Pabeco

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Pabeco (em latim: Pabecus; em grego: Πάβεκος; romaniz.: Pábekos) ou Papaco (em latim: Papacus; em grego: Παπάκος; romaniz.: Papákos; em persa médio: Pābag; em parta: Pābag) ou Pambeco (Pambecus; Παμβεκῷς, Pambekos) foi um príncipe iraniano que governou Estacar, a capital de Pérsis, de 205 ou 206 até sua morte em algum momento entre 207-210. Era o pai, padrasto, avô ou sogro de Artaxer I, o fundador do Império Sassânida. Foi sucedido por seu filho mais velho Sapor.

Pabeco
Pabeco
Efígie de Pabeco num dracma de seu reinado
de Estacar
Reinado 205/6–207/10
Antecessor(a) Gochir
Sucessor(a) Sapor
Morte 207/10
Descendência Artaxer I
Denaces
Sapor
Pai Pabeco
Mãe Rambaiste
Religião Zoroastrismo

Pabeco (Pabecus; Πάβεκος, Pábekos),[1] Papaco (Papacus;[2] Πάπαχος / Πάπακος, Pápachos / Pápakos)[3][4] ou Pambeco (Pambecus; Παμβεκῷς, Pambekos)[5] são as formas latinas e gregas do persa médio e parta Pabague ou Pabaque (𐭯𐭠𐭯𐭪𐭩, Pābag / Pābak), que derivaram do iraniano antigo Papaca (*Pāpa-ka-; de *pāpa-, "pai", e o sufixo hipocorístico *-ka-).[6] Foi registrado em armênio como Papaque (Պապաք, Papakʼ) e persa novo como Babaque (بابک, Bābak).[4]

Antecedentes

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Pérsis, uma região no planalto iraniano sudoeste, era a pátria de um ramo sudoeste dos povos iranianos, os persas. Também foi o berço do Império Aquemênida. A região serviu como centro do império até sua conquista pelo rei macedônio Alexandre, o Grande (r. 336–323).[7] Desde o final do século III ou início do II a.C., foi governado por dinastias locais sujeitas ao Império Selêucida helenístico.[8] Essas dinastias detinham o antigo título persa de frataraca ("líder, governador, precursor"), que também é atestado no Período Aquemênida.[9] Mais tarde, sob o frataraca Autofradates II (fl. 138 a.C.), tornar-se-ia vassala do Império Arsácida.[8] Os frataracas foram logo depois substituídos pelos reis de Pérsis, provavelmente com a ascensão do monarca arsácida Fraates II (r. 132–127 a.C.). Ao contrário dos frataracas, os reis usaram o título de ("rei") e lançaram as bases para uma nova dinastia, que pode ser rotulada de daraiânida.[10]

Origens

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Textos em persa novo e árabe

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Província sassânida de Pérsis

Existem várias fontes diferentes sobre a relação entre Pabeco, Sasano e o primeiro monarca sassânida Artaxer I (r. 224–242). De acordo com o Xanamé do poeta persa medieval Ferdusi (m. 1020), Sasano era um descendente dos governantes mitológicos caiânidas Dara II, Dara I, Cai Bamã, Esfendadates e Histaspes. A alegação de Sasano pertencer à família caiânida foi projetada para justificar que Artaxer era descendente dos antigos reis caiânidas, que refletiam memórias dos aquemênidas. Dara II, o último caiânida a governar antes de Alexandre, é parcialmente baseado no último xainxá aquemênida, Dario III (r. 336–330 a.C.), cujo império foi de fato conquistado pelas forças de Alexandre. Um filho de Dara II chamado Sasano (dito "o mais velho") fugiu à Índia e viveu lá no exílio até sua morte. Teve um filho que também foi chamado Sasano (dito "o mais jovem"), "que continuou na família por quatro gerações". Um descendente da família, também chamado Sasano, trabalhou para Pabeco, que era um governante local em Pérsis. A filha de Pabeco casou-se com Sasano e deu-lhe um filho chamado Artaxer.[11] Depois disso, Sasano não é mais mencionado. O Xanamé indica assim que os ancestrais de Sasano residiam na Índia após as conquistas de Alexandre. Este relatório tem sido usado por estudiosos para apontar a conexão indo-parta dele.[12] De acordo com o historiador iraniano medieval Tabari (falecido em 923), Pabeco era filho de Sasano e uma princesa chamada Rambaiste, que era da família Bazrangui, uma dinastia de governantes em Pérsis.[11] Apresenta Pabeco como o pai de Artaxer. Como Ferdusi em seu Xanamé, Tabari também descreve Sasano como um estrangeiro em Pérsis, porém, ao contrário dele, não menciona seu local de origem.[13]

