Família Corcorúnio
Corcorúnio (em latim: Chorchorunius)[1] ou Corcoruni (em latim: Chorchoruni;[2] em armênio: Խորխոռունի; romaniz.: Χorχoṙuni; em grego: Χουρχόρῶν; romaniz.: Chourchórõn (gen.)[3]) foi uma família nobre armênia (nacarar) da Antiguidade e Idade Média.[4]
História
editarOs corcorúnios eram remanescentes territorializados dos hurritas que dominaram o principado de Corcorúnia ou Malcazado, em referência ao título gentilício de malcaz (μαλχαζ, malchaz; մալխազ, malχaz[5]) detido pela família, que estava situado no vale do Arsânias, ao norte do lago de Vã, na província de Turuberânia.[6] Segundo Moisés de Corene, os Corcorúnios descendiam de Haico, o patriarca mítico dos armênios, através de seu filho Cor.[7] O mesmo cronista alegou que receberam do mítico Valarsaces I, suposto fundador do ramo armênio dos arsácidas, o direito de ocuparem o ofício de comandante da guarda real,[8][9] sempre equipados com lança e espada.[10] A família é registrada desde o início do século IV, quando foi mencionada no Ciclo de Gregório de 314, onde ocorre em 15.ª (Lista A) e 11.ª (Lista B). Nesse ponto, portanto, configurava-se como um clã menor dentro da nobreza armênia,[11] mas em meados do século V adquiriram maior proeminência, sobretudo pela perda de territórios da Armênia desde finais do século IV. Nesse contexto, os territórios dos Corcorúnios compunham o limite sul do território armênio, antes ocupado por Arzanena, e eles tornar-se-ia marqueses dessa porção da fronteira.[12] A Lista de Trono (Գահնամակ, gahnamak) os omite.[13] A Lista Militar (Զորնամակ, Zōrnamak), o documento que indica a quantidade de cavaleiros que cada uma das família nobres devia ceder ao exército real em caso de convocação, afirma que podiam arregimentar mil cavaleiros,[14] mas as crônicas registram de mil a dois mil cavaleiros, a depender do período.[15]
Durante o governo sassânida da Armênia, Corianes envolveu-se ao lado de Vardanes II na Batalha de Avarair de 451, vindo a falecer no combate.[16] Mais adiante, Gadixo permaneceu no lado do marzobã Adar Gusnaspe na disputa com o católico Gute (461–478) e na tentativa de imposição do zoroastrismo na região.[17] Em 505/6, Artaxer participou do Primeiro Concílio de Dúbio[18] convocado pelo católico Apovipcenes (r. 490/1–515/6).[19] Em 555, Garzúlio III e Verive assinaram a ata de comparecimento do Segundo Concílio de Dúbio conveniado por Narses II (r. 548/9–557/8).[20] Em 595/6 e novamente em 601, Atato revoltou-se com outros nobres armênios contra o imperador Maurício (r. 582–602) e acabou executado pelo xainxá Cosroes II (r. 590–628).[21] Em 605/6, Teodósio lutou pelos bizantinos e foi derrotado por Senitão Cosroes.[22] Em 637, João Atalarico, filho bastardo do imperador Heráclio (r. 610–641), envolveu-se numa conspiração contra seu pai e teve ajuda de alguns nobres armênios, um deles, chamado Vaanes, possivelmente membro da família Corcorúnio.[23] A família Querqueulize, conhecida em fontes do século XII do Reino da Geórgia, pode descender dos Corcorúnios.[24]
Referências
- ↑ Moisés de Corene 1736, Index Chorchorunius.
- ↑ Spintler 1905, p. 41.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 565.
- ↑ Sinclair 1989, p. 320.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 209, nota 237; 325, nota 88.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 208.
- ↑ Moisés de Corene 1978, p. 89.
- ↑ Moisés de Corene 1978, p. 137-139.
- ↑ Quasten 1961, p. 56.
- ↑ Kurkjian 1958, p. 314.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 244.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 248.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 252, nota 342.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 240.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 135.
- ↑ Kurkjian 1958, p. 148.
- ↑ Kurkjian 1958, p. 157.
- ↑ Quasten 1961, p. 91.
- ↑ Grousset 1973, p. 236.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 250.
- ↑ Martindale 1992, p. 140.
- ↑ Martindale 1992, p. 1298.
- ↑ Nichanian 2008, p. 99.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 271.
Bibliografia
editar- Grousset, René (1973) [1947]. Histoire de l'Arménie: des origines à 1071. Paris: Payot
- Kurkjian, Vahan M. (1958). A History of Armenia. Nova Iorque: União Geral Benevolente Armênia
- Martindale, John R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1992). The Prosopography of the Later Roman Empire - Volume III, AD 527–641. Cambridge e Nova Iorque: Cambridge University Press. ISBN 0-521-20160-8
- Moisés de Corene (1978). Thomson, Robert W., ed. History of the Armenians. Cambrígia, Massachusetts; Londres: Harvard University Press
- Moisés de Corene (1736). Historiae Armeniacae libri III. Londres: Caroli Ackers
- Nichanian, Mikael (2008). Mugrdechian, Barlow De, ed. Between Paris and Fresno: Armenian Studies in Honor of Dickran KouymjianLe maître des milices d′Orient, Vahan, et la bataille de Yarmouk (636) au complot d′Athalaric (637). Costa Mesa: Mazda Press. ISBN 1-56859-168-3
- Quasten, Johannes; Stephan Kuttner (1961). Traditio. Nova Iorque: Fordham University Press
- Sinclair, T.A. (1989). Eastern Turkey: An Architectural & Archaeological Survey, Volume I. Londres: Pindar Press. ISBN 0907132324
- Spintler, Rudolf (1905). De Phoca imperatore Romanorum. Jena: Typis G. Nevenhahni
- Toumanoff, Cyril (1