Zorós

povo indígena Zoró
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Os Zorós são um grupo indígena que habita o Noroeste do estado brasileiro do Mato Grosso, mais precisamente a Área Indígena Zoró. São da família linguística Mondé e falam a lingua Pangyjej como uma variante dialetal própria. E tem a língua portuguesa como a segunda língua.[2][3]

Zoró
População total

711[1]

Regiões com população significativa
 Brasil (MT) 711 2014 (Siasi/Sesai)
Línguas
Pangyjej e Português
Religiões
Evangélica

Etimologia

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O nome Zoró tem origem na palavra monshoro (cabeça-seca), que significa um termo depreciativo na língua dos Suruís, que em épocas passadas eram vizinhos inimigos dos Zorós. A palavra monshoro foi abreviada para shoro e depois, com o passar do tempo, zoró. Os Zorós se autodenominam Pangyjej, mas utilizam a denominação Zoró para as relações com não índios, até mesmo utilizando-a como sobrenome para registros civis.[2][3]

Organização social

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Família

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A descendência é via paterna, a mãe não define grau de parentesco. O cacique é chamado de Zawi-ai e o pajé é chamado de Wãwã. Usam o termo Kutkut para designar avós e avôs, maternos e paternos, tio materno e tia paterna. Papa para pai e tio paterno. Ngaj para mãe e tia materna. Mbat para irmã e primas paralelas. Zano para irmão e primos paralelos. Netup para filhos próprios e filhos do irmão. Wajit para filhas próprias e filhas do irmão. Opep filhos da irmã e filhos da tia paterna. Õzaj para filhas da irmã e filhas da tia paterna. Nzerat para netos. Ma-kaman (filho dos outros) para filhos do tio materno.[2][3]

Tradicionalmente, a preferencia era de casamentos endogâmicos, mais acentuada por casamentos avuncular e primos cruzados (filho do tio materno ou filho da tia paterna). E consideram incestuosa a união de primos paralelos (filho do tio paterno ou filho da tia materna). A poligamia era autorizada para os pajés, os guerreiros e alguns caciques. E ocasionalmente ocorria casamentos com outras etnias. Atualmente, a poligamia é proibida, mas a preferência por casamento endogâmico permanece.[2][3]

Aldeia

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A princípio, as aldeias eram formadas de uma a várias famílias extensas, consanguíneas. E possuíam uma política e economia própria. Moravam em malocas de formado oblongo, construídas de madeira e palha de babaçu. A distribuição espacial da aldeia se dava com um pátio para as atividades cotidianas e atividades coletivas, um curral cercado próximo a maloca, o bekã (oficina) onde confeccionavam armas, adornos corporais e recepcionavam os convidados das festas e a roça um pouco mais afastado da aldeia. A distribuição espacial da maloca se dava com uma área ao lado da porta reservada para o preparo do alimento e do outro lado uma área para o preparo da bebida chicha; logo após, um lado é reservado pelo cacique, e do outro, pelo pajé; seguindo, as áreas reservadas as famílias (filhos e irmãos) do cacique e do pajé, obedecendo ao lado onde estão ocupando; após, vem a área reservada para as outras pessoas ocupantes da maloca.[2][3]

Nos anos de 1960, haviam 16 malocas entre dez aldeiasː Zabeap Wej, Pangyjej Tere, Joiki Wej, Jej Wej, Pama-Kangyn Ej, Maxin Ej, Ii-Andarej, Pewej, Angojej e Kirej. Foram identificadas mais 47 aldeias abandonadas pelo território Zoró.[2]

Entre os anos de 1978 e 1992, a Funai aglutinou todos os Zorós em uma única aldeia, batizada de Bobyrej. Em 1984, a aldeia possuía 4 malocas e 31 casas quadrangulares com piso elevado e cozinha em anexo. E em 1992, a aldeia possuía 2 malocas e 71 casas. Atualmente, existem 24 aldeias autônomas, espalhadas pela Área Indígena Zoró.[2][3]

Costumes

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Funerários

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Os mortos eram enrolados em rede e sepultados no interior da maloca, em uma cova de um pouco mais de um metro de profundidade. Não podiam dizer o nome dos mortos, os seus pertences eram destruídos e os animais domésticos eram sacrificados.[2]

