das ações no Rio Manduvirá, em 1869. Após a guerra, os monitores foram distribuídos entre as flotilhas do Alto Uruguai e Mato Grosso.[54][55]

Navio Armas Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [56]
Pará 1 x 70 libras 2 máquinas a vapor

8 nós (14,86 km/h)

8 de dezembro de 1866 21 de maio de 1867 15 de junho de 1867 Descartado de 1884
Rio Grande 17 de agosto de 1867 3 de setembro de 1867 Sucateado em 1907
Alagoas 29 de outubro de 1867 1868 Sucateado em 1900
Piauí 1 x 120 libras 8 de janeiro de 1868 janeiro de 1868 Sucateado em 1893
Ceará 22 de março 1868 5 de maio de 1868 Sucateado em 1884
Santa Catarina 5 de maio de 1868 5 de maio de 1868 Afundou em 1882
 
Sete de Setembro em 1874

Sete de Setembro

editar

Sete de Setembro foi o último encouraçado construído durante a Guerra do Paraguai. Ainda assim, a construção foi finalizada somente em 1874, quatro anos após o fim da guerra, por uma indecisão sobre o tipo de armamento a ser instalado no navio. Em 1884, o encouraçado foi incorporado à Esquadra de Evoluções, com outros quinze navios da frota brasileira. No ano seguinte, foi posto na reserva, permanecendo até 1893, quando foi tomado por rebeldes, durante a Revolta da Armada. Afundou por ocasião da revolta.[13][14][18][57]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [57]
Sete de Setembro 4 x 229 mm 2 174 t 2 motores a vapor

12 nós (22 km/h)

8 de janeiro de 1868 16 de maio de 1874 4 de julho de 1874 Afundou em 1893
 
Independência (HMS Neptune) em 1886

Independência

editar

A encomenda do Independência se deu em um período de tensão entre a Argentina e o Brasil. Porém, essa encomenda encontrou resistência no parlamento imperial. No Senado, discutia-se a real necessidade de um navio de grande porte que poderia ser inadequado à realidade da navegação na região do prata. Questionavam se a aquisição dessa embarcação não seria apenas uma "vangloriosa ostentação militar". Em 1874, quando do lançamento ao mar, o encouraçado foi avariado, o que permitiu o rompimento do contrato com o estaleiro inglês e posterior aquisição pela Marinha Real Britânica.[58]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [59][60][61]
Independência 4 × 12,5 polegadas 8 964 t Máquina a vapor;

14,65 nós (27,13 km/h)

1873 10 de setembro de 1874 - -
 
Javari em data desconhecida

Classe Javari

editar
 Ver artigo principal: Classe Javari

A classe Javari foram dois encouraçados fluviais também destinados à defesa costeira: Javari e Solimões. O Solimões afundou próximo a costa uruguaia em 19 de maio de 1892, em um episódio nunca bem explicado. O Javari participou ativamente da Revolta da Armada em 1893, ainda que não tivesse propulsão própria. Atuou como bateria de defesa da Ponta da Armação, local onde os rebeldes mantinha a maior parte da pólvora usada no conflito. Um projétil, provavelmente da fortaleza de São João, atingiu a popa do encouraçado, partindo-o. Afundou lentamente.[36][62][63][64]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [65][66]
Javari 4 × 10 polegadas 3 700 t Máquinas a vapor alternativas;
11 nós (20 km/h)
- 1874 1875 22 de novembro de 1893
Solimões 3 700 t - 1875 23 de abril de 1875 19 de maio de 1892

Pré-dreadnoughts

editar
 
Riachuelo em 1895

Riachuelo e Aquidabã

editar

Os encouraçados pré-dreadnoughts Aquidabã e Riachuelo são costumeiramente mencionados juntos, pois ambos foram desenhados pelo mesmo projetista e tinham uma aparência semelhante, mas possuíam diversas características distintas.[67][68][19][69][70] Foram os mais poderosos navios do hemisfério ocidental, quando finalizados. Fruto do programa de modernização que a Armada Imperial Brasileira iniciou no começo dos anos 1880. O Aquidabã participou da Revolta da Armada, quando foi torpedeado pelo contratorpedeiro Gustavo Sampaio, mas resistiu. Em 1906, houve uma violenta explosão no paiol de munições da torre de ré, quando estava ancorado à baía de Jacuecanga, e afundou, levando à morte 212 tripulantes. O Riachuelo estava na França, quando dos acontecimentos da revolta. Foi desativado em 28 de março de 1910 e vendido para desmanche na Europa. Afundou antes de chegar ao destino.[19][71][72][73][74]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [75][76]
Riachuelo 4 × 229 mm 6 100 t Máquinas a vapor;

16 nós (30 km/h)

