Ratanabá

teoria da conspiração brasileira

Ratanabá é uma teoria da conspiração sobre uma cidade perdida na Amazônia brasileira que teria sido construída por seres extraterrestres.[2][3][4][5] Foi iniciada por Urandir Fernandes de Oliveira, que alega ter contato com extraterrestres. A história foi compartilhada por páginas de fofocas como a Choquei e pelo então Secretário da Cultura, Mário Frias[6]. Desde então se tornou um boato[7][8][9] e um meme nas redes sociais do Brasil.[10][11][12][13]

A conspiração ameaça as ruínas do Real Forte Príncipe da Beira e foi repudiada pelo IPHAN.[1]

História

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A conspiração foi iniciada pelo empresário Urandir Fernandes de Oliveira, um autoproclamado paranormal que promove conspirações terraplanistas e antivacina e alega contatos com seres extraterrestres[7][12][14][15] em locais sob disputa judicial.[nota 1] Antes da teoria de Ratanabá, Urandir apareceu na mídia em 2000 após criar o Projeto Portal no município de Corguinho, quando ganhou seguidores ao alegar contatos com extraterrestres.[16] Ele chegou a ser preso por falsidade ideológica e estelionato por uma venda ilegal de terrenos onde tinha planos de erguer uma cidade para receber supostos seres de outros planetas.[17] Em 2010, Urandir apareceu em uma reportagem do Domingo Espetacular, da TV Record, alegando ter contato com um ser chamado ET Bilu,[18] assunto que se tornou um meme nas redes sociais.[19] O suposto extraterreste também foi assunto abordado pelo humorístico Custe o Que Custar, da TV Bandeirantes.[20][21] Um nome importante para a difusão da teoria conspiratória foi o ator Sandro Rocha.[22]

A teoria da cidade de Ratanabá também foi abordada pela escritora Isah Pavão, autora de um livro autopublicado sobre o tema e de vídeos da conspiração na plataforma Youtube. Oliveira e Pavão afirmam que a cidade dataria de 450 milhões de anos, dentre outras alegações pseudocientíficas e implausíveis.[5][2][23][13][4][24]

No dia 10 de junho de 2022, a página Choquei — conta existente no Twitter e Instagram que costuma publicar notícias falsas, distorcidas ou sem checagem[25] — publicou aos seus seguidores a teoria sobre Ratanabá.[26] O assunto foi ao topo dos mais comentados no Twitter e também ganhou um salto de buscas no Google.[27][28] O boato também foi divulgado pela influenciadora Dani Russo.[29]

Pelo fato de a Choquei ter milhões de seguidores, muitos acreditaram na teoria infundada de Ratanabá. O professor de geografia Emanuel Daflon criticou a atitude da página por propagar uma mentira.[26]

No mesmo dia, a Choquei se retratou ao público e apagou as postagens que falavam sobre Ratanabá.[26] A página continuou sendo motivo de memes no Twitter.[26]

Porém, a história continuou a ser espalhada. O ator e político Mário Frias, então Secretário de Cultura do Governo Bolsonaro e que conhecia Urandir desde 2020,[23] divulgou a teoria em 14 de junho de 2022,[6] semana em que o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips estava em evidência. Mário Frias foi criticado pela promoção da conspiração e do pânico moral sobre a soberania brasileira na floresta amazônica.[2][5][23][30]

Por causa das ameaças ao patrimônio histórico causadas pela circulação de notícias falsas e desinformação nas redes sociais, relacionando a conspiração ao Real Forte Príncipe da Beira,[4][31] o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional declarou que tais teorias eram falsas e ressaltou que as informações arqueológicas sobre o Forte são públicas e facilmente acessíveis.[1]

Ver também

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Notas

  1. "Nascido no interior de São Paulo, ele afirmava conversar com [ET] Bilu desde os 13 anos de idade, mas só relevou (sic) a existência dele em 2009. Este foi o ano em que parte da fazenda de Oliveira foi desapropriada por decreto presidencial para se tornar uma área quilombola. Sua empresa também difundiu documentos para refutar a ideia de que a Terra é plana e discursos contra a vacina."[6]

