Neno Vasco...

Primeiros anos, educação e formação acadêmica

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Gregório Nazianzeno Moreira de Queirós e Vasconcelos nasceu em 9 de maio de 1878, em Penafiel, no norte de Portugal. Era filho do comerciante Vitorino da Costa Querós e Vasconcelos e de Margarida Rodrigues Moreira. O pai, que mantinha relações com Manuel Pereira da Silva, Barão do Calvário, o escolheu como padrinho, na esperança de que seu filho fosse lembrado na herança ou que fosse agraciado com cartas de recomendação em circunstância de uma futura emigração para o Brasil, uma vez que o Barão era um "brasileiro de torna-viagem".[1]

Com a saúde debilitada após o nascimento de Gregório, Margarida logo veio a falecer. Em 1887, aos nove anos, Gregório emigrou com o pai para o Brasil.[2] Já no início da década de 1890, Gregório retornou à Portugal para finalizar os estudos no Liceu de Amarante.[3] Em Amarante, viveu junto de sua avó, Bernardina Júlia, católica devota, que tratou de incutir ao neto a veneração aos santos e às autoridades eclesiásticas.[4] No Liceu, desenvolveu interesse pela poesia e pela literatura e conheceu Teixeira de Pascoaes, que se tornou seu amigo e, mais tarde, lhe convenceu a optar pelo curso de Direito ao invés de Medicina.[5]

 
Gregório à época de sua graduação em Direito.

Matriculado no curso de Direito da Universidade de Coimbra a partir de 1896, Gregório entrou em contato com as ideias liberais que emanavam do ambiente universitário e foi deixando para trás a sua formação religiosa, interessando-se pelo ateísmo.[3] Nesse ambiente, também teve seus primeiros contatos com a política radical, adotando o anarquismo como orientação política e o republicanismo como instrumento mais imediato de combate à monarquia. Ainda antes de se formar bacharel, assinando como Neno Vasco, colaborou com o jornal republicano O Mundo, escrevendo artigos de análise política e crítica social, em defesa do amor livre e da igualdade entre os sexos.[6] Apesar de sua filiação às ideias radicais correntes e da colaboração constante na imprensa republicana, Neno pouco se destacava nos meetings promovidos na Universidade. Tímido, não lhe agradava a ideia de protagonizar reuniões de propaganda convocadas pelos companheiros.[7]

Em uma de suas idas ao Porto, onde passava os recessos universitários junto aos familiares, Neno entrou em contato com um grupo de ativistas libertários no ano de 1900, composto por militantes como Cristiano de Carvalho, Serafim Cardoso Lucena, José Amoedo e Matos Ferreira.[8] Identificou-se com os anarquistas intervencionistas[nota 1] e demonstrou particular interesse pelas obras de anarcocomunista russo Piotr Kropotkin.[6]

No mesmo período, recebeu a notícia do falecimento de sua avó. Se por um lado a morte da avó o abalou emocionalmente, por outro, Neno não encontrou mais embaraços em sua pregação anticlerical.[9] Ainda no ambiente universitário, Gregório também teve contato com figuras como António de Sena Faria de Vasconcelos e António Resende.[10] Em 1901, uma vez formado, e influenciado pelas avaliações otimistas sobre o Brasil presentes na imprensa republicana portuguesa, Neno decidiu retornar ao país. Razões pessoais, como a saudade o pai, o falecimento de sua noiva e o desânimo para exercer o título de bacharel, também motivaram a sua partida.[11]

Militância no Brasil

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Neno recebera do pai o correspondente em dinheiro da passagem ao Brasil, tendo como destino a cidade de São Paulo.[12] Tomando conhecimento, ainda em Portugal, da existência de grupos de propaganda anarquista no Brasil, rapidamente tratou de entrar em contato com os militantes mais ativos da cidade, especialmente aqueles envolvidos com a imprensa anarquista.[13] Chegando lá, Neno logo estreitou relações com os militantes anarquistas italianos Giulio Sorelli, Gigi Damiani, Angelo Bandoni, Luigi Magrassi, Alessandro Cerchiai, Tobia Boni, Augusto Donati, o espanhol Juan Bautista Perez e os brasileiros Ricardo Gonçalves e Benjamim Mota. Esse grupo de militantes estava empenhado em divulgar o anarquismo entre os trabalhadores brasileiros — até então, a maioria das publicações anarquistas de São Paulo eram editadas em italiano. Dessa forma, fundaram o periódico O Amigo do Povo, que contou com a colaboração ativa de Neno Vasco e agrupou militantes brasileiros, espanhóis, italianos e portugueses sob a orientação ideológica do anarquismo comunista.[14] Além de escrever artigos e linhas editoriais, Neno também era o responsável pela manutenção do fluxo de correspondência destinado ao jornal.[15]

Através do contato com os militantes agrupado em torno de O Amigo do Povo, Neno — até então muito influenciado por Kropotkin e Élisée Reclus — despertou um interesse crescente pela obra do anarquista italiano Errico Malatesta. A partir desse interesse, Neno tratou de ampliar a sua proficiência no idioma italiano, com a finalidade de traduzir para o português os escritos de Malatesta.[16] Através da leitura das obras do anarquista italiano, Neno logo também entrou em contato com as ideias de Mikhail Bakunin.[17] A influência de Malatesta sobre Neno o fez reforçar suas convicções organizacionistas. Ele passou a buscar o estabelecimento de uma relação clara e orgânica entre os militantes libertários, com o objetivo de formar um partido anarquista de inspiração malatestiana. Os anarquistas partidários das concepções malatestianas viam no sindicato um excelente meio para unir os trabalhadores e fazer propaganda, com o objetivo de criar uma organização anarquista de lastro operário. Suas concepções entravam em oposição aos antiorganizacionistas — também chamados de individualistas —, que suspeitavam da excessiva aproximação entre anarquistas e sindicalistas. Percebendo no sindicalismo um meio de atuação, Neno procurou estabelecer, em seus escritos, as estratégias a serem adotas pelos anarquistas organizacionistas, na composição dos sindicatos ou em lutas operárias de curto prazo.[18]

Assim, em O Amigo do Povo, Neno passou a defender a construção de um sindicalismo combativo e revolucionário, diferente daquele das associações mutualistas que ainda tinham algum peso no movimento operário, e também o combate ao reformismo social-democrata dos Partidos Socialistas.[17] A aversão de Neno ao parlamentarismo e a colaboração com os reformistas ficava evidente em seus escritos para o periódico. Ele insistia com veemência que o verdadeiro campo socialista era o revolucionário, rejeitando o reformismo e propondo a necessidade de fortalecer os sindicatos de resistência. Para Neno, os anarquistas deveriam inculcar no movimento operário a prática da ação direta e do federalismo, para evitar sua cooptação pelos socialistas reformistas.[19] Afirmava, assim como os demais anarquistas adeptos do sindicalismo revolucionário, que a atuação nos sindicatos, as greves e lutas reivindicativas seriam um exercício de "ginástica revolucionária", na qual o operariado formaria sua consciência de classe e perceberia a necessidade de se organizar.[20] Como escreveu Neno em um artigo de O Amigo do Povo,