Textos em persa médio

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O texto persa médio Livro dos Feitos de Artaxes, Filho de Pabeco, diz o seguinte sobre a ascendência de Artaxer: "Artaxer, o caiânida, filho de Pabeco da ascendência de Sasano e da linhagem do rei Dara".[12] Outro texto persa médio, o Criação Original, no entanto, dá a genealogia de Artaxer da seguinte forma: "Artaxer filho de Pabeco cuja mãe (era) filha de Sasano filho de Veafride". Isso demonstra as inconsistências entre os textos do persa médio em relação às origens da dinastia sassânida. Ambas as fontes consideram Pabeco o pai de Artaxer, enquanto Sasano é apresentado como o avô ou ancestral deste último.[12]

Fontes romanas e armênias

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Em fontes romanas e armênias, aparece um relato diferente. De acordo com os historiadores romanos Agátias e Jorge Sincelo, Sasano era o pai biológico de Artaxer, enquanto Pabeco era seu padrasto. Os escritores armênios Moisés de Corene e Agatângelo também afirmam que Sasano era pai de Artaxer. No entanto, não fazem nenhuma menção a Pabeco. Uma variante grega do trabalho de Agatângelo chama Artaxer "filho de Sasano, que é a origem do nome sassânida dos reis persas descendentes dele".[13]

Inscrições sassânidas e cunhagem

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Artaxer, em suas gravuras de moedas e inscrição em Naques-e Rustã, afirma ser o filho do "divino Pabeco, o rei". Seu filho e sucessor, Sapor I (r. 240–270), em suas inscrições em Naques-e Rajabe e Cubo de Zaratustra, chama a si mesmo de filho de Artaxer I e neto de Pabeco. Embora várias figuras chamadas "Sasano" sejam mencionadas na inscrição, nenhuma delas está associada à Casa de Sasano.[13] A inscrição de Paiculi do filho de Sapor I, Narses (r. 293–303), no entanto, faz referências diretas à Casa de Sasano, com a frase "desde que os deuses deram glória e governo à família de Sasano", o que indica que Narses viu Sasano como seu ancestral.[14]

Conclusões modernas

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O historiador moderno Marek Jan Olbrycht sugere que Sasano era um príncipe indo-parta que se casou com uma princesa persa e deu à luz Artaxer. Para não ser visto como uma dinastia estrangeira, no entanto, Artaxer e Sapor I minimizaram o papel de Sasano. Pabeco era aparentemente o sogro e possivelmente o pai adotivo de Artaxer.[15]

História

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Ruínas de Estacar, capital de Pérsis
 
