Luís Cristino da Silva

arquiteto português (1896-1976)

Luís Ribeiro Carvalhosa Cristino da Silva ComSEComIHComIP (Lisboa, 18961976), foi um arquiteto português.

Luís Cristino da Silva

Nascimento 1896
Lisboa
Morte 1976 (80 anos)
Nacionalidade Portugal portuguesa
Ocupação arquiteto
Prémios Medalha de Honra da Sociedade Nacional de Belas Artes 1943
Prémio Valmor e Municipal de Arquitectura 1944
Prémio Nacional de Arte do Secretariado Nacional de Informação 1961

Diplomado pela Escola de Belas Artes de Lisboa em 1919, estudou em Paris entre 1920 e 1925. Fixou-se depois em Lisboa, projetando alguns dos edifícios mais marcantes das décadas seguintes. "Ele foi o autor versátil de uma obra vasta e controversa" (apresentada numa exposição no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian em 1998).[1]

Cristino da Silva foi um dos pioneiros do movimento moderno na arquitetura portuguesa, juntamente com Pardal Monteiro, Cottinelli Telmo, Cassiano Branco, Carlos Ramos e Jorge Segurado.

Contribuiu depois, de forma decisiva, para a fixação dos padrões da arquitetura oficial do Estado Novo, assinando obras que marcaram essa alteração de sensibilidade. Teve importante contribuição para a Exposição do Mundo Português (1940); foi autor do emblemático conjunto urbano da Praça do Areeiro, Lisboa (1938-1943); a partir de 1948 foi arquiteto-chefe do projecto da Cidade Universitária de Coimbra.[2]

Foi professor de Arquitetura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.

Biografia / Obra

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Primeiros anos

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Cineteatro Capitólio, maqueta da versão inicial

Luís Cristino da Silva nasceu em Lisboa, filho e neto de pintores: o avô foi o pintor romântico João Cristino da Silva (1820-1877); o pai foi o pintor João Ribeiro Cristino da Silva (1858-1948), professor e autor da obra Estética citadina.

Em 1919 formou-se em Arquitetura pela Escola de Belas-Artes de Lisboa. Nesse mesmo ano partiu para Roma, onde fez investigação arqueológica. Em 1920 obteve uma bolsa de estudo que lhe permitiu estudar em Paris (até 1925), na École des Beaux Arts, no ateliê de Léon Azéma e depois no de Victor Laloux (antigo mestre de Ventura Terra).

Após o regresso a Lisboa expôs na Sociedade Nacional de Belas Artes diversos projectos realizados durante a estadia em Paris, entre os quais uma «Bourse Maritime», de estrutura moderna e monumental que indicia já aspetos nucleares da sua obra futura;[3] o acolhimento crítico favorável contribuiu para o arranque da sua carreira profissional. Ainda em 1925 projectou o edifício do Cineteatro Capitólio (1925-1931), caracterizado por uma "volumetria simples e fachada com decorações Art Déco", hoje considerado uma referência arquitetónica do primeiro modernismo português e que sofreu alterações profundas ao longo dos anos que desvirtuaram por completo o traçado de Cristino da Silva.[1] Uma ampla obra de recuperação, realizada já no século XXI (Arq. Alberto Souza Oliveira) restituiu à obra a sua dignidade original, preservando a memória desse espaço emblemático.[4]

Num projeto posterior, para o Liceu de Beja (atual Escola Secundária Diogo de Gouveia), libertou-se da dimensão decorativa ainda vagamente presente no Capitólio, produzindo "uma obra de grande vigor e simplicidade em que os elementos essenciais da composição se constituem em volumes primários articulados entre si e a exploração expressiva dos elementos construtivos toma o lugar das decorações anteriores".[1] Sem concessões ornamentais, de composição assimétrica, funcionalista, em Beja os grandes vãos marcam o desenho da estrutura de betão, "assumindo a relação independente entre planta e elevação".[5]

Da sua fase inicial deve destacar-se ainda a proposta, não construída, para o prolongamento da Avenida da Liberdade, Lisboa (atual Parque Eduardo VII), "de proporções grandiosas e grande teatralidade, em divórcio completo com a escala e caráter da cidade",[1] que apresentou na Exposição dos Independentes, SNBA, 1930.[6]

Maturidade

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Pavilhão de Honra e de Lisboa, Exposição do Mundo Português, 1940

A partir do final da década de 1930 a arquitetura de Cristino da Silva altera-se. Irá desenvolver projectos diversificados, por vezes de grande envergadura e visibilidade, podendo destacar-se os seguintes: Pavilhão de Honra e de Lisboa, Exposição do Mundo Português (1940); conjunto da Praça do Areeiro (1941-1960); filiais da Caixa Geral de Depósitos na Guarda, Castelo Branco e Leiria (1938-1943); traçado da Avenida António Augusto de Aguiar (1943); princípios orientadores para as novas edificações da Universidade de Coimbra (1949-1966); monumento evocativo a Duarte Pacheco, Loulé (1953); projectos do Palácio do Ultramar e da Zona Marginal de Belém (1953-1961) (não construídos).[7]

Figura basilar do primeiro modernismo português, nas décadas de 1940 e 1950 afastou-se das opções iniciais, contribuindo para a configuração do formulário da arquitetura oficial do Estado-Novo. Em 1941 Cristino da Silva afirmava ter descoberto a verdadeira arquitetura moderna na apresentação da exposição sobre a arquitetura alemã dessa época, onde "se expunha a brutal monumentalidade da arquitetura nazi dos grandes parques, estádios olímpicos, alamedas e arcos triunfais, reafirmando o rigor atemporal da Arquitetura clássica monumentalizada numa perversa relação da arquitetura com o Poder".[8] Iria tornar-se num dos mentores (a nível estético, gráfico e arquitetónico), do estilo monumental/tradicionalista, por vezes denominado "Português Suave", que a partir daí (e durante um período dilatado) dominou, em Portugal, a edificação pública e grande parte da privada.[9]