Referências

  1. a b Assessoria de Comunicação Iphan (19 de novembro de 2021), Iphan repudia a circulação de informações falsas sobre o Forte Príncipe da Beira, Brasil: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Wikidata Q112671522 
  2. a b c Carlos Orsi (18 de junho de 2022), Ratanabá, capital do Brasil, Instituto Questão de Ciência, Wikidata Q112664653  "Falsificações do passado histórico e da realidade factual fazem parte da mentalidade dos anos Bolsonaro: vão da escravidão repaginada em luta meritocrática à negação das queimadas, à construção de falsas controvérsias em torno de vacinas e urnas, passando pelo saudosismo revisionista da ditadura. Ratanabá nunca existiu, mas como projeto e ideia é a capital intelectual do Brasil de Bolsonaro."
  3. Matsuki, Edgard (18 de junho de 2022). «Não é coincidência teoria do Ratanabá viralizar na mesma semana da morte de Dom Phillips e Bruno». Boatos.org. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022. O fato de a teoria (que vai contra qualquer senso científico e não procede) se espalhar na semana do desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira não é mera coincidência. Há anos, os “pesquisadores” que defendem a tese da existência do tal povoado falam sobre o Ratanabá (assim como falam sobre a Terra não ser redonda e que o ET Bilú existe). Ela viralizar na última semana é mais do que conveniente para alguns grupos políticos. 
  4. a b c Biernath, André (15 de junho de 2022). «Ratanabá: arqueólogo explica por que lenda de 'cidade perdida na Amazônia' não faz sentido». BBC News Brasil. Consultado em 24 de junho de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022. Essas informações, porém, não fazem o menor sentido. "Tudo isso é um delírio", avalia o arqueólogo Eduardo Goés Neves, professor do Centro de Estudos Ameríndios da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Laboratório de Arqueologia dos Trópicos do Museu de Arqueologia e Etnologia da mesma instituição. 
  5. a b c João Filho (18 de junho de 2022), «Ratanabá: o delírio de uma extrema direita desesperada», The Intercept (em inglês), Wikidata Q112664654  "Ratanabá é o puro suco de lisergia bolsonarista. Neste sábado, Jair Bolsonaro desfilará sorridente em uma motociata na capital do Amazonas, poucos dias depois da confirmação dos assassinatos de Dom Phillips e Bruno. É um tipo de sadismo que deve fazer Olavo de Carvalho sorrir no inferno."
  6. a b c «Mario Frias recebeu empresa que divulga teoria falsa na Secretaria de Cultura». Folha de S.Paulo. 14 de junho de 2022. Consultado em 24 de junho de 2022. Cópia arquivada em 14 de junho de 2022 
  7. a b «Ratanabá: entenda o boato sobre a cidade perdida na Amazônia». Jornal Correio. 12 de junho de 2022. Cópia arquivada em 21 de junho de 2022. Uma cidade perdida e repleta de riquezas, quase uma mistura de Atlântida com Eldorado: essa seria Ratanabá. Nos últimos dias, surgiu nas redes sociais um boato de que a floresta Amazônica esconde uma civilização antiga e que, por isso, diversos estrangeiros estariam de olho lá. 
  8. Matsuki, Edgard (12 de junho de 2022). «Ratanabá é uma cidade perdida na Amazônia que existe há milhões de anos e desperta o interesse estrangeiro por riquezas #boato». Boatos.org. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022. Mensagens apontam para a descoberta de uma “cidade do tamanho de São Paulo” que teria abrigado uma civilização de 600 milhões de anos no meio da floresta amazônica. A cidade se chamaria Ratanabá e o interesse estrangeiro pela Amazônia se dá por conta das riquezas da região. Mais do que isso, já apareceu gente relacionando o desaparecimento de Dom Phillips com a cidade perdida 
  9. Assad, Paulo (14 de junho de 2022). «Ratanabá: cidade perdida na Amazônia é real ou não? Entenda». O Globo. Cópia arquivada em 16 de junho de 2022 
  10. «Suposta cidade perdida da Amazônia vira meme nas redes sociais». O Dia. 14 de junho de 2022. Cópia arquivada em 16 de junho de 2022 
  11. «Ratanabá, apontada como 'capital do mundo', não passa de teoria conspiratória». Aventuras na História. 15 de junho de 2022. Consultado em 24 de junho de 2022. Cópia arquivada em 23 de junho de 2022 