A vantagem principal da luta pelos melhoramentos reside na luta em si. Os operários aprendem a ocupar-se dos seus interesses de classe, aprendem que o patrão tem interesses opostos aos seus, e que só unindo-se e tornando-se mais fortes que os senhores é que podem melhorar as suas condições e por fim, emancipar-se.
O Amigo do Povo, 24/05/1902.[21]

O grupo em torno de O Amigo do Povo também se destacava por seu internacionalismo. Notícias do movimento anarquista e operário internacional tinham grande destaque nas páginas do jornal.[22] O jornal, apesar de ter a maioria de seus textos em português, também publicava textos em espanhol e italiano, numa tentativa de aproximar os trabalhadores imigrantes dos nacionais.[23] Além disso, o grupo iniciou uma campanha para evitar a entrada de trabalhadores estrangeiros no Brasil, denunciando as condições de trabalho em que os imigrantes se encontravam, além da xenofobia e da repressão do governo ao movimento social.[24] Sobre esses problemas, Neno Vasco escreveu um artigo em O Amigo do Povo intitulado "O Perigo Macarrônico", no qual ironizava o chauvinismo que partia de variados setores da sociedade:

Houve quem lançasse o grito de alarme sobre o perigo que nos ameaça: a invasão do italiano; A "língua de Dante" ganha terreno sobre a "língua de Camões". Estamos na hora negra dos perigos... Este, como as cores estão todas empregadas — perigo amarelo, negro, branco, cor de burro quando foge — intitulâmo-lo, um pouco jocosamente, perigo macarrônico. Além da Divina Comédia (oh! comédia humana!) é o macarrão que nos ameaça. O perigo complica-se com um aspecto culinário: estamos expostos a ter que abandonar a carne seca com feijão ou o cozido e arroz para mangiari e maccheroni. É a ruína dos "nossos costumes"!
O Amigo do Povo, 20/08/1904.[21]

Ainda junto ao grupo de O Amigo do Povo, Neno traduziu para o português, em 1902, o texto "No Café", de Malatesta. Para viabilizar a edição da versão em português da obra, contou com a ajuda de anarquistas do Rio de Janeiro. Duas festas foram organizadas envolvendo as duas cidades, São Paulo e Rio, para viabilizar a edição da obra. Em São Paulo, a polícia interrompeu a festa, marcada para o Cassino Penteado, no dia 7 de junho, e prendeu três anarquistas. Quase a totalidade do dinheiro arrecadado teve que ser usado para pagar a fiança dos militantes presos. Mesmo assim, o opúsculo foi publicado. Além desse texto, Neno também traduziu para o português "Entre Camponeses", também de Malatesta, e "A Sociedade Futura", do anarquista francês Jean Grave. Seu contato com os militantes de Portugal também fez com que obras como "A Igreja e o Proletariado" e "Autópsia à Bíblia Sagrada", de Heliodoro Salgado, chegassem ao Brasil.[25]

O Amigo do Povo parou de ser editado após 63 edições, em 1904. No mesmo ano, os anarquistas brasileiros iniciaram uma intensa campanha contra a Guerra Russo-Japonesa, a fim de levantar fundos de auxílio aos militantes russos. Por meio dessa campanha, Neno pôde trocar uma breve correspondência com Kropotkin, que em 1906 lhe respondia afirmando que o dinheiro enviado pelos anarquistas brasileiros não chegava tarde e demonstrando um grande entusiasmo com a Revolução Russa de 1905.[26]

Nesse período, Neno também tomou parte em algumas iniciativas pedagógicas promovidas pelos anarquistas. Junto aos editores de O Amigo do Povo, fundou em 1903 o Centro de Estudos Sociais e Ensino Mútuo, que funcionava na rua Bento Pires, em São Paulo. O Centro abrigava cursos de formação política, sociologia e literatura para os trabalhadores. Em novembro do mesmo ano, também ajudou a fundar a Escola Libertária Germinal, no bairro Bom Retiro, uma das diversas iniciativas inspiradas pelo ensino racionalista de Francisco Ferrer que floresceram durante a Primeira República.[27] Em 1904, junto de Benjamim Mota, publicou na revista Kultur uma peça anticlerical chamada Natal, na qual o personagem Bruno, um professor de biologia, simulava um diálogo com Jesus Cristo dentro de uma igreja, constrangendo o padre: "Inventaram-te, ó Jesus, e inventaram a tua história, esses monstros da hipocrisia para perpetuarem a tirania, a exploração do homem pelo homem e uma vida de gozo para eles... os teus sacerdotes". Neno conferia ao teatro uma fundamental importância propagandística, e mais tarde, veio a escrever outras peças abordando temas sociais.[28]

Em fevereiro de 1905, Neno iniciou a publicação da revista mensal Aurora, com o objetivo de traduzir textos teóricos mais densos e trazer artigos de intelectuais brasileiros ou radicados no país, versando sobre o socialismo ou abordando temas afins. Em seu primeiro número, a revista trazia artigos de Antonio Piccarolo, do próprio Neno e uma tradução do anarquista e educador francês Paul Robin. Nos números seguintes, Neno traduziu textos de Malatesta, Émile Armand, Kropotkin, Reclus e outros. No fim do mesmo ano, em dezembro, fundou, junto aos anarquistas Edgard Leuenroth e Manuel Moscoso, o periódico A Terra Livre. Leuenroth era responsável pela administração do jornal e Neno por sua correspondência.[29] Profundo conhecedor da gramática e da ortografia, Neno buscou utilizar nesse jornal, como forma de simplificar a leitura, uma reforma de prosódia com muitas das mudanças que, mais tarde, viriam a ser adotadas pela Academia Brasileira de Letras.[30] De modo geral, o periódico seguia a mesma linha de O Amigo do Povo, defendendo a atuação dos anarquistas junto ao movimento operário e as estratégias do sindicalismo revolucionário. Já na primeira edição do novo periódico, Neno irá escrever que:

Dentro das sociedades operárias de resistência de que fazemos parte como trabalhadores com interesses idênticos aos dos outros, defendemos o abstencionismo eleitoral, a neutralidade da associação na política parlamentar. Fora desta há largo campo de ação, de comum acordo, sem distinção de partidos. E assim como a sociedade de resistência neutral em matéria religiosa, não deixa de combater as uniões de fura-greves católicos e os padres que se põem do lado dos patrões, assim também, embora neutral em eleições não deixa de lutar contra as prepotências do poder político. É preciso não confundir a luta dum partido com a luta de classes.
A Terra Livre, 30/12/1905.[31]

