Chiang Kai-shek
Chiang Kai-shek (/ˈtʃæŋ kaɪˈʃɛk,_dʒiˈɑːŋ/;[1] 3 de outubro de 1887 – 5 de abril de 1975), também conhecido como Generalíssimo Chiang ou Chiang Chungcheng, romanizado como Chiang Chieh-shih ou Jiang Jieshi, foi um político e militar chinês que serviu como Presidente da República da China, de forma intermitente, de 1928 e 1949, e depois de Taiwan de 1950 a 1975. Ele foi reconhecido como legítimo governante de toda a China até 1971, período em que as Nações Unidas passaram a Resolução 2 758.
Começo da vida
editarChiang Jui-yüan nasceu em 31 de outubro de 1887 na província de Zhejiang, em uma família de comerciantes moderadamente rica. Sua infância foi marcada por uma educação tradicional confucionista, mas ele se interessou por estudos militares desde cedo. Após a morte de seu pai, quando tinha oito anos, Chiang foi enviado para o Japão, onde estudou ciência militar na academia militar Shimbu Gakko. Durante sua estadia no Japão, ele foi exposto a ideias revolucionárias e ativismo político, o que o levou a se envolver com o movimento de Sun Yat-sen, que tinha como objetivo derrubar a Dinastia Qing.[2] Ao retornar à China, Chiang se juntou à Aliança Revolucionária Chinesa (Tongmenghui) e rapidamente se tornou aliado de Sun Yat-sen, o líder do Partido Nacionalista (Kuomintang ou KMT). Ele lutou em várias campanhas militares durante a Revolução Xinhai de 1911, que resultou na queda da Dinastia Qing e no estabelecimento da República da China. Nos anos seguintes, Chiang continuou a crescer em destaque dentro do KMT, ganhando a confiança de Sun Yat-sen e participando de esforços para unificar a China, que estava fragmentada por senhores da guerra após a revolução.[2]
Em 1925, após a morte de Sun Yat-sen, Chiang foi nomeado comandante da Academia Militar de Whampoa, que ele ajudou a fundar para treinar oficiais leais à causa do KMT. Sua liderança na academia consolidou sua posição como uma figura militar chave no movimento nacionalista. No mesmo ano, ele lançou a Expedição do Norte, uma campanha militar destinada a reunificar a China sob o controle do KMT e eliminar facções de senhores da guerra. Sua ascensão ao comando militar nos anos 1920 marcou o início de sua consolidação de poder dentro do KMT, preparando o terreno para sua liderança nas décadas seguintes.[2]
Carreira e líder chinês
editarChiang continuou a ver seu poder e influência crescer dentro do movimento Kuomintang (KMT), o Partido Nacionalista Chinês, como um grande aliado de Sun Yat-sen. Chiang se tornou o comandante da Academia Militar Whampoa e substituiu Sun como líder do KMT após o Golpe de Canton, em 1926. Após ter neutralizado a ala esquerdista do partido, Chiang liderou a Expedição do Norte, conquistando toda a China após derrotar o Governo de Beiyang e pacificado os Senhores da guerra da China.[3]
De 1928 a 1948, Chiang serviu como presidente e generalíssimo do Governo Nacional da República da China. Chiang era um nacionalista, promovendo a cultura tradicional chinesa no chamado "movimento nova vida". Incapaz de manter as boas relações que seu antecessor tinha com o Partido Comunista da China (PCC), Chiang tentou expurga-los do país através do massacre de Xangai de 1927 e depois reprimiu várias rebeliões, primeiro na região de Cantão e depois em outros territórios. Com o passar dos anos, seu governo foi ficando cada vez mais autoritário, embora perdesse apoio nas zonas rurais e ainda havia a crescente ameaça dos socialistas que, apesar das repressões, ganhavam apoiadores e atiçavam uma guerra civil contra o governo de Chiang Kai-shek.[4]