Adornos corporais

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Faziam uma tatuagem de um risco de coloração azulada no rosto, perfuravam o septo nasal para enfeitar com pena de arara e perfuravam no lábio inferior para a colocação do tembetá. E para ocasiões especiais, os homens usavam na cabeça o andarap, um cocar feito de penas encaixadas num aro duplo de taquara. Os homens eram responsáveis por confeccionar esses adornos no bekã (oficinas) e passar esses ensinamentos aos mais jovens.[2]

Festividades

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A festa mais importante era o Gojanej, que celebrava a chegada do espírito das águas. Nesta festividade o xamã incorporava o espírito Malula (tatu canastra) e os participantes ofertavam presentes e serviam chicha e beijus de milho a este espírito. Cada família trazia um jacaré, que era abatido, preparado e servido na festa. A festa Zaga Puj contava com o xamã invocando os espíritos de proteção à caça, a extração de mel e a colheita de frutas. As famílias penduravam em varais os produtos cultivados. A festa Bebej (porco queixada) consistia na comunicação do xamã com o senhor dos porcos, para obter informações de auxilia a caça de porcos queixadas e a festa Gat Pi (caminho do sol) era em homenagem aos espíritos do mundo celestial.[2]

Cada aldeia realizava uma das festas por ano e essas festas podiam durar até três meses de celebração. Os convidados para as festas, ao chegar, se direcionavam para o bekã, onde faziam as pinturas corporais, arrumavam os instrumentos musicas e enfeites.[2]

Atualmente, com a entrada da ideologia religiosa evangélica nas aldeias, as festas pagãs foram proibidas.[2]

Rituais de passagem

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Quando a jovem tinha a sua menarca, ia para um espaço reservado na maloca, destinado ao ritual de passagem. A jovem ficava isolada de quinze a quarenta dias. Quando encerrava o período de isolamento, o cabelo da jovem era cortado e a mãe começava a ensinar as tarefas destinadas as mulheres.[3]

Os meninos passavam por vários rituais, como perfurar o nariz; furar o queixo para colocar o betig, que ia aumentando conforme o menino ficava mais velho; colocar a mão na formiga (Zujbirej)); para se tornar guerreiro ou caçador, era necessário colocar sumo de gengibre no olho para ter uma boa visão e mira.[3]

Quando meninos e meninas completavam 10 anos, faziam uma tatuagem permanente no rosto, chamado de djori, quando chegavam aos 15 anos, davam sequencia na tatuagem e com 20 anos finalizavam a tatuagem.[3]

Divisão de trabalho

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As mulheres eram responsáveis por plantar e colher o cultivo, Era plantado mandioca mansa, feijão, amendoim, tubérculos, banana, algodão, tabaco, pimenta, entre outros. A mandioca brava e o milho plantados eram utilizados para alimentos e para a fabricação das bebidas. Os homens eram responsáveis por derrubar a mata para a roça e pela caça, que poderia ser feita em grupo ou sozinho, durante o dia. Eles utilizavam arco e flechas e percorriam zonas de cinco a quinze quilômetros de distância da aldeia. Havia pescarias coletivas durante os períodos de seca, onde batiam timbós nos lagos ou usavam flechas para pescar nos rios.[2][3]

Entre os anos de 1978 e 1992, o chefe do posto da Funai proibiu as caças e coletas durante a semana e obrigou os homens jovens e adultos a trabalharem na agricultura. Mulheres e crianças Zorós passaram a sofrer com a redução da quantidade e do valor nutritivo da alimentação, devido a redução da caça e da coleta, e restrição da distribuição de comida, que só era servido para os homens que trabalhavam na agricultura.[2]

Economia

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Tradicionalmente, a economia dos Zorós se baseava na caça, horticultura, pesca e coleta. Nos anos de 1980, para ter uma renda, Zorós vendiam artesanatos ou trabalhavam na extração de borracha. Na década de 1990, a principal economia dos Zorós passou a ser o comércio de madeira. Com a renda desta atividade passaram a comprar gado e veículos, abriram estradas e construíram casas nas aldeias. Em meados de 1993, houve a interdição das atividades madeireiras na Terra Indígena Zoró.[2][3]