Desde de 1903, após a realização de uma greve geral no Rio de Janeiro, os anarquistas aumentavam a sua influência junto ao movimento operário. No rescaldo daquela greve, surgiu a Federação das Associações de Classe, o embrião da futura Federação Operária do Rio de Janeiro (FORJ), inspirada no modelo sindicalista revolucionário defendido pelos anarquistas.[32] A agitação grevista foi seguida por um ascenso organizacional do movimento operário, que culminaria, em 1906, na organização do Primeiro Congresso Operário Brasileiro, entusiasticamente divulgado pelos editores de A Terra Livre'. Ocorrido entre 15 e 22 de abril, estiveram presentes ao Congresso cerca de 43 delegados representando 28 associações de várias partes do país, entre eles os anarquistas Edgard Leuenroth, Manuel Moscoso, Luigi Magrassi, Mota Assunção e Alfredo Vasques, entre outros.[33] As resoluções aprovadas no Congresso refletiram a influência do sindicalismo revolucionário entre os delegados presentes. Assim, a neutralidade sindical, o federalismo, a descentralização, a ação direta e a greve geral, pautas levantas pelos militantes anarquistas, passaram a fazer parte do dos princípios dos sindicatos signatários das propostas do Congresso.[34] O Congresso decidiu, ainda, que uma confederação e um jornal sindical deveriam ser criados para prestarem auxílio às federações e dar voz ao coletivo de associações. Essa confederação, criada apenas em 1908, foi batizada de Confederação Operária Brasileira (COB) e o seu órgão de imprensa oficial, A Voz do Trabalhador.[35] Avaliando os resultados do Congresso, Neno observou que:

O Congresso não foi, de certo, uma vitória do anarquismo. Não o devia ser. A Internacional, desfeita por causa das lutas de partido no seu seio, deve ser memorável lição para todos. Se o Congresso tivesse tomado caráter libertário, teria feito obra de partido, não de classe. O nosso fim não é constituir duplicatas dos nossos grupos políticos. Mas se o Congresso se não foi, a vitória do anarquismo, foi, porém, indiretamente útil à difusão das nossas idéias. Muita gente, graças a uma lenda, filha da ignorância e da malícia, formam dos anarquistas um conceito estranho e supersticioso: fisicamente, imagina-se como monstros, de pêlo hirsuto, olhos esgazeados, berros atroadores, com as mãos cheias de dinamite.
A Terra Livre, 13/08/1906.[36]
 
Mercedes Moscoso e Neno Vasco, em 1905.

Profundamente envolvido em A Terra Livre, Neno logo iniciou uma grande amizade com Manuel Moscoso, que também editava o jornal e compartilhava com ele grandes afinidades políticas.[37] Ainda no ano de 1905, Neno terminou por casar-se com Mercedes Moscoso, irmã de Manuel, com quem teve quatro filhos.[38] Durante todo o período em que esteve no Brasil, Neno trabalhou como tradutor, editor e redator na imprensa operária e independente. Conseguia algum dinheiro com suas traduções e com artigos enviados para periódicos de Portugal, e frequentemente também trabalhou como tradutor em escritórios e firmas comerciais. Apesar de seu pai Vitorino ter lhe oferecido um emprego no Fórum Criminal de São Paulo, onde mantinha contatos profissionais, Neno recusou a oferta. Ainda que fosse formado em Direito pela Universidade de Coimbra, Neno acreditava que a advocacia era incompatível com a sua militância. Apesar de não compreender a atitude do filho, Vitorino lhe deu auxílio financeiro em momentos de maior dificuldade, embora tal situação causasse em Neno um certo embaraço.[39]

A partir de abril de 1907, A Terra Livre passou a ser editado no Rio de Janeiro, sob a administração do anarquista espanhol José Romero. O grupo que editava o jornal em São Paulo, junto aos anarquistas organizados em torno do grupo Novo Rumo, do Rio, perceberam a necessidade de se explorar as condições favoráveis proporcionadas pelo ascenso do movimento operário em torno do sindicalismo revolucionário após a realização do Primeiro Congresso Operário. Assim, decidiram que o periódico que se publicava inicialmente em São Paulo deveria ser transferido para a Capital Federal, até que a COB fosse fundada e o seu jornal, A Voz do Trabalhador, passasse a circular com alguma periodicidade.[40] Alguns meses antes, em janeiro, era promulgada a Lei Adolfo Gordo, que tinha como objetivo reprimir o movimento operário organizado através da expulsão de militantes anarquistas estrangeiros. O anarquismo era tratado pelo governo como uma ideologia exógena e nociva aos interesses nacionais. Apesar da lei ter gerado protestos, Neno avaliou que ela teria pouco impacto no movimento operário, percebendo que "na sua totalidade, os militantes anarquistas do Brasil, ou são brasileiros natos, ou são estrangeiros ali residentes desde longa data e ali ganhos à nossa causa".[41]

Ainda em 1907, Neno escreveu duas peças: O Pecado de Simonia e Greve dos Inquilinos. Para ele, os argumentos das peças de teatro precisavam ter relações com problemas contemporâneos, para que os trabalhadores pudessem assimilar melhor o seu conteúdo social. A primeira peça, de teor anticlerical, foi encenada no Centro Galego pelo Grupo Dramático Teatro Social, em conjunto com outras atividades para arrecadar fundos para A Terra Livre. A peça chegou a ser encenada em Madrid pelo grupo Tierra y Libertad. Greve dos Inquilinos, por sua vez, tratava sobre a carestia das classes trabalhadoras e os altos preços cobrados pelos aluguéis, sendo encenada também pelo Grupo Dramático Teatro Social, no mesmo Centro Galego. Embora suas peças tenham sido divulgadas em São Paulo, tiveram uma maior repercussão no Rio de Janeiro.[42]

Em 1908, a COB iniciava suas atividades no Rio de Janeiro e a A Voz do Trabalhador entrava em circulação, publicando em seu primeiro número o projeto da Confederação. Nessa primeira fase, que duraria até o ano seguinte, a COB empenhou-se em campanhas contra a expulsão de imigrantes e contra uma propalada guerra entre Brasil e Argentina, além de ter realizado comícios contra a execução, por parte do governo espanhol, do educador anarquista Francisco Ferrer.[43] Neno Vasco foi um dos militantes que mais colaborou com A Voz do Trabalhador, ainda que Manuel Moscoso tenha tido uma participação muito mais ativa no periódico da Confederação.[44] Com a publicação do órgão oficial da COB no Rio de Janeiro, a redação de A Terra Livre retornou a São Paulo, aumentando o tempo de Neno junto à sua família.[45] No mesmo ano, nascera Ciro, seu primeiro filho com Mercedes.[46]

Em 1909, a COB passaria por dificuldades e A Voz do Trabalhador deixou de circular. A situação foi causada por uma instabilidade econômica internacional que afetou os países periféricos e, especialmente no Brasil, foi marcada por um alto índice de desemprego e pela consequente desorganização do movimento operário.[47] Esforçando-se para manter ativa a imprensa militante, Manuel Moscoso passou a editar um novo periódico, chamado Liberdade!, que contou com a colaboração de Neno e buscava ser um órgão de propaganda especificamente anarquista.[48]

Em 1910, com a eclosão da Revolução Mexicana, Neno passou a encabeçar um comitê de auxílio aos revolucionários do México. Tratou de entrar em contato com os membros do Partido Liberal Mexicano, liderado pelos anarquistas Ricardo e Enrique Flores Magón. Animado com o movimento, Neno vislumbrava nos levantes do México a possibilidade de um primeiro passo para outros de mesmo tipo no continente americano. Os êxitos dos revolucionários mexicanos eram divulgados com entusiasmo pela imprensa anarquista do período.[49] Ao mesmo tempo, o movimento operário e o anarquismo passavam por um período de refluxo no Brasil.[50]