No começo da Segunda Guerra Sino-Japonesa, que mais tarde se tornou o teatro de operações da China na Segunda Guerra Mundial, o marechal Zhang Xueliang sequestrou Chiang e o obrigou a estabelecer a Segunda Frente Unida, com os Comunistas. Após a derrota dos japoneses, o plano americano (a "Missão Marshall"), tentou negociar um governo de coalizão, mas falhou. Em 1946, a Guerra Civil Chinesa recomeçou a todo o vapor, com as forças do Partido Comunista, lideradas por Mao Zedong, derrotando os exércitos do KMT e proclamando a República Popular da China em 1949. O governo de Chiang e o que sobrou de suas tropas recuaram para Taiwan, onde ele impôs lei marcial e perseguiu todos os socialistas, críticos e opositores do seu regime na ilha no que ficou conhecido como "Terror Branco". Após evacuar para Taiwan, o governo de Chiang e seus apoiadores continuaram a declarar sua intenção de, um dia, retomar a China dos comunistas. Chiang governaria Taiwan como presidente e Diretor-geral do Kuomintang até sua morte em outubro de 1975, um ano antes da morte de Mao. Chiang foi um dos chefes de estado não pertencentes à realeza que mais tempo serviu no século XX e o governante não pertencente à realeza que mais tempo serviu na China, tendo ocupado o cargo por 46 anos.[5][6]
Assim como Mao, Chiang Kai-shek é considerado uma figura controversa. Seus apoiadores o creditam por ter desempenhado um grande papel durante a vitória dos Aliados da Segunda Guerra Mundial e ter unificado a nação, sendo também um símbolo nacional e uma figura importante na resistência contra os japoneses, os soviéticos e os comunistas. Detratores e críticos o denunciam como um ditador, um autocrata autoritário que reprimiu e expurgou seus opositores a todo o custo, com prisões arbitrárias, torturas e assassinatos a todos que não apoiavam o Kuomintang e outros.[7]
Filosofia
editarO Kuomintang usou cerimônias religiosas tradicionais chinesas e promulgou o martírio. A ideologia do Kuomintang subserviu e promulgou a visão de que as almas dos mártires do Partido que morreram lutando pelo Kuomintang, pela revolução e pelo fundador do partido, Sun Yat-sen, foram enviadas para o céu. Chiang Kai-shek acreditava que esses mártires testemunharam eventos na Terra do céu após suas mortes.[8][9][10][11]
Ao contrário da ideologia tridemista original de Sun, que foi fortemente influenciada por teóricos iluministas ocidentais como Henry George, Abraham Lincoln, Bertrand Russell, e John Stuart Mill, a tradicional influência confucionista chinesa na ideologia de Chiang é muito mais forte. Chiang rejeitou as ideologias progressistas ocidentais do individualismo, do liberalismo e dos aspectos culturais do marxismo. Portanto, Chiang é geralmente mais cultural e socialmente conservador do que Sun Yat-sen. Jay Taylor descreveu Chiang Kai-shek como um nacionalista revolucionário e um "confucionista-jacobinista de esquerda".[12]
Quando a Expedição do Norte foi concluída, os generais do Kuomintang liderados por Chiang Kai-shek prestaram homenagem à alma de Sun no céu com uma cerimônia de sacrifício no Templo Xiangshan em Pequim em julho de 1928. Entre os generais do Kuomintang presentes estavam os generais muçulmanos Bai Chongxi e Ma Fuxiang.[13]
Chiang Kai-shek considerava os chineses Han e todas as minorias étnicas da China, as Cinco Raças Sob Uma União, como descendentes do Imperador Amarelo, o mítico fundador da nação chinesa, e pertencentes à Nação Chinesa Zhonghua Minzu. Ele introduziu isso na ideologia do Kuomintang, que foi propagada no sistema educacional da República da China.[14][15][16]
Chiang, como nacionalista chinês e confucionista, era contra a iconoclastia do Movimento Quarto de Maio. Motivado por seu senso de nacionalismo, ele via algumas ideias ocidentais como estrangeiras e acreditava que a grande introdução de ideias e literatura ocidentais, que o Movimento Quarto de Maio promoveu, não era benéfica para a China. Ele e Sun criticaram os intelectuais do Quarto de Maio por corromperem a moral da juventude chinesa.[17]
Chiang Kai-shek disse uma vez:
Se quando eu morrer, eu ainda for um ditador, certamente irei para o esquecimento de todos os ditadores. Se, por outro lado, eu conseguir estabelecer uma base verdadeiramente estável para um governo democrático, viverei para sempre em todas as casas da China.[18]
Ver também
editarReferências
- ↑ "Chiang Kai-shek". Random House Webster's Unabridged Dictionary.
