Marinha Mercante Brasileira

A Marinha Mercante Brasileira (MMB) é o "conjunto das organizações, pessoas, embarcações e outros recursos dedicados às atividades marítimas, fluviais e lacustres de âmbito civil" no país. Ela não é uma instituição, mas um ramo de atividade profissional.[1] O pessoal das embarcações mercantes, praticagem, construção naval, administração dos portos, estiva, capatazia, pesca, armação, mergulho e navegação amadora é considerado "pessoal da Marinha Mercante" pela legislação que organiza o Tribunal Marítimo.[2][3] Ela não faz parte da Marinha do Brasil (a marinha de guerra), mas serve de reserva não remunerada e pode ser mobilizada em caso de guerra.[4]

Navio cargueiro Vicente Pinzón, da Aliança Logística, no porto de Suape

O transporte marítimo de carga entre portos do território nacional, conforme a legislação brasileira, é privativo das empresas brasileiras de navegação, mas elas podem fretar embarcações estrangeiras para este fim. As embarcações de registro brasileiro têm preferência, mas não exclusividade, nas navegações de cabotagem e apoio marítimo (isto é, o apoio logístico à pesquisa e mineração). A navegação de longo curso, isto é, entre portos brasileiros e estrangeiros, é aberta a empresas de todos os países.[5][6]

Estatísticas

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Petroleiro Luiz Rebello III, da Transpetro, no terminal de Ilha D'Água

Pelos dados das Nações Unidas, em 2023 a Marinha Mercante do Brasil possuía 26 631 marinheiros e 887 embarcações, das quais 789 estavam na categoria de "outras" — nem petroleiros, graneleiros, cargueiros gerais ou navios de contêineres. A capacidade total era de 5 522 100 toneladas de porte bruto, das quais 2 495 700 na frota de petroleiros e 1 283 000 na frota de "outras" embarcações.[7] Ela atende principalmente ao setor de petróleo e gás natural: de 2017 a 2019, os dois maiores locais de origem foram as bacias sedimentares de Campos e Santos, enquanto os dois maiores locais de destino foram os terminais aquaviários da Petrobras em São Sebastião e Angra dos Reis.[8]

Na atual realidade a Marinha Mercante quase não participa da navegação de longo curso, com algumas exceções como o transporte a países do Mercosul ou a exportação de petróleo.[9] Os poucos navios disponíveis para esta modalidade competem nos portos brasileiros com navios que arvoram bandeiras de conveniência ou pertencem às megatransportadoras estrangeiras com frotas de dezenas a centenas de navios.[10] Em 2015, todos os navios de contêineres com importações e exportações brasileiras eram estrangeiros.[11] Em 2005 apenas 4% dos fretes gerados pelo comércio exterior foram pagos a armadores brasileiros. Os outros 96% corresponderam a mais de dez bilhões de dólares remetidos ao exterior.[12] Em 2010 a estimativa era de uma participação brasileira de 10%, em sua maior parte composta de navios estrangeiros fretados por empresas brasileiras.[13]

Na cabotagem a Marinha Mercante nacional representou 92% do transporte em contêineres, 59,1% em carga geral, 24,3% em granel sólido e 4,1% em granel líquido em 2020.[14][15]

Pessoal

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Alunos de Máquinas no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha

O mercado de trabalho aquaviário está dividido em seis grupos — marítimos, fluviários, pescadores, mergulhadores, práticos e agentes de manobra e docagem — dos quais os marítimos têm o maior número de subdivisões (Convés, Máquinas, Saúde e Câmara, com suas respectivas hierarquias).[16] A formação de oficiais da Marinha Mercante é de exclusiva responsabilidade da Marinha de guerra através das Escolas de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM).[17][18] A Marinha de guerra tem dois Centros de Instrução para este fim, o Almirante Graça Aranha (CIAGA), no Rio de Janeiro, e o Almirante Brás de Aguiar (CIABA), em Belém.[19] Durante o curso, os alunos são militares. Ao seu final, tornam-se bacharéis em Ciências Náuticas e 2.º Tenentes do Corpo da Armada na reserva da Marinha de guerra.[20]