No âmbito pessoal, Neno teria sua primeira filha com Mercedes. O casal escolheu para a menina o nome Fantina, em razão da personagem do romance Os Miseráveis, de Victor Hugo. No início de 1910, nasceu Dino, o terceiro filho do casal. Entretanto, a saúde do menino foi comprometida por uma meningite. Dino veio falecer prematuramente, aos sete meses, trazendo grande tristeza para Neno e Mercedes. Neno afastou-se um tempo da militância, ainda que ser abandonar completamente o periódico A Terra Livre, que continuaria a ser publicado até novembro daquele ano, quando deixaria de circular após o seu 75º número. Nas semanas que se seguiram à morte de Dino, Neno esteve extremamente abalado, passando perceber a realidade brasileira como estranhamente hostil.[51] No entanto, logo Mercedes engravidou novamente e, em fevereiro de 1911, deu luz à Ondina, sua segunda filha com Neno.[52]

Concomitantemente, em outubro de 1910, a República havia sido proclamada em Portugal. Otimista, Neno tinha expectativas de que, com a mudança do regime, o operariado português pudesse alcançar novas conquistas. Já no ano seguinte, Neno decidiu retornar à Europa, rever os antigos companheiros e colaborar com o movimento operário português. Entre os motivos que justificaram a sua decisão, além da morte do filho, estava também a possibilidade de, uma vez em solo europeu, servir como um elemento de ligação entre os anarquistas brasileiros e portugueses.[53] Edgard Leuenroth, que havia se aproximado muito de Neno, tratou de formalizar essa relação envolvendo a continuidade das traduções, publicações e artigos que, a partir do estabelecimento de Neno em Lisboa, deveriam chegar ao Brasil via correspondência. A tarefa também renderia algum dinheiro para Neno, uma vez que, ao desembarcar em Portugal, estaria sem ocupação fixa por alguns meses. Assim, Neno garantiu o envio de notícias da Europa para o jornal anticlerical A Lanterna, dirigido por Leuenroth, e para o Diário de Porto Alegre.[54] Antes da partida de Neno, os anarquistas de São Paulo se reuniram no dia 4 de abril, na Cantareira, para prestar uma homenagem a ele e sua família.[55]

Retorno à Portugal

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No dia 19 de abril de 1911, a família Moscoso Vasconcelos embarcou nos vagões da São Paulo Railway em direção ao porto de Santos, para embarcar no navio Frísia, que chegava ao porto na madrugada do dia 20, vindo de Buenos Aires e com partida marcada para Lisboa no mesmo dia. A família se acomodara na terceira classe, uma vez que, com os parcos recursos de que dispunha, Neno pôde comprar apenas os bilhetes mais econômicos para a viagem.[56]

Uma vez em Lisboa, Neno se estabeleceu com sua família em um pequeno prédio em Algés e logo procurou entrar em contato com os seus pares, em particular, com o arsenalista Hilário Marques, editor da revista A Sementeira, criada em 1908 com o objetivo de divulgar o anarquismo no meio operário.[57][58] Por conta de sua militância no Brasil, Neno já encontrava algum prestígio entre os anarquistas portugueses, com os quais sempre procurou manter contato,[54] e logo tornou-se um colaborador de A Sementeira, escrevendo artigos e realizando traduções para a revista, além de se encarregar de sua correspondência.[59]

Apesar de proclamada a República em Portugal, após a sua experiência no Brasil e observando os acontecimentos recentes em seu país, Neno havia abandonado completamente o intervencionismo e entendia que a simples mudança de sistema político não poderia contribuir para a emancipação da classe trabalhadora. Tal como no Brasil, Neno criticou ferrenhamente os líderes operários envolvidos com os partidários do parlamentarismo.[60] O distanciamento do republicanismo por parte dos libertários deveria aparecer não somente nos discursos, textos e análises, mas também na própria estratégia a ser construída naquele contexto. Nesse sentido, Neno e os anarquistas portugueses defendiam que a entrada nos meios operários era a única alternativa possível para fomentar a revolução social, uma vez que consideravam evidente o afastamento dos republicanos com os interesses dos trabalhadores.[61] Neno também polemizou com os individualistas e antiorganizacionistas, agrupados em torno de António Gonçalves Correia e do jornal O Rebelde. Gonçalves Correia propunha a criação de comunas rurais dentro das quais os anarquistas poderiam experimentar, no âmbito da produção e do convívio fraterno, as transformações que almejavam. Neno, por sua vez, criticou essa concepção, em contraposição à organização dos anarquistas e a sua inserção no movimento operário.[62]

Quando chegou em Lisboa, Neno percebeu um ascenso organizativo do movimento operário em Portugal. Com a realização do Congresso Sindical e Cooperativista em setembro de 1909, que decidiu por rechaçar o envolvimento de partidos políticos nos sindicatos, adotar uma organização de tipo federalista e os métodos de ação direta, os anarquistas demonstraram sua influência entre o operariado português.[63] Em maio de 1911, quando Neno já se encontrava em Portugal, os trabalhadores organizavam um novo congresso sindicalista, onde as tendências do encontro anterior foram confirmadas. O congresso consagrou a ação direta como "o único método de luta capaz de conduzir os trabalhadores à sua completa emancipação” e recomendava, dentro da lógica federalista, o fortalecimento das uniões locais, de ofício ou de indústria, para que ali se efetivassem as federações locais, e, a partir de bases sólidas, se fundasse uma confederação sindical nacional.[64] Aproveitando o momento, Neno traduziu para A Sementeira um texto de Malatesta chamado "O Princípio da Organização", que tratava sobre a organização operária e os anarquistas. Nos números seguintes, temáticas relativas ao sindicalismo ocuparam as páginas da revista, além de anúncios de novas publicações, criação de grupos anarquistas em diversas regiões do país e informações sobre as greves e a evolução da organização operária. Para Neno, o trabalho de A Sementeira deveria ser o de aproximar a ideologia anarquista ao povo.[65]

Em linhas gerais, A Sementeira assumia as mesmas orientações que Neno já havia tomado no Brasil. Ele acreditava que a experiência brasileira tinha muito a contribuir com os esforços dos anarquistas portugueses. Compreendendo o anarquismo através de sua prática internacionalista, via a propaganda libertária não como uma questão nacional, mas como um aspecto fundamental de uma obra que deveria atingir toda a humanidade.[66] Escrevendo em A Sementeira, irá afirmar que,

Assim como se fala de aproximações comerciais e políticas, de missões diplomáticas e intelectuais, assim nós devemos encarar e realizar uma união – não na forma, muitas vezes vazia, mas no que constitui a essência, a carne, o sangue, dessa aliança – a incessante troca de recursos de toda a espécie. Nessa permuta de ideias, de correspondências, de publicações, de contribuições pecuniárias – e sobretudo de homens, para o conhecimento direto e pessoal dos ambientes e das pessoas – muito terão a ganhar o movimento anarquista de Portugal e o do Brasil, pois há falhas recíprocas que os dois, melhor ou pior, poderão suprir, amparando-se.
A Sementeira, maio de 1911.[67]

Em 1911, os anarquistas de Portugal se organizaram e realizaram, entre os dias 11 e 13 de novembro, o 1º Congresso Anarquista Português. O congresso decidiu fundar duas federações, uma na região Norte e outra na região Sul, e adotou o anarquismo comunista de Malatesta como uma linha mestra para a organização dos militantes de todo o território português. Essa movimentação foi vista de maneira muito positiva por Neno, que sempre defendeu a necessidade da organização dos anarquistas sob as bases de um programa ideológico bem definido.[68]