- ↑ a b c Loh, Pichon Pei (1971). The Early Chiang Kai-shek: A Study of His Personality and Politics, 1887–1924. [S.l.]: Columbia University Press – via Internet Archive
- ↑ Zarrow, Peter Gue (2005). China in War and Revolution, 1895–1949. [S.l.: s.n.] pp. 230–231
- ↑ «Chiang Kai-shek (1887-1975)». BBC. Consultado em 14 de abril de 2019
- ↑ Crozier, Brian. 2009. The Man Who Lost China. ISBN 0-684-14686-X
- ↑ Fenby, Jonathan. 2003. Generalissimo Chiang Kai-Shek and the China He Lost. The Free Press, ISBN 0-7432-3144-9
- ↑ Taylor, Jay. 2009. The Generalissimo: Chiang Kai-shek and the Struggle for Modern China. Belknap Press of Harvard University Press, Cambridge, Massachusetts ISBN 978-0-674-03338-2
- ↑ Chen, Jieru; Eastman, Lloyd E. (1993). Chiang Kai-shek's secret past: the memoir of his second wife, Chʻen Chieh-ju. [S.l.]: Westview Press. p. 236. ISBN 0-8133-1825-4. Consultado em 28 de junho de 2010
- ↑ Van de Ven 2003, p. 100.
- ↑ Chao, Linda; Myers, Ramon H. (1998). The first Chinese democracy: political life in the Republic of China on Taiwan. [S.l.]: Johns Hopkins University Press. p. 45. ISBN 0-8018-5650-7. Consultado em 28 de junho de 2010. Cópia arquivada em 5 de fevereiro de 2017
- ↑ Chiang, Kai-shek (1946). President Chiang Kai-shek's selected speeches and messages, 1937–1945. [S.l.]: China Cultural Service. p. 137. OCLC 3376275. Consultado em 28 de junho de 2010. Cópia arquivada em 5 de fevereiro de 2017
- ↑ «Microsoft Word - San-Min-Chu-I_FINAL.rtf» (PDF). Chinese.larouchepub.com. Consultado em 23 de julho de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de novembro de 2018
- ↑ Lin, Hsiao-ting (2006). Tibet and Nationalist China's frontier: intrigues and ethnopolitics, 1928–49 (PDF). [S.l.]: UBC Press. p. 29. ISBN 0-7748-1301-6. Consultado em 28 de junho de 2010. Cópia arquivada (PDF) em 13 de maio de 2011
- ↑ Rubinstein, Murray A. (1994). The Other Taiwan: 1945 to the present. [S.l.]: M.E. Sharpe. p. 416. ISBN 1-56324-193-5. Consultado em 28 de junho de 2010. Cópia arquivada em 5 de fevereiro de 2017
- ↑ Millward, James A. (2007). Eurasian crossroads: a history of Xinjiang. [S.l.]: Columbia University Press. p. 208. ISBN 978-0-231-13924-3. Consultado em 28 de junho de 2010. Cópia arquivada em 9 de janeiro de 2017
- ↑ Clyde, Paul Hibbert; Beers, Burton F. (1971). The Far East: a history of the Western impact and the Eastern response (1830–1970). [S.l.]: Prentice-Hall. p. 409. ISBN 9780133029765. Consultado em 28 de junho de 2010
- ↑ Chen, Joseph T. (1971). The May Fourth Movement in Shanghai: The Making of a Social Movement in Modern China. [S.l.]: Brill Archive. p. 13. Consultado em 28 de junho de 2010. Cópia arquivada em 5 de fevereiro de 2017
- ↑ Zhang, Wei-Bin (2003). Taiwan's Modernization: Americanization and Modernizing Confucian Manifestations. [S.l.]: World Scientific, 2003. p. 177. ISBN 9814486132. Consultado em 23 de maio de 2021. Cópia arquivada em 23 de maio de 2021
Bibliografia
editar- Roberts, John A. G., History of China (título original), Palgrave MacMillan, 1999 (primeira edição), 2006 (segunda edição), ISBN 978-989-8285-39-3
Ligações externas
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