31 de agosto de 1881 7 de junho de 1883 19 de agosto de 1884 Afundou em 1910
Aquidabã 5 029 t Máquinas a vapor;

14,5 nós (26,85 km/h)

18 de junho de 1883 17 de janeiro de 1885 14 de agosto de 1885 Afundou em 21 de janeiro de 1906

Classe Deodoro

editar
 Ver artigo principal: Classe Deodoro
 
Deodoro em data desconhecida

Os encouraçados da classe Deodoro, Deodoro e Floriano, foram construídos nos estaleiros da companhia Société Nouvelle des Forges et Chantiers de la Méditerranée no final da década de 1890. O Deodoro bombardeou a Escola Militar da Praia Vermelha, visto que seus alunos se empreenderam em uma revolta contra o governo brasileiro. Foi um dos navios tomados pelos rebeldes na Revolta da Chibata. Em 1924, Deodoro foi vendido ao México, onde atuou principalmente como navio de instrução até sua baixa em 1934. O Floriano participou de diversas comissões e exercícios navais até sua desincorporação em 1934.[77][20][78][79][80]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [80][81]
Deodoro 2 × 220 mm 3 162 t Máquinas a vapor de tríplice expansão;

15 nós (27,78 km/h)

1896 20 de junho de 1898 1900 Vendido em abril de 1924
Floriano - 6 de julho de 1899 31 de dezembro de 1900 Descomissionado em 2 de abril de 1936

Dreadnoughts

editar
 
Minas Geraes em 1909

Classe Minas Geraes

editar
 Ver artigo principal: Classe Minas Geraes

A classe Minas Geraes foram dois encouraçados (previamente três) do tipo Dreadnought que a Marinha do Brasil operou. Os navios, Minas Geraes, São Paulo e Rio de Janeiro, foram frutos do plano naval de 1906, para a aquisição de modernos navios encouraçados. Somente os dois primeiros foram entregues ao Brasil, com o último sendo cancelado devido o seu projeto já estar obsoleto perto das novas tecnologias navais. Os dois encouraçados participaram ativamente da Revolta da Chibata em 1910, do patrulhamento da costa brasileira durante a primeira guerra mundial e como fortaleza flutuante, durante a segunda guerra mundial. O Minas Geraes foi descomissionado em 1952 e o São Paulo em 1947.[82][22][83][84][85][86]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [22][85][86][87]
Minas Geraes 12 x 305 mm 21 200 t Máquinas a vapor de tríplice expansão;

21 nós (36,29 km/h)

17 de abril de 1907 10 de setembro de 1908 18 de abril de 1910 Desmontado em 1952
São Paulo 21 500 t 30 de abril de 1907 19 de abril de 1909 12 de julho de 1910 Afundou em 1951
Rio de Janeiro - - - - - - Cancelado em maio de 1910
 
HMS Agincourt (ex-Rio de Janeiro) em 1918

Rio de Janeiro

editar

Dificuldades financeiras, além do projeto já estar obsoleto, levaram o governo brasileiro a cancelar o terceiro encouraçado da classe Minas Geraes em 1910. Tal dificuldade não impediu que se encomendasse um novo encouraçado, do mesmo nome do antecessor, Rio de Janeiro, à Inglaterra. O novo navio tinha mais armamentos, ainda que de mesmo calibre, como bateria principal, e maior deslocamento. A situação financeira do Brasil foi piorando com a redução das exportações de café e borracha e a recessão econômica europeia depois da Segunda Guerra Balcânica, que contribuiu para redução da capacidade do continente de fornecer novos empréstimos. Esses eventos foram fundamentais para a decisão de vender o encouraçado Rio de Janeiro, que fora comprado pelo Império Otomano pela soma de 2,75 milhões de libras. Posteriormente, a Inglaterra tomou o navio e o renomeou para HMS Agincourt.[88][89][23][90][25][91][92]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [90]
Rio de Janeiro 14 x 305 mm 30 250 t turbinas a vapor

22 nós (40,74 km/h)

setembro de 1911 22 de janeiro de 1913 - Vendido em 1913
 
Desenho do Riachuelo n.º 781

Riachuelo

editar

O governo brasileiro solicitou aos estaleiros ingleses Vickers-Armstrongs projetos para o desenvolvimento de um novo encouraçado, que seria denominado Riachuelo. Os desenhos variavam de 26 a 30,5 mil toneladas de deslocamento e de 8 a 10 canhões de 15 polegadas. Porém, devido à Primeira Guerra Mundial, os trabalhos do Riachuelo sofreram atrasos, com a construção sendo oficialmente cancelada em 13 de maio de 1915.[28][27]

Navio Armas Deslocamento Propulsão Serviço Fontes
Batimento Lançamento Comissionamento Destino [93][94]
Riachuelo 8 × 381 mm 30 500 t 4 turbinas a vapor