No ano de 1912, manifestações no campo chamaram a atenção de Neno. Já em janeiro, uma greve camponesa em Évora agitou a região, culminando no fechamento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Évora e na prisão de alguns trabalhadores rurais. Como consequência, os corticeiros, trabalhadores da construção civil e artes auxiliares, os sapateiros e pedreiros reuniram-se e decretaram greve em solidariedade. Os comerciários também declararam apoio aos grevistas do campo.[69] No segundo semestre daquele ano, também em Évora, ocorreu o 1º Congresso dos Trabalhadores Rurais, contando com a presença de 39 sindicatos.[70] Nessa conjuntura, Neno tratou de entrar em contato com Malatesta para realizar uma nova tradução do seu texto "Entre Camponeses", dedicado aos trabalhadores rurais.[69] Entusiasmado, o próprio Neno escreveu no mesmo ano o panfleto "Geórgicas: ao trabalhador rural)", que foi apreendido pelas autoridades alentejanas em Sines, em maio de 1913.[71]

Neno também continuou seus esforços para levantar fundos de apoio aos revolucionários mexicanos. Em 1911, foi criado no Porto o Comitê Pró-Revolucionários Mexicanos. No periódico A Aurora, os comunicados e documentos dos revolucionários magonistas eram divulgados.[71] Pouco antes de partir para Portugal, Neno havia incumbido Leuenroth de remeter o montante apurado das subscrições no país para os revolucionários mexicanos. No Rio de Janeiro, o periódico anarquista A Guerra Social, dirigido por João Arzua, já em seu primeiro número demonstrava um apoio entusiasmado à campanha em prol da Revolução Mexicana. Neno manteve contatos estreitos com Arzua, e na época, escreveu diversos textos para o seu periódico. Embora a intensificação da propaganda dos revolucionários magonistas tenha se dado em Portugal com o desembarque de Neno, ela acabou coincidindo com a eclosão do movimento rural. Com a mobilização dos trabalhadores do campo, A Aurora intensificou a propaganda dos êxitos Revolução Mexicana.[72] Em Lisboa, Neno administrava os fundos arrecadados por subscrição para os magonistas, enviados periodicamente para a Junta Organizadora do Partido Liberal Mexicano, aos cuidados de Manuel Garza. Os recursos eram convertidos em dólar e Neno, apesar da distância, contava com a ajuda de Leuenroth para a contabilidade do montante. O dinheiro arrecadado pelos anarquistas brasileiros e portugueses foi enviado para Emma Goldman, que recebia os valores em Nova York e repassava-os aos mexicanos radicados na costa oeste dos Estados Unidos.[73] Em Portugal, diversas veladas e festivais eram organizadas em prol dos revolucionários mexicanos. Trabalhadores portugueses e até mesmo soldados da infantaria e da artilharia do Exército Português mandaram cartas ao presidente americano William Howard Taft exigindo a libertação de Ricardo Flores Magón, então preso na penitenciária da ilha de McNeil.[74]

Apesar de todos os esforços para promover a ideologia anarquista, em 1912 Neno e sua família encontravam-se em uma situação financeira bastante delicada. Ele recebia do Brasil os valores correspondentes aos artigos que enviava para os periódicos A Noite, do Rio de Janeiro, A Lanterna de São Paulo e o Diário, de Porto Alegre. No entanto, esses recursos nunca chegavam na sua totalidade. Em uma situação extrema, Neno chegou a recolher parte das subscrições em apoio aos revolucionários mexicanos para saldar suas dívidas adquiridas com os merceeiros de Lisboa. Na época, chegou a pedir ajuda financeira ao pai, que só pôde enviar-lhe um terço do valor necessário. Escrevendo para Edgard Leuenroth, explicou a situação e pediu para que ele recorresse novamente ao seu pai, para que este lhe adiantasse a soma do dinheiro que restava para saldar a dívida com os magonistas. Ainda na mesma carta, Neno manifestava o seu desapontamento com seu cunhado Manuel Moscoso, que havia se comprometido em enviar o dinheiro correspondente aos valores das passagens de sua mãe e de suas irmãs, que iam morar em Portugal com Neno e Mercedes, mas que, até aquela data, não o fizera. Neno mantinha contatos frequentes com Leuenroth, e segundo ele, o dinheiro recebido pelos artigos de A Lanterna eram a garantia que salvava a família da "miséria extrema" em Portugal.[75] Além das dificuldades materiais e de ordem financeira, Neno recebeu em março a notícia do suicídio de Manuel Moscoso, fato que trouxe ainda mais sofrimento para a família. Inicialmente, ele ocultou a notícia de sua companheira Mercedes, pedindo para que endereçassem as cartas com maiores detalhes ao escritório de A Sementeira, para evitar suspeitas. No entanto, o fato logo foi revelado à ela. Aurora, a mãe de Manuel e Mercedes, tomou conhecimento da morte do filho apenas meses depois, através de uma carta de Adelino de Pinho, que, todavia, ocultava o fato de que ele havia cometido suicídio.[76]

Apesar das adversidades e mesmo sem um emprego formal que lhe garantisse uma renda fixa e passando por dificuldades, Neno colaborava gratuitamente com A Sementeira e A Aurora, traduzindo artigos, escrevendo contos e artigos que enviava também para os periódicos brasileiros A Lanterna e A Guerra Social. Além disso, corrigia os erros de impressão dos jornais e opúsculos que chegavam do Brasil e cuidava para que fossem encaminhadas para os leitores de ambos os países as assinaturas das publicações das quais era responsável. Durante o período, manteve com os militantes brasileiros uma constante relação de propaganda, solicitando periódicos do Brasil para os anarquistas portugueses e enviando periódicos de Portugal para os anarquistas brasileiros.[77] Entretanto, em função de sua difícil situação financeira, algumas vezes Neno não conseguia enviar suas correspondências ao Brasil, e muitas vezes encontrava-se fatigado e desmotivado.[78] Preocupado em garantir sua permanência nos meios de propaganda libertária, Neno lançou em 1912 uma série de opúsculos com a ajuda de Lima da Costa, também colaborador de A Sementeira, chamada "A Brochura Social". Entre os títulos, havia traduções de Fernand PelloutierA União dos Sindicatos e a Anarquista —, Max NettlauA Responsabilidade e a Solidariedade na Luta Operária —, Malatesta — A Política Parlamentar no Movimento Socialista —, entre outros. Investindo na tradução de folhetos de propaganda, via a possibilidade de introduzir no meio sindical lógicas e concepções permeadas pelas premissas libertárias. No que dizia respeito as suas necessidades financeiras, Neno acreditava que as traduções representavam uma saída para os apertos econômicos, especialmente as que eram encomendadas do Brasil, onde os valores pagos eram superiores e lhe garantiam uma maior tranquilidade. Em maio de 1913, também publicou o seu livro Da Porta da Europa.[79]