  12. a b Ribeiro, Leo (15 de junho de 2022). «Depois de propagar ET Bilu, Urandir viraliza no País com mito de Ratanabá». Correio do Estado. Cópia arquivada em 19 de junho de 2022. Mestre em histórias que brincam com o imaginário popular, Urandir Fernandes de Oliveira, diretor do longa-metragem "Terra Convexa" e responsável por propagar o ET Bilu, de Corguinho para o mundo, retorna aos holofotes da mídia com a "revelação de Ratanabá", a cidade perdida no meio da Amazônia que convenceu até mesmo o ex-secretário Especial da Cultura, Mario Frias. 
  13. a b Xavier, Camila (14 de junho de 2022). «Ratanabá: É falso que Amazônia abriga capital do mundo datada de 450 milhões de anos». Yahoo Notícias. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022. Há 450 milhões de anos, a Terra passava pelo Período Ordoviciano, como explica o Serviço Geológico do Brasil. Nesse período – que começou há 488,3 milhões de anos e terminou 443,7 milhões de anos atrás – surgiram seres como peixes de água doce. 
  14. Ricardo Molina mostra análise dos vídeos do ET Bilú. Programa do Porchat, Record TV. 2017. Consultado em 23 de junho de 2022 – via Youtube 
  15. Belic, Gabriel (14 de junho de 2022). «A enganação do momento é 'Ratanabá': haja picareta para desenterrar cidade de 450 milhões de anos!». Estadão Verifica. Cópia arquivada em 16 de junho de 2022 
  16. «Os Ets de Urandir». ISTOÉ Independente. 2 de fevereiro de 2000. Consultado em 17 de março de 2023 
  17. «Paulista é preso por vender terrenos em cidade para ETs». www.terra.com.br. Consultado em 17 de março de 2023 
  18. «Justiça determina que Record esclareça matéria sobre ET Bilu». Observatório da Imprensa. 23 de março de 2011. Consultado em 17 de março de 2023 
  19. Mota, P. H. (26 de agosto de 2020). «ET Bilu - Origem e repercussão do personagem + outros memes da época». Segredos do Mundo. Consultado em 17 de março de 2023 
  20. «"CQC" tenta desvendar o mistério do ET Bilu - 05/11/2010 - Da Redação». televisao.uol.com.br. Consultado em 17 de março de 2023 
  21. «Mauricio Stycer - Piada do "CQC" com Bilu agrada os "donos" do ET». tvefamosos.uol.com.br. Consultado em 17 de março de 2023 
  22. Sophia La Banca de Oliveira e Weverton Trindade (24 de janeiro de 2024). «NÃO É RATANABÁ, MAS...». Meteoro Brasil. Consultado em 25 de janeiro de 2024 – via YouTube 
  23. a b c Matheus Pichonelli (16 de junho de 2022), «Mistério em Ratanabá: existe vida inteligente no planeta de Mario Frias?», São Paulo, Universo Online, Wikidata Q112671888  "Em agosto de 2020, enquanto salas de teatro, de cinema e pavilhões de exposição seguiam fechados por conta da pandemia, o então secretário de Cultura Mario Frias recebeu em seu gabinete o presidente da Associação Dakila de Pesquisas, Urandir Fernandes de Oliveira"
  24. Júnior, Rogério; Mesquita, Caroline (18 de junho de 2022). «Especialistas explicam por que 'cidade secreta' de Ratanabá em MT não existe; entenda». G1 MT. Cópia arquivada em 22 de junho de 2022 
  25. «#Hashtag: Choquei vira fonte de notícias da internet replicando conteúdos sem checagem». Folha de S.Paulo. 22 de novembro de 2022. Consultado em 17 de março de 2023 
  26. a b c d «O que é Ratanabá e como essa teoria biruta se espalhou». Núcleo Jornalismo. 14 de junho de 2022. Consultado em 17 de março de 2023 
  27. «Ratanabá: teoria infundada de cidade perdida na Amazônia viraliza». O POVO. 12 de junho de 2022. Consultado em 13 de junho de 2024 
  28. «Falso: cidade perdida na Amazônia, cobiçada por suas riquezas, é teoria infundada». Noticias R7. 14 de junho de 2022. Consultado em 13 de junho de 2024 
  29. «Ratanabá: entenda o boato sobre a cidade perdida na Amazônia». Jornal Correio. 12 de junho de 2022. Consultado em 17 de março de 2023 
  30. Matsuki, 2022. A tal teoria só emergiu nesta semana porque se encaixa por completo em duas teses defendidas por grupos simpáticos a Bolsonaro. 1) Que os estrangeiros estão de olho em riquezas subterrâneas da Amazônia. 2) Porque reforça o argumento que Dom Phillips e Bruno “partiram em uma aventura”. E aí não temos uma, temos três falácias.
  31. Rosa, Larina. «"Não existe túnel na fortaleza Forte Príncipe da Beira que leve ao centro do mundo", afirma historiador». Diário da Amazônia. Cópia arquivada em 23 de junho de 2022