Dracma de Sapor com sua efígie e de seu pai

Pabeco governou um pequeno principado na área de Quir, ao sul do lago Bakhtegan.[16] Era um vassalo de Gochir, o rei bazrânguida da capital persa de Estacar, que por sua vez era um vassalo do xainxá arsácida em Ctesifonte.[17][18] Com a permissão de Gochir, Pabeco enviou Artaxer à fortaleza de Darabeguerde para servir sob seu comandante, Tiri.[19] Pabeco teria servido como sacerdote do templo do fogo de Anaíta em Estacar, que era ponto de encontro dos soldados persas locais, que adoravam a deusa iraniana.[18] O Império Arsácida, então governado por Vologases V (r. 191–208), estava neste momento em declínio, devido as guerras com os romanos, guerras civis e revoltas regionais. O imperador romano Sétimo Severo (r. 193–211) invadiu os domínios arsácidas em 196, e dois anos depois fez o mesmo, desta vez saqueando a capital arsácida de Ctesifonte. Ao mesmo tempo, revoltas ocorreram na Média e Pérsis.[20]

O iranólogo Touraj Daryaee argumenta que o reinado de Vologases V foi "o ponto de virada na história arsácida, em que a dinastia perdeu muito de seu prestígio." De fato, em 205 ou 206, Pabeco se rebelou e derrubou Gochir, tomando Estacar para si.[18][20] De acordo com Tabari, foi por insistência de Artaxer que Pabeco se rebelou. No entanto, Daryaee considera esta afirmação improvável, e afirma que foi na realidade o filho mais velho Sapor que ajudou Pabeco a capturar Estacar, como demonstrado pela cunhagem deste último que tem retratos de ambos.[16] Pabeco posteriormente nomeou-o como seu herdeiro. Isso causou a antipatia de Artaxer, que se tornou o comandante de Darabeguerde após a morte de Tiri.[19] Em um ato de desafio, Artaxer partiu para Ardaxir-Cuarrá, onde se fortificou, preparando-se para atacar seu irmão Sapor após a morte de Pabeco.[20][a] Pabeco morreu de morte natural em algum momento entre 207-210 e foi sucedido por Sapor.[21][22][23] Após sua morte, tanto Artaxer quanto Sapor começaram a cunhar moedas com o título de "rei" e o retrato de Pabeco.[24] O observo das moedas de Sapor tinha a inscrição "(Sua) Majestade, Rei Sapor" e o reverso tinha "filho de (Sua) Majestade, Rei Pabeco". O reinado de Sapor, no entanto, foi curto; morreu sob condições obscuras em 211 ou 212.[20] Artaxer assim sucedeu Sapor, e passou a conquistar o resto do Irã, estabelecendo o Império Sassânida em 224.[19][25] Pabeco também deixou uma filha chamada Denaces, que se casou com Artaxer.[26]

[a] ^ A evidência física demonstra que não foi de Darabeguerde, como afirma Tabari, que Artaxer começou a expandir seus domínios, mas de Ardaxir-Cuarrá.[27]

Referências

  1. Geiger 2020, p. 50, 532.
  2. Boeckhio 1853, p. 279.
  3. Weber 2023.
  4. a b Ačaṙyan 1942–1962, p. 225.
  5. Dodgeon 2002, p. 10.
  6. Martirosyan 2021, p. 16.
  7. Wiesehöfer 2000a, p. 195.
  8. a b Wiesehöfer 2009.
  9. Wiesehöfer 2000b, p. 195.
  10. Shayegan 2011, p. 178.
  11. a b Frye 1988, p. 298–299.
  12. a b c Olbrycht 2016, p. 26.
  13. a b c Olbrycht 2016, p. 27.
  14. Olbrycht 2016, p. 28.
  15. Olbrycht 2016, p. 30–31.
  16. a b Daryaee 2010, p. 245.
  17. Kia 2016, p. 224.
  18. a b c Daryaee 2012, p. 187.
  19. a b c Wiesehöfer 1986, p. 371–376.
  20. a b c d Daryaee 2010, p. 249.
  21. Frye 1988, p. 298–299.
  22. Daryaee 2010, p. 252.
  23. Curtis 2008, p. 34.
  24. Daryaee 2010, p. 250.
  25. Daryaee 2014, p. 4.
  26. Gignoux 1994, p. 282.
  27. Daryaee 2010, p. 247.

Bibliografia

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