Em 1913, o governo português, então liderado por Afonso Costa, recrudescia a repressão sobre o movimento operário, especialmente após um atentado à bomba no qual dois anarquistas foram tidos como os responsáveis. O atentado ocorreu no dia 10 de junho, durante a celebração das festas camonianas em Lisboa. Quando o desfile subia o Chiado, incorporou-se à ele alguns operários e desempregados. Junto ao Rossio, em torno de um quiosque conhecido como A Bóia, onde habitualmente se vendiam publicações libertárias e se juntavam anarquistas, concentravam-se diversos sindicalistas que tinham preparado uma bandeira negra com a inscrição "pão ou trabalho". A polícia logo tentou arrancar o estandarte das mãos de seu portador, Valério Benjamin Ferreira. Quando ele foi detido, uma bomba explodiu junto ao Hotel Universo na rua Nova da Carmo, matando imediatamente um jovem vendedor de hortaliças chamado Álvaro Rodrigues, de 17 anos, e ferindo ainda mais trinta pessoas. Antônio Quintino de Sousa foi apontado como o lançador do artefato explosivo.[80] O ato serviu de pretexto para o governo fechar a Casa Sindical e deter militantes sindicalistas como António Pinto Quartin, Alexandre Vieira, Carlos Rates, Artur Parente, Evaristo Esteves, Henrique Morais, João Caldeira e José Maria Gonçalves.[81] Os grupos anarquistas logo enviaram esclarecimentos à imprensa diária, procurando demarcar sua posição. A Federação Anarquista da Região Sul e o semanário Terra Livre repudiaram e condenaram o conjunto dos acontecimentos. Os socialistas, por sua vez, emitiram uma nota no mesmo dia condenando o atentado e classificando o "ato dos sindicalistas" como criminoso, buscando uma aproximação com os republicanos e afastar-se da repressão.[82] Apesar das adversidades, o movimento sindical crescia, e para maior eficiência na intervenção e na divulgação de suas posições, Neno e os anarquistas de A Sementeira suspenderam a publicação da revista em favor do periódico Terra Livre, mais ágil e diretamente voltado para o movimento operário. O periódico passou a ser editado semanalmente a partir de fevereiro de 1913.[81] Além da fundação do Terra Livre, o ano foi marcado pela instituição de uma comissão central da União das Associações de Classe de Lisboa, com o objetivo de organizar protestos contra a carestia; foi celebrado, também em Lisboa, o Primeiro Congresso Nacional dos Operários da Indústria do Calçado e, em Évora, o Segundo Congresso dos Trabalhadores rurais. Ao mesmo tempo, surgiam as Juventudes Sindicalistas e novos grupos anarquistas eram criados em Lisboa, Porto e Aveiro.[83]

Em defesa dos sindicalistas presos, Neno articulou uma campanha de solidariedade internacional, contatando Edgar Leuenroth. A iniciativa repercutiu nos meios operários brasileiros, fazendo com que as organizações do Rio de Janeiro e São Paulo se dirigissem a Bernardino Machado, ex-anarquista e que agora representava a legação portuguesa no Rio, para exigir a libertação dos sindicalistas presos. A Federação Operária do Rio de Janeiro e a Confederação Operária Brasileira entregaram moções a Machado exigindo ao governo português o fim das perseguições, ameaçando convocar comícios de protesto. Como resposta, Machado fez publicar uma nota no jornal Correio da Manhã, onde se comprometia em atender as reivindicações dos operários brasileiros. Além dos periódicos brasileiros A Voz do Trabalhador, Germinal, La Barricata e A Lanterna, somaram-se à campanha de solidariedade os anarquistas de Les Temps Nouveaux e La Bataille Syndicaliste, da França; os espanhóis de Tierra y Libertad; os ítalo-americanos reunidos em torno de Cronaca Sovversiva e os veteranos Luigi Fabbri e Errico Malatesta. Fechado o Terra Livre, o periódico O Protesto, de idêntica orientação e contando também com a colaboração de Neno, passou a ser responsável pela campanha em Portugal.[84]

Mesmo residindo em Portugal, Neno não se desligou dos debates que eram travados entre os anarquistas brasileiros, tomando posições em favor dos anarquistas organizacionistas contra os individualistas e antiorganizacionistas, agrupados em torno do jornal La Batagglia e La Barricata. Enquanto Neno defendia a necessidade da organização e a inserção dos anarquistas no movimento sindical, os antiorganizacionistas defendiam a tese de que o sindicalismo, por seu caráter reformista, nada tinha em comum com o anarquismo. Essa posição foi duramente combatida por Neno e pelos seus companheiros mais próximos, como Edgar Leuenroth.[85] Dentro do campo organizacionista, Neno também tomou parte nas polêmicas que antecederam a realização do Segundo Congresso Operário Brasileiro de 1913. Em A Voz do Trabalhador, João Crispim, militante ligado à Federação Operária Local de Santos (FOLS), chegou a defender a tese de que as organizações operárias, para evitar os riscos de burocratização e reformismo e se tornarem instrumentos realmente combativos e emancipadores, deveriam se declarar abertamente anarquistas, abandonando o princípio da neutralidade política e seguindo o exemplo da Federación Obrera Regional Argentina (FORA). Neno rebateu as teses de Crispim, insistindo na defesa dos princípios da neutralidade política e religiosa como sendo a única possibilidade de agregar a classe trabalhadora.[86] Um sindicato declaradamente anarquista e formado apenas por elementos libertários, segundo Neno, traria uma série de inconvenientes, uma vez que,

... como os anarquistas são uma pequena minoria, esse grupo será reduzido e reduzida será a sua influência para suscitar os grande movimentos de massa, não só por causa do seu número, mas ainda porque, separados das massas e entregues a si mesmos, os anarquistas tendem a tornar-se exclusivamente teóricos e a cultivar apenas o ideal que, não podendo, de golpe e à força de propaganda abstrata, ser compreendido pela maioria, não pode levar esta à ação e a organização necessárias.
A Voz do Trabalhador, 01/09/1913.[87]

Discussão semelhante também acontecia em Portugal, onde Neno e Afonso Costa travaram debates na imprensa operária com os sindicalistas Manuel Ribeiro e Carlos Rates. Enquanto os primeiros defendiam as teses apresentadas por Malatesta no Congresso Anarquista de Amsterdã de 1907, de que o sindicalismo seria apenas um meio para se chegar ao objetivo final dos anarquistas — a construção da sociedade futura — e que estes deveriam atuar no sentido de esclarecer os operários através da propaganda libertária e da organização em grupos especificamente anarquistas, os últimos afirmavam que o sindicalismo se bastava em si mesmo e já era uma "forma histórica" assumida pelo anarquismo.[88] (desenvolver mais?)

Em meio a debates e polêmicas, o movimento operário português seguia seu ascenso organizativo e, em março de 1914, Congresso Operário de Tomar, contando com a adesão de 103 sindicatos e 7 federações, aprovará a constituição da União Operária Nacional (UON), influenciada pelas teses do sindicalismo revolucionário. A UON afirmava não pertencer a “nenhuma escola política ou doutrina religiosa, não podendo tomar parte coletivamente em eleições, manifestações partidárias ou religiosas” e propunha uma organização de tipo federativo, em que “cada organismo aderente conserva integralmente a sua autonomia no que respeita ao seu funcionamento especial”.[89]

Os anarquistas portugueses, por sua vez, também se organizavam. Já nos primeiros dias de 1914, Neno esteve no Porto junto de Mercedes e outros companheiros de militância, a convite do grupo editor de A Aurora. O evento ocorreu no antigo Teatro Antero de Quental, no bairro das Antas, e serviu tanto para aproximar os anarquistas de várias partes do país como para protestar contra as arbitrariedades do governo contra o movimento operário. Aurélio Quintanilha e Sobral de Campos, ambos do grupo A Brochura Social, discursaram na situação. Na mesma ocasião, os anarquistas do sul e do norte iniciaram as conversações no sentido de realizar um novo congresso anarquista no país. Em Lisboa, a Federação Anarquista da Região Sul já se reunia com seus grupos filiados no mês de maio. Neno participou dessas discussões, alimentando a ambição de que resultasse dos debates uma orientação firme na constituição de uma organização anarquista nacional. Um diagnóstico das organizações anarquistas do país dava conta da existência da Federação Anarquista da Região Norte, da preparação da Federação Anarquista Regional do Centro e do enfraquecimento da Federação Anarquista da Região Sul, em função de suas próprias incoerências e divisões internas, apesar de já possuir um órgão de imprensa e tradição militante. No âmbito das deliberações, ficou resolvida a criação de uma comissão para encaminhar a realização de congressos regionais no norte, centro e sul do país. Além disso, os militantes envolvidos deveriam iniciar uma campanha para levantar fundos que possibilitassem o envio de delegados para um Congresso Anarquista Internacional a ser realizado em Londres, mas que não ocorreu em razão da Primeira Guerra Mundial.[90]

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Com a convergência das discussões entre os grupos e regiões, ficou decidida para o verão a realização de congressos regionais que deveriam acontecer em Lisboa, Coimbra, Porto e Faro. Em junho, no prédio da Caixa Econômica Operária, os anarquistas celebraram a Conferência Anarquista da Região Sul, que contou com a participação de Neno Vasco.[91] Durante as três sessões da conferência, Emílio Costa e Antônio José de Ávila assumiram a coordenação das atividades. Depois de relatas à plenária as atividades de seu grupo, Aurélio Quintanilha teria, no momento de defender a tese escrita por Neno, chamado-o para ocupar um lugar de destaque para prestar possíveis esclarecimentos. Porém, tomado por sua timidez, Neno negou o convite e abandonou, de forma repentina e abrupta, o salão de reuniões.[92] Apesar disso, sua tese foi lida e teve uma importância fundamental para as deliberações da conferência, que decidiu pela aproximação definitiva entre o anarquismo e o sindicalismo. A tese de Neno, inspirada em Malatesta, afirmava que o "anarquismo operário", que havia surgido com Bakunin no seio da AIT, era sindicalista antes do surgimento do termo, e que após a repressão que se seguiu à Comuna de Paris e aos atentados anarquistas realizados no fim do século XIX, ressurgia sob o nome de "sindicalismo revolucionário". Neno recomendava o anarquismo como o ideal finalista, da sociedade sem Estado, "sem privilégio político e econômico", e o sindicalismo enquanto um método de luta, para "a necessidade da organização para a luta de classes, para a expropriação dos capitalistas e para a reorganização da sociedade".[93] Apesar disso, os sindicalistas não deveriam confiar exageradamente nas "virtudes intrínsecas do sindicatos" e nem subestimar a propaganda e a ação das minorias ativas no conjunto de fatores que levariam às transformações revolucionárias desejadas.[94]

Com o início da Primeira Guerra, “… os operários tratavam de definir sua bandeira e, ao menos no caso português, ela pendeu para a propaganda pacifista que, em última análise, representava um opção tática em favor do internacionalismo. A movimentação nesse sentido não parou de crescer”. (p. 399) – O Partido Socialista Português, por sua vez, manifestou apoiou aos Aliados.

“Na primavera de 1915, Neno recebia um postal de Antônio Alves Pereira, enviado da estação ferroviária de Monforte, na Galícia. O conteúdo da missiva dava conta da expulsão do território espanhol de Serafim Cardoso Lucena, Aurélio Quintanilha, Manuel Joaquim de Sousa, Ernesto de Costa Cardoso e Maria Veloso. O fato devia-se à delegação da qual foram investidos os portugueses para a representação de entidades sindicais no Congresso Internacional da Paz, em Ferrol. (p. 399) O evento, convocado pelo Ateneu Operário Sindicalista de Ferrol, dentro do qual encontrava-se o experiente militante José López Bouza, pretendia mobilizar os grupos revolucionários para um grande esforço conjunto no sentido de serem definidas as bases para uma campanha mundial contra as manobras militares. Por outro lado, tratava-se também da retomada das conversações dos grupos anarquistas que, uma vez constatada a “capitulação da II Internacional” aos interesses burgueses e da não realização do Congresso de Londres, previsto para 1914, intentavam estruturar uma ação internacional mais eficiente. O governo espanhol, sabendo da convocação para o encontro tratou de proibi-lo, acusando seus organizadores de “germanófilos”. Assim, em abril, por decreto, o Congresso ficava oficialmente impedido de acontecer. Apesar do veto governamental, Bouza insistiu em continuar com os preparativos, uma vez que muitos militantes, vindos de outras partes, já estavam chegando a Ferrol”. (p. 399-400)

“A UON, majoritária pacifista, apoiou o Congresso Internacional da Paz. Os delegados portugueses foram, dessa forma, investidos da representação da União que reafirmava através da participação o caráter internacionalista de sua orientação política”. (p. 400)

“Na primeira sessão, que se realizou em ambiente fechado, por força da segurança, foram tomadas medidas concretas em favor do tema central. Criava-se um Comitê Permanente do Congresso Internacional da Paz, com sede em Lisboa, que ficaria responsável pela publicação de manifestos a serem distribuídos nas línguas nacionais de cada país envolvido na guerra. A proposta, de autoria de Constâncio Romeu, anarquista da Corunha, tinha inspiração nas proposições do Manifesto de Faure. Outra deliberação importante ia no sentido de unificar as forças libertárias e operárias ibéricas, no âmbito de uma Federação, através da formação de uma célula inicial, que se somaria àquela que seria a Federação Internacional dos Sindicatos Operários”. (p. 401)

“Os congressistas, após se recolherem, ao fim da primeira sessão, em uma modesta pousada de Ferrol, não puderam terminar tranqüilamente a noite de sono. Lá pelas 4 da manhã, apenas duas horas depois de encerrada a primeira sessão do Congresso, o chefe de polícia, acompanhado de soldados e agentes, fez saltar da cama os delegados portugueses e o representante da COB, João Castanheira, que ali se encontrava. Foram todos levados a Alcaldia, para posterior expulsão do território espanhol. Tudo havia se passado na madrugada de 30 de abril. No dia seguinte, a plenária acontecia de forma ainda mais secreta. Na sua segunda sessão os delegados discutiram e deliberaram pela reconstrução da CNT, pela publicação de um órgão de imprensa específico, o Solidaridad Obrera, e pela refundação da Associação Internacional dos Trabalhadores, a velha AIT, apelando-se inclusive para os estatutos aprovados no Congresso de Genebra em 1868, com ligeiras atualizações”. (p. 401)