Atualmente, algumas aldeias possuem um acordo com pecuaristas da região, onde os Zorós autorizam a pastagem do gado em suas terras e, em troca, o pecuarista faz pagamento anual com bezerros e capacitação de vaqueiros Zoró. Há também uma parceria com a Funai, através do Programa de Artesanato Indígena da Funai (Artindia), onde as mulheres Zorós podem obter uma renda com a venda regular de artesanato. E há a coleta e comércio de castanha-do-Brasil, que envolve quase todas as aldeias Zorós, através do Programa Integrado da Castanha (PIC). A Associação do Povo Indígena Zoró (APIZ), firmou contrato em parceria com a Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), que é responsável pela logística e escoamento da castanha.[2][4]

Educação

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No ano de 1989, iniciou as aulas educacionais para os Zorós na aldeia Bobyrej, sendo ministradas por professores indígenas com cartilhas na língua Gavião. O aumento de escolas nas aldeias Zorós foi crescendo gradativamente com o passar dos tempos.[2]

Atualmente, há quatro escolas da rede municipal e duas aldeias-escola da rede estadual trabalhando em regime de alternância, que atendem as próprias aldeias e as aldeias vizinhas. As escolas municipais atendem alunos da Educação Infantil (crianças de 4 e 5 anos) e Ensino Fundamental até o 4º ano. E as escolas estaduais atendem alunos do Ensino Fundamental ao 3º Ano do Ensino Médio. As duas principais instituições educacionais são a Aldeia Escola Zawã Karej Pangyjej (rede municipal) e a Aldeia Escola Zarup Wej (rede estadual).[2][3]

Religião

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Tradicional indígena

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Nos cultos xamãnicos Zorós, acreditava-se em Gorá, o criador do mundo e dos homens. O paraíso celeste era Gat Pi (caminho do sol) e havia um mundo subterrâneo aquático perigoso. Acreditavam que todos os animais, minerais e vegetais são habitados por seres invisíveis que podem interferir na vida humana, causando dores e problemas de saúde. Os Gojanej eram espíritos aquáticos que habitavam tanto o mundo subterrâneo quanto o Gat Pi. De personalidade briguenta, junto com seus auxiliares espirituais e animais, podem tirar a paz dos Panderej (humanos) roubando-lhes o ixo (princípio vital), causando perda da consciência e dificuldades respiratórias. Os Gere Baj são seres invisíveis e maldosos que podem causar cefaleias repentinas e agudas, febres elevadas e diarreias nos Panderej, e se manifestam através de animais e de pajés. Os Doka são entidades do interior das serras que podem provocar desconforto e dores fortes quando atacam órgãos específicos.[2]

O papel do Wãwã (pajé) era curar as dores e doenças, necessitando, em alguns casos, negociar com os seres causadores da enfermidade. Para essa função, o pajé recebia a ajuda dos Gere Bai que são espíritos amigos. Em alguns tratamentos, a aldeia fazia uma festa convidando as aldeias vizinhas e seus pajés. E a festa tinha danças, músicas e rituais de extração da doença ou busca do ixo.[2]

Evangelização

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A ideologia religiosa da Igreja Batista foi apresentado aos Zorós no primeiro contato que tiveram com os missionários norte-americanos da Novas Tribos do Brasil (MNTB), no ano de 1978. Quando os Zorós retornaram para a aldeia Bobyrej, celebravam até cinco cultos por semana. Na década de 1980, a aldeia possuía pastores Zorós que faziam o batismo e os cultos. O culto passou a ser diário, sendo um pela manhã só para as mulheres e um à noite para todos. Os pajés foram afastados das funções de curandeiro, pois é considerada como algo muito ruim; os Zorós foram obrigados a usar roupas; os rituais, festas, músicas e bebidas fermentadas foram proibidas.[2]

História

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Os Zorós tem origem nos grupos do povo de línguas Tupi-Mondé que migraram para as proximidades da foz do rio Aripuanã. No início do século XX, com guerras acirradas com outros grupos indígenas, conquistaram territórios desde a margem direita do rio Roosevelt até os córregos que formam o rio Madeirinha. Na década de 1930, sua expansão territorial foi parada, devido ao choque com grupos mais numerosos como os Cintas-Largas e os Suruís.[2]

