Movimento nativista
Os chamados movimentos nativistas foram revoltas isoladas ocorridas na então colônia portuguesa do Brasil, a partir do século XVII mas sobretudo no final do XVIII, quando se amiudaram as situações de conflito entre os "filhos da terra" e os chamados "reinóis" (imigrantes portugueses). Esses movimentos expressam a constituição de um sentimento nacional, em processo semelhante ao que ocorre por toda a América Latina, no período colonial, a partir do século XVII.[1][2]
Incluem-se, entre esses movimentos, a Revolta de Amador Bueno (São Paulo, 1641), A Revolta da Cachaça (Rio de Janeiro, 1660 a 1661), a Revolta de Beckman (Maranhão, 1684), a Revolta de Filipe dos Santos (Vila Rica, Minas Gerais, 1720), a Guerra dos Emboabas (São Vicente, São Paulo, 1707 a 1709), a Guerra dos Mascates (Recife e Olinda, em Pernambuco, 1710 a 1711) [3] [4]. A Revolta da Cachaça destaca-se por ter sido o primeiro conflito armado a opor os colonos e a administração portuguesa.[carece de fontes]
Nas três primeiras insurreições prevaleceram as razões de ordem econômica; porém, nas seguintes, houve preponderância do sentimento nacional como motivação dos revoltosos[4].
As invasões sofridas pelo território brasileiro no século XVIII, bem como a união dos elementos nativos com o branco filho de europeus, o mestiço, o negro e o índio catequizado[4] para a defesa do território, especialmente após as invasões holandesas no Brasil, fez crescer paulatinamente entre a população da colônia a ideia de emancipação - embora a princípio restrita ao âmbito local e não generalizada nas províncias.
Início
editarA primeira manifestação nativista do Brasil ocorreu em São Paulo de Piratininga no ano de 1640, quando da Restauração Portuguesa, em que este país recobrou a independência de Espanha e aclamou o novo rei, Dom João IV. Na vila paulista alguns elementos julgaram ser a oportunidade para proclamarem a independência, e aclamaram a Amador Bueno da Ribeira como seu rei. O incidente foi logo contornado.
Logo após a expulsão dos holandeses de Pernambuco, em que os "nacionais" tiveram maior importância do que os militares da metrópole, a nomeação de Jerônimo de Mendonça Furtado, apelidado de "Xumberga", gerou um clima de insatisfação pois muitos pernambucanos se julgavam merecedores da governança.[2] Com nítidos componentes nativistas, a revolta contra Mendonça Furtado é considerada a primeira de uma sequência de insurreições que eclodiram a seguir. Neste primeiro caso o Vice-rei não puniu os envolvidos e, com habilidade, nomeou André Vidal de Negreiros - pessoa ligada à terra - como governador da capitania.[2]
Ainda com raiz econômica, ocorre a Revolta de Beckman, contra o monopólio pelos jesuítas do comércio no Maranhão.[4]
A Guerra dos Emboabas, em Minas Gerais, foi motivada pela disputa pela primazia na exploração do ouro recém-descoberto, entre os chamados "vicentinos" (nativos) e os "emboabas" (forasteiros). Teve por consequência maior a emancipação de Minas e São Paulo do Rio de Janeiro, formando ambas a partir de então uma só capitania.[4]
A Guerra dos Mascates foi a primeira (entre todas) em se falar em república; antes mesmo das lutas, no Senado de Olinda, a 10 de setembro de 1710, Bernardo Vieira de Melo sugere que Pernambuco proclamasse sua independência, nos moldes da República de Veneza. O tema "república" volta em 1720, na revolta de Vila Rica.[2]
Consequências
editarTodos esses movimentos conduziram às lutas francamente emancipacionistas do final do século XVIII e começo do século XIX, como as conjurações mineira e baiana, e à própria guerra de independência da Bahia, iniciada ainda em 1821.[2][4][5].
Referências
- ↑ Vial Correa, Gonzalo.La formación de las nacionalidades hispanoamericanas como causa de la independencia. Boletín de la Academia Chilena de la Historia. Santiago de Chile Vol. 33, (Jan 1, 1966): 110.
- ↑ a b c d e Souto Maior, A. «Unidade X: O Sentimento Nativista». In: Companhia Editora Nacional. História do Brasil. 1968 6ª ed. São Paulo: [s.n.] pp. 181–200
- ↑ Aqui foram citados apenas os movimentos nativistas, os demais movimentos separatistas no Brasil pertencem a outro tópico.
- ↑ a b c d e f Silva, Joaquim; J. B. Damasco Penna. «A Defesa do Território e o Sentimento Nacional». In: Companhia Editora Nacional. História do Brasil. 1967 20ª ed. São Paulo: [s.n.] pp. 165–185
- ↑ Nicolette, Carlos Eduardo (13 de setembro de 2017). «O NATIVISMO NA AMÉRICA PORTUGUESA: MARCELINO PEREIRA CLETO E SUA DISSERTAÇÃO A RESPEITO DA CAPITANIA DE SÃO PAULO». Revista de História Bilros. História(s), Sociedade(s) e Cultura(s). 5 (9). ISSN 2357-8556
Ver também
editar- Nativismo - fenômeno sociológico de cunho nacionalista e emancipador, ocorrido nas colônias europeias.