23 nós (42,59 km/h)

10 de setembro de 1914 (mas não ocorreu) - - Cancelado em 1915

Ver também

editar

Referências

  1. Val 2015, p. 46.
  2. a b Marinha do Brasil-A, p. 1.
  3. a b c Araújo 2015, pp. 11-12.
  4. a b c Gratz 1999, p. 144.
  5. a b Meister 1977, p. 12.
  6. a b Gonçalves 2009, p. 29.
  7. Marinha do Brasil-B, p. 1.
  8. a b Gratz 1999, pp. 141-142.
  9. a b Jaceguay & Oliveira 1900, p. 115.
  10. a b c d Martini 2014, p. 127.
  11. Silva 2018, p. 24-27.
  12. Martini 2018, pp. 111.
  13. a b Martini 2014, pp. 10-11,137.
  14. a b Gratz 1999, p. 159-160.
  15. Parkes 1990, pp. 267, 276-277.
  16. Martini 2014, p. 155.
  17. Mendonça et al. 1959, pp. 149, 242.
  18. a b Val 2020, p. 4.
  19. a b c Parkinson 2008, p. 60.
  20. a b Scientific American 1900, p. 184.
  21. Araújo 2005, pp. 74-75, 78.
  22. a b c Topliss 1988, pp. 249, 254.
  23. a b Topliss 1988, p. 280.
  24. Burt 1986, p. 245.
  25. a b Martin 1967, pp. 36-37.
  26. Hough 1967, pp. 72, 75.
  27. a b Brook 1999, p. 153.
  28. a b Topliss 1988, pp. 285-286.
  29. Marinha do Brasil-A, pp. 5-6.
  30. Gardiner & Gray 1979, p. 405.
  31. Marinha do Brasil-A, pp. 2, 6.
  32. Gratz 1999, p. 149.
  33. Gratz 1999, pp. 144, 149.
  34. Gratz 1999, pp. 149-150.
  35. Meister 1977, p. 13.
  36. a b c d e f g Gardiner & Gray 1979, p. 406.
  37. Gratz 1999, p. 141.
  38. a b Marinha do Brasil-H.
  39. a b Gardiner 1979, p. 404.
  40. Donato 1996, pp. 539-540.
  41. Martini 2014, p. 149.
  42. Poder naval-8.
  43. Doratioto 2002, p. 278.
  44. Gratz 1999, pp. 144, 150.
  45. Bittencourt 2008, p. 104.
  46. a b Mendonça et al. 1959, pp. 123, 177.
  47. Martini 2014, pp. 127, 149.
  48. Marinha do Brasil-C, p. 2.
  49. Marinha do Brasil-D, p. 2.
  50. Marinha do Brasil-C, pp. 1-2.
  51. Marinha do Brasil-D, pp. 1-2.
  52. a b Mendonça et al. 1959, p. 241.
  53. Silverstone 1984, p. 39.
  54. Gratz 1999, pp. 149-150, 153, 157.
  55. Barros 2016, pp. 76-87.
  56. Gratz 1999, pp. 154-157.
  57. a b Poder naval-3.
  58. Martini 2014, pp. 154, 156.
  59. Parkes 1990, pp. 276, 278-279.
  60. Burt 1986, p. 22.
  61. The Times 1875, p. 6.
  62. Marinha do Brasil-E, p. 2.
  63. Naufrágios do Brasil-1.
  64. Naufrágios do Brasil-2.
  65. Poder naval-4.
  66. Poder naval-5.
  67. Sondhaus 2001, pp. 238, 257.
  68. Brazil 1997, p. 42.
  69. Herder 2019, p. 5.
  70. Martini 2014, p. 163.
  71. Lima Duarte 1880, p. 22.
  72. The New York Times 1894, p. 2.
  73. Marinha do Brasil-F, p. 5.
  74. Marinha do Brasil-G, p. 3.
  75. Marinha do Brasil-G, pp. 1-3.
  76. Marinha do Brasil-F, pp. 1-2, 5.
  77. Gardiner & Gray 1979, p. 407.
  78. Escobar 1954, p. 33.
  79. Nascimento 2010, p. 22.
  80. a b Poder naval-6.
  81. Poder naval-7.
  82. Filho 2010, p. 97.
  83. Morgan 2014, pp. 40-42.
  84. Whitley 1998, p. 29.
  85. a b Poder naval-2.
  86. a b Poder naval-1.
  87. Burt 1986, pp. 244-245, 250.
  88. Topliss 1988, pp. 247-249.
  89. Vanterpool 1969, p. 40.
  90. a b Gardiner & Gray 1985, p. 37.
  91. Hough 1967, pp. 72,75.
  92. Hough 1967, pp. 152-153.
  93. Brook 1999, p. 152.
  94. Tyne Built Ships.

Bibliografia

editar