No ano de 1976, os Zorós tiveram o primeiro contato com os peões da Fazenda Castanhal e em em janeiro de 1977, entraram em confronto com peões. Depois desse contato, houve muitas mortes por epidemias de tuberculose, gripe, diarreia e malária. Em outubro de 1977, ocorreu o primeiro contato amistoso com os Zorós, através da expedição Frente de Atração da Funai chefiada pelo sertanista José do Carmo Santana. No primeiro momento, os Zorós só observavam o acampamento da expedição de longe e, depois de certificarem que os forasteiros eram pacíficos, vinte Zorós se aproximaram, pacificamente.[2]

Em 1978, houve um ataque surpresa dos Suruís, em um ato de vingança, à aldeia Zawã Kej Alakit, onde morreram dois homens, uma mulher, uma jovem e uma criança. Os Zorós procuraram refúgio nas terras dos Gaviões, na Área Igarapé Lourdes. Durante esse breve período, conheceram os missionários norte-americanos da Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB). Houve mais mortes por malária e hepatite.[2]

Os funcionários da Funai reuniram os Zorós em uma única aldeia, chamada Bobyrej, localizada à leste do rio Branco, onde estava o posto da Frente de Atração. Neste período, em torno de 400 Zorós foram vacinados. No ano de 1980, mais uma vez os Zorós se refugiaram para a Área Igarapé Lourdes devido ao abuso de mulheres e maus tratos por funcionários da Funai. Os missionários da Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB) puderam auxilia-los com remédios e tentaram converte-los às crenças cristãs. Alguns Zorós casaram com pessoas dos Gaviões, permanecendo na Área Igarapé Lourdes, outros retornaram para o posto da Frente de Atração Zoró.[2]

Com a construção a estrada do Condomínio Lunardelli, autorizada pela Funai, facilitou invasores e grileiros explorarem os territórios indígenas. Em agosto de 1985, os Zorós sequestraram 3 invasores e só libertaram os reféns após a promessa da retirada de todos os invasores da Área Indígena Zoró, situados no Núcleo Quatorze de Abril. Com a grande repercussão da mídia nacional e internacional, a Funai contratou os serviços do Departamento de Serviço Geográfico do Exército (DSG) para a demarcação da Área Indígena Zoró.[2]

Em 19 de fevereiro de 1987, a Área Indígena Zoró foi aprovada e, em 11 de março de 1987, foi declarada de ocupação dos Zoró. pelo Decreto de nº. 94.088. Depois dessas medidas, os órgãos governamentais demoraram a executar a retirada dos invasores da Área Indígena Zoró. Em 9 de abril de 1987, sob Lei Estadual de nº 5.112, o Governo do Estado de Mato Grosso criou o distrito Paraíso da Serra, localizada no interior da Área Indígena Zoró, devido a exigência dos invasores, alegando que cento e vinte mil hectares do território indígena que foi desmatado por eles mesmo, já residiam mais de 100 famílias e já possuía benfeitorias. E no ano de 1988, já haviam mais de 500 famílias em Paraíso da Serra.[2]

Em outubro de 1988, guerreiros dos Cinta-largas, Suruís, Gaviões e Araras foram até madeireiros e posseiros para força-los a se retirar das terras dos Zorós. No retorno, um grupo foi emboscado por pistoleiros, matando o o ancião Yamner Suruí pelas costas. Alguns pistoleiros foram indiciados, mas não prenderam nenhum mandante.[2]

Em 29 de outubro de 1991, sob o Decreto de nº 265, foi homologado 355.789,5492 hectares caracterizada como de ocupação tradicional e permanente indígena, denominada Área Indígena Zoró. E, em meados de 1992, ocorreu a desocupação, onde os invasores foram reassentados nos projetos Lontra e Filinto Müller.[2][5]

Referências

  1. «Quadro Geral dos Povos». Instituto Socioambiental. Consultado em 2 de setembro de 2017 
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac Poz, João Dal (25 de janeiro de 2021). «Zoró». Povos Indígenas no Brasil 
  3. a b c d e f g h i j k l Dias, Patrícia (10 de março de 2017). «Educação intercultural e colonialidade : uma análise do currículo da aldeia-escola Zarup Wej da terra indígena Zoró». Consultado em 1 de agosto de 2022 
  4. «Para o povo Zoró, coleta da castanha é aliada no combate ao desmatamento». Notícias ambientais. 17 de novembro de 2021. Consultado em 1 de agosto de 2022 
  5. «Decreto nº 265». www.planalto.gov.br. Consultado em 1 de agosto de 2022 

Ligações externas

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