A Seção de Convés é responsável pela navegação propriamente dita, utilizando-se de instrumentos de movimentação, localização espacial, meteorologia, atracação e desatracação portuária, entre outros, e tem também atividades administrativas, especialmente quanto às documentações referentes ao transporte de cargas. Seus oficiais são o Capitão de Longo Curso, Capitão de Cabotagem, 1.º Oficial de Náutica e 2.º Oficial de Náutica, e seus suboficiais e subalternos são o Contramestre, Marinheiro de Convés, Moço de Convés e Marinheiro Auxiliar de Convés.[21][22]

A Seção de Máquinas é responsável pela operação e manutenção dos equipamentos de propulsão da embarcação, seus sistemas mecânicos, elétricos e eletrônicos e os reparos de emergência fora do porto. Seus oficiais são o Oficial Superior de Máquinas, 1.º Oficial de Máquinas e 2.º Oficial de Máquinas, seus suboficiais são o Eletricista e o Condutor de Máquinas e seus subalternos são o Marinheiro de Máquinas, Moço de Máquinas e Marinheiro Auxiliar de Máquinas.[23][24] A Seção de Câmara, responsável pela limpeza, cozinha e arrumação, e a Seção de Saúde não têm oficiais.[23]

Referências

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Citações

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  1. Bispo, Tatiane; Stillben (28 de dezembro de 2024). «Entenda a importância da Marinha Mercante para a economia do País». Agência Marinha de Notícias. Consultado em 7 de janeiro de 2024 
  2. Lei n.º 2.180, de 5 de fevereiro de 1954. Dispõe sobre o Tribunal Marítimo.
  3. Lei n.º 9.578, de 19 de dezembro de 1997. Altera dispositivos da Lei nº 2.180, de 5 de fevereiro de 1954, que dispõe sobre o Tribunal Marítimo.
  4. «A Marinha do Brasil e a Marinha Mercante são a mesma instituição?». Serviço de Seleção do Pessoal da Marinha. Consultado em 29 de novembro de 2024 
  5. Resano, Luis Fernando (setembro de 2016). «A Marinha Mercante do Brasil» (PDF). Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima. Consultado em 7 de janeiro de 2025 
  6. Lei n.º 9.432, de 8 de janeiro de 1997. Dispõe sobre a ordenação do transporte aquaviário e dá outras providências.
  7. «Maritime profile: Brazil». UNCTAD Data Hub. Consultado em 30 de novembro de 2024 
  8. Maia 2020, p. 139-143.
  9. Resano 2022, p. 10.
  10. Vidigal 2007, p. 55.
  11. Motta, Sergio Barreto (5 de julho de 2015). «Consultor defende a criação de uma nova marinha mercante brasileira». Monitor Mercantil via Poder Naval. Consultado em 7 de janeiro de 2025 
  12. Silva 2010, p. 96.
  13. Nóbrega 2008, p. 10-11.
  14. ANTAQ 2022, p. 32, 62.
  15. «Participação de navios petroleiros e gaseiros de bandeira brasileira atinge o fundo do poço na cabotagem». Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore. 20 de setembro de 2022. Consultado em 7 de janeiro de 2025 
  16. «Aquaviários» (PDF). Diretoria de Portos e Costas. Consultado em 7 de janeiro de 2025 
  17. Ferreira Neto, João (4 de junho de 2024). «Se nada for feito, vão faltar oficiais de marinha mercante para o pré-sal e a cabotagem». Portos e Navios. Consultado em 29 de novembro de 2024 
  18. Guaycuru, André (25 de junho de 2024). «Formação do oficial da marinha mercante para os desafios do século XXI». Portos e Navios. Consultado em 7 de janeiro de 2025 
  19. «EFOMM - Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante». Centro de Instrução Almirante Graça Aranha. Consultado em 7 de janeiro de 2025 
  20. Santana 2016, p. 77.
  21. Santana 2016, p. 81-82.
  22. «Aquaviários da Seção de Convés – Marinha Mercante». Shelter Consultoria. 27 de agosto de 2018. Consultado em 7 de janeiro de 2025 
  23. a b Santana 2016, p. 83.
  24. «Aquaviários da Seção de Máquinas – Marinha Mercante». Shelter Consultoria. 27 de agosto de 2018. Consultado em 7 de janeiro de 2025 

Bibliografia

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Ver também

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Ligações externas

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