Emblemáticos desta nova postura são a "talentosa colagem"[9] que era o Pavilhão de Honra e de Lisboa da Exposição do Mundo Português – nas palavras de José Augusto França, "o melhor edifício da exposição, e talvez a melhor obra da maturidade de Cristino da Silva" [10] –, e o conjunto da Praça do Areeiro (Praça Francisco Sá Carneiro), Lisboa. Com o seu caráter "historicista-monumental", o Areeiro evoca "temas urbanos da contemporânea Berlim Nazi ou da Espanha Franquista (eixo simétrico e monumental da composição, galeria térreas com arcadas em pedra), em articulação com temas nacionais, como as coberturas em coruchéu piramidal".[9]

Para a Universidade de Coimbra, projeto típico do Estado-Novo – que implicou a destruição de uma vasta área da Alta de Coimbra, "com as suas antigas ruas e edifícios de valor histórico e artístico"[11] –, "Cristino teve papel importante de continuador dos projetos de Cotinelli Telmo, por falecimento deste em 1948",[12] dando continuidade às grandes opções a nível do planeamento urbanístico e impondo a "estética totalitária", grandiosa, dos edifícios.[13]

Em 1933 venceu o concurso para professor de Arquitetura na Escola de Belas-Artes de Lisboa, tendo lecionado essa cadeira do curso de Arquitetura (desde o 2º ano até ao fim do curso), a sucessivas gerações de estudantes [14][15]

Recebeu a Medalha de Honra da Sociedade Nacional de Belas Artes (1943), o Prémio Valmor e o Prémio Municipal de Arquitectura (1944), o Prémio Nacional de Arte do Secretariado Nacional de Informação (1961).[7] A 4 de Março de 1941 foi feito Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada,[16] a 30 de Setembro de 1957 foi feito Comendador da Ordem da Instrução Pública e a 19 de Julho de 1961 foi feito Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.[17]

Em sua homenagem foi dado o seu nome à Rua Luís Cristino da Silva, em Marvila, Lisboa.

Alguns projectos e obras

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Referências

  1. a b c d Duarte, Carlos S. – Arquitetura em Portugal no Século XX: do modernismo ao tempo presente. In: A.A.V.V. (coordenação Fernando Pernes). Panorama Arte Portuguesa no Século XX. Porto: Campo de Letras / Fundação de Serralves, 1999, p. 358
  2. «Espólio de Luís Cristino da Silva». Fundação Calouste Gulbenkian 
  3. França, José Augusto – A arte em Portugal no século XX. Lisboa: Livraria Bertrand, 1991, p. 231. ISBN 972-25-0045-7
  4. «Duplamente cénico». Diário de Notícias. 2010. Consultado em 1 de maio de 2017 
  5. Tostões, Ana – Sob o signo do inquérito. A.A.V.V. – Inquérito à Arquitetura do Século XX em Portugal. Lisboa: Ordem dos Arquitetos, 2006, p. 22. ISBN 972-8897-14-6
  6. França, José AugustoHistória da Arte em Portugal: o Modernismo. Lisboa: Editorial Presença, 2004, p. 60, 86. ISBN 972-23-3244-9
  7. a b «Nota biográfica». Assembleia da República 
  8. Pereira, Paulo (1999). História da Arte Portuguesa - Volume 3 Lisboa: Temas e Debates. [S.l.: s.n.] 
  9. a b c Fernandes, José Manuel – Português Suave: Arquiteturas do Estado Novo.. Lisboa: IPPAR, Departamento de Estudos, 2003, p. 70, 174. ISBN 972-8736-26-6
  10. França, José Augusto – História da Arte em Portugal: o Modernismo. Lisboa: Editorial Presença, 2004, p. 82. ISBN 972-23-3244-9
  11. «Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra – História da Faculdade». Consultado em 28 de dezembro de 2012. Arquivado do original em 11 de julho de 2013 
  12. França, José Augusto – História da Arte em Portugal: o Modernismo. Lisboa: Editorial Presença, 2004, p. 60, 87.
  13. Rosmaninho, Nuno – "A Cidade Universitária de Coimbra e a Expressão Totalitária da Arte". Latitudes nº 26, Abril de 2006. Página visitada em 28-12-2012
  14. Rodrigues, Francisco Castro; Dionísio, Eduarda - Um cesto de cerejas. Edição Casa da Achada - Centro Mário Dionísio. Lisboa: 2009. (pp. 51-64) ISBN 978-989-96341-1-4
  15. Fernandes, José Manuel - Geração africana: arquitetura e cidades em Angola e Moçambique, 1925-1975. 2002. (p. 14)
  16. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Luís Carvalhosa Cristino da Silva". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 16 de abril de 2016 
  17. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Luís Ribeiro C. Cristino da Silva". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 16 de abril de 2016 
  18. a b c A.A.V.V. – Inquérito à Arquitetura do Século XX em Portugal. Lisboa: Ordem dos Arquitetos, 2006. ISBN 972-8897-14-6
  19. a b c d e Fernandes, José Manuel – Português Suave: Arquiteturas do Estado Novo. Lisboa: IPPAR, Departamento de Estudos, 2003, p. 70. ISBN 972-8736-26-6

Ver também

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Ligações externas

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