“No campo estritamente ideológico, deliberou-se pela criação de uma Associação Internacional Anarquista que, seguindo o método adotado na questão operária, veria fundado apenas o seu “Comitê espanhol”. A tarefa de garantir o funcionamento de tal Comitê recaía sobre o grupo anarquista Tierra y Libertad, de Barcelona”. (p. 402)

“Ainda antes do fim do encontro de Ferrol, chegou ao conhecimento de alguns dos presentes a notícia da morte do delegado brasileiro, João Castanheira, no caminho entre Ferrol e Vigo, ainda sobre a guarda da polícia galega. A possibilidade de ter a morte sido ocasionada pela guarda civil levou imediatamente à mobilização dos que ainda permaneciam na plenária no sentido de se promoverem manifestações de agravo em vários países. (…) Entretanto, a notícia acabaria por ser desmentida, uma vez que as autoridades afirmavam ter Castanheira embarcado no vapor “Gerín”, rumo ao Brasil, no dia 5 de maio. Fato é que posteriormente Castanheira esteve presente em Lisboa, em mais de uma conferência, para, em colaboração com Joaquim Nogueira, da União dos Sindicatos, e Manuel Campos, da União Anarquista Comunista, apresentar as resoluções do Congresso de Ferrol”. (p. 402)

“Outro militante anarquista presente ao Congresso de Ferrol, com relações pessoais no Brasil, é Antônio Filgueira Vieytes. (…) Ainda na Espanha ele enviou ao Rio de Janeiro, em junho, aos cuidados de Astrojildo Pereira, uma mensagem solicitando que se fizesse no Brasil um Congresso para discutir pontos semelhantes aos abordados em Ferrol. Vieytes afirmava a necessidade de se organizar na América Latina uma entidade capaz de, uma vez articulada com a ibérica, dar fundamento a AIT e a Associação Internacional Anarquista que deveriam ser sustentadas a partir dessas novas bases”. (p. 403)

“Em favor de tal perspectiva, o Congresso Internacional da Paz, no Rio de Janeiro, abria suas portas em 14 de outubro de 1915. Vieytes, em companhia de Astrojildo Pereira, estava lá para presidir a primeira sessão como membro da Comissão Organizadora do Congresso. Foram aprovadas na primeira sessão as manifestações internacionais contra a guerra, as igrejas e todos os “credos políticos e filosóficos” que ajudassem na perpetuação do regime de desigualdade social e dividissem o operariado em unidades nacionais sem levar em consideração a luta de classes internacional. Nas medidas concretas ficava deliberado que o boicote, a greve geral e a sabotagem poderiam e deveriam ser utilizados. O delegado da FORA do IX Congresso. Bautista Mansilla, na mesma linha da moção aprovada em 1913 no Segundo Congresso Operário, (p. 403) defendeu a convocação de um Congresso Operário Continental para a criação da Confederação Operária Sul-Americana, que deveria se filiar a AIT, como o meio mais eficiente de mobilizar os países contra a guerra. Florentino de Carvalho, representando a Associação de Universidade Popular de Cultura Racionalista, entendia que as pressões teriam mais efeito sobre o ânimo dos povos dos países neutros no conflito”. (p. 403-404)

“Na segunda sessão, no dia seguinte, foi definido o apoio a AIT e às estratégias que para sua consolidação se faziam necessárias. Além disso, foram discutidos problemas relativos ao ensino racionalista e ao militarismo. Na terceira sessão, durante a qual dirigiu os trabalhos Manuel Campos da União Anarquista Comunista da Região Sul de Portugal, no dia 16, Vieyte e Mansilla apresentaram a moção sobre a Internacional que, segundo os proponentes, acabava por executar as deliberações do Segundo Congresso Operário Brasileiro, da FORA e das organizações do Uruguai e Chile. No geral, inspirado pelos objetivos já expostos por Mansilla na primeira sessão, deveria ser criado um Comitê de Relações Internacionais, com sede no Rio de Janeiro, e este teria de formular as bases de um pacto sobre o qual iria funcionar a futura Confederação”. (p. 404)

“Os debates sobre a moção estenderam-se por longas horas e, por não haver acordo, a discussão acabou por dar ensejo a outros assuntos como: o ofício enviado pela Confederação de Sindicatos Operários Mexicanos, solicitando a condenação da intervenção estrangeira no país e, finalmente, (p. 404) com o apoio da plenária, a criação de um Comitê de Relações Internacionais, com 5 membros de cada Federação Operária do continente, para a organização de ações contra a guerra. As resoluções do Congresso Internacional, ao que parece, ficaram muito distantes do pretendido pelos organizacionistas de ambos os lados do Atlântico”. (p. 404-405)

“Nos dias que se seguiram ao Congresso Internacional da Paz, mais precisamente entre 18 e 20 de outubro, na sede da COB, que ficava na praça Tiradentes, no 71, os anarquistas celebraram o Congresso Anarquista Sul-Americano. (…) Apesar das críticas de alguns antiorganizacionistas, o Congresso aconteceu com a presença dos dois argentinos que haviam participado do evento anterior consagrado à paz. Durante as sessões, foram discutidos assuntos que versavam sobre as estratégias para a obtenção da paz, as leis de exceção, o significado do 1o de Maio e a imprensa anarquista. Como resultado, o Congresso que, por não ter participação significativa de outras organizações do continente, acabou sendo chamado de Congresso Anarquista Nacional do Rio de Janeiro, resolvia por adotar o jornal Na Barricada como órgão específico dos anarquistas no Brasil. Aparecia também aqui a preocupação em garantir espaço à ideologia diante dos demais periódicos essencialmente operários”. (p. 405)

“Em março de 1915, chegavam outras notícias do Brasil e Neno Vasco tomava conhecimento da crise pela qual passava A Lanterna. Leuenroth, ainda assim, não deixava de remeter, dentro dos seus limites orçamentários, as letras bancárias pelos malotes oceânicos. Eram tempos difíceis, às vezes, como acontecera com o navio “Guadeloupe”, torpedeado por um submarino alemão, as cartas e letras não chegavam ao destino”. (p. 405)

Neno Vasco em Lisboa mantem-se intimamente ligado à militância. Ainda que domiciliado em seu país natal, permaneceu entregue a privações materiais e dissabores domésticos. Antes de falecer vitimado pela tuberculose, em 1920, perderia meses antes a esposa Mercedes, arrastada à sepultura pelo mesmo mal. Contudo, antes de ter sua vida consumada pela pobreza, foi um dos mais ativos anarquistas do período. Graças a ele jornais foram criados, traduções de textos clássicos foram realizadas, revistas editadas e congressos operários celebrados. Muitas dessas iniciativas contaram com a colaboração de seus contatos no Brasil, algumas delas, como foi a tentativa simultânea de levante nos dois países, em 18 de novembro de 1918, de clara inclinação revolucionária e operária. Em 1919, foi um dos grandes entusiastas da criação do jornal sindicalista revolucionário A Batalha, bem como da Confederação Geral do Trabalho portuguesa. (p. 33)

Notas

  1. Termo utilizado para identificar os anarquistas que colaboravam com os republicanos e que, com estes, compartilhavam algumas táticas no combate à monarquia em Portugal.

Referências

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