O vinho quente (português europeu) ou quentão (português brasileiro) é uma bebida quente de origem européia feita com vinho tinto e especiarias. É uma bebida tipicamente alcoólica, embora existam versões sem álcool. Nos países europeus é tradicionalmente bebido durante o inverno e é freqüentemente associado com as festividades de Natal[1]. Na região sul do Brasil, essa bebida é tradicionalmente servida durante as quermesses e festas juninas, que são celebradas no princípio do inverno.[2][3][4]

Vinho quente com limão

O ato de misturar especiarias em vinho remonta aos antigos gregos, que as adicionavam para prevenir o desperdício de vinho prestes a vencer, e para se aproveitar as propriedades medicinais das ervas[5]. Os gregos chamavam esse vinho com especiarias de "hippocras", em homenagem a Hipócrates, considerado por alguns o pai da medicina[6][5]. Os romanos desenvolveram uma bebida similar à dos gregos: o autor romano Marcus Gavius Apicius, no seu compêndio da culinária romana conhecido como Apicius Culinaris, descreve uma receita romana conhecida como conditum paradoxum[6][7][8], que consistia de vinho quente com especiarias e mel[9].

Scrooge e Bob celebram o Natal com uma caneca de smoking bishop em "A Christmas Carol" de Charles Dickens. Ilustração de John Leech, 1843.

Durante a idade média, o vinho quente ganhou popularidade na Europa e eventualmente sacos prontos com especiarias podiam ser encontrados em mercados europeus com o intuito de fazer vinho quente, entre eles o hippocras[7]. No Reino Unido, vinho quente é conhecido como mulled wine (vinho temperado), e se popularizou como uma bebida de natal[10]; essa fama se ampliou nas terras de língua inglesa com a popularidade do livro A Christmas Carol por Charles Dickens, que faz referência a uma receita vitoriana de vinho quente conhecida como "smoking bishop" (bispo fumegante)[11]. O dicionário de inglês estadunidense Merriam-Webster sugere que o verbo inglês "mull", quando carrega o significado "esquentar, adoçar e temperar (vinho ou cidra) com especiarias" é registrado pela primeira vez em 1618, durante a alta idade média[12].

As especiarias usadas para fazer vinho quente variam. O smoking bishop mencionado por Dickens, por exemplo, é feito com vinho do Porto, vinho tinto, limão (siciliano), laranja-azeda, açúcar e especiarias como cravo. Uma variedade francesa "vin chaud" sugere adicionar laranja, canela, conhaque e cravo; variedades portuguesas sugerem adicionar vinho do Porto; uma outra variante alemã chamada "Glühwein" sugere adicionar cardamomo; uma versão nórdica conhecida como "gløgg" usa amêndoas e brandy[13], e assim sucessivamente.

Vinho quente também se popularizou na Escandinávia. Segundo o museu de Vinhos e Destilados em Estocolmo, o rei Gustavo I Vasa gostava muito de uma bebida feita de "vinho alemão, açúcar, mel, canela, gengibre, cardamomo e cravo"[14]. Em 1609 essa bebida ficou conhecida como "glögdad vin", significando "vinho escaldante". Em 1870 o termo foi publicado de maneira simplificada como "glögg"[15].

No Brasil, o vinho quente é conhecido na região sul como "quentão" e consiste em uma mistura aquecida de vinho, gengibre, açúcar e especiarias como cravo e canela[16]. Segundo o folclorista Amadeu Amaral, em O dialeto caipira (1920), "quentão" é uma palavra de origem caipira.[carece de fontes?]

Nas regiões sudeste e nordeste do Brasil, "quentão" é o nome dado a uma bebida similar feita com cachaça ao invés de vinho. A variação se dá devido às grandes produções canavieiras dessas regiões e maior dificuldade de acesso ao vinho que é mais largamente produzido na região sul.

Referências

  1. «Mulled Wine». British Food: A History (em inglês). 24 de dezembro de 2011. Consultado em 21 de fevereiro de 2017 
  2. «Quentão é opção para esquentar dias mais frios; veja como fazer a bebida». G1 Paraná. 16 de junho de 2015. Consultado em 15 de abril de 2024 
  3. Livia Amaral. «Receita de Quentão paranaense». Comida e Receitas. Consultado em 15 de abril de 2024 
  4. «Feiras de Inverno começam nesta quarta com pinhão, quentão e artesanato». Prefeitura Municipal de Curitiba. 11 de junho de 2019. Consultado em 15 de abril de 2024 
  5. a b «Hippocras Recipes». www.historicfood.com. Consultado em 21 de fevereiro de 2017 
  6. a b «The Long, Storied History Of Mulled Wine». VinePair (em inglês). 11 de outubro de 2016 
  7. a b «Medieval Mulled Wine – Medieval Histories». Medieval Histories (em inglês). 9 de dezembro de 2015 
  8. Asfora, Wanessa. «APICIUS: ASPECTS OF INCORPORATING A COOKBOOK ON EARLY MIDDLE AGES (8th and 9th centuries)» (em inglês) 
  9. «Conditum Paradoxum - Ancient Roman Honey Wine - Mead Crafter». wayback.archive.org (em inglês). Consultado em 21 de fevereiro de 2017 
  10. «Warming beer, making mulled ale or flip the traditional way». www.oldandinteresting.com (em inglês). Consultado em 21 de fevereiro de 2017 
  11. Dickens, Cedric. Drinking with Dickens (em inglês). [S.l.: s.n.] p. 54. ISBN 9780882548791 
  12. «Definition of MULL». www.merriam-webster.com (em inglês). Consultado em 21 de fevereiro de 2017 
  13. «8 Delicious Mulled Wine Recipes From Around The World». VinePair (em inglês). 14 de outubro de 2015 
  14. «Glögg «  Spritmuseum». spritmuseum.se (em sueco). Consultado em 21 de fevereiro de 2017 
  15. «Believe In Glögg: All You Need To Know About Mulled Wine». The Huffington Post (em inglês) 
  16. «Tradicional quentão é receita indispensável nas festas juninas». Vida rural. 25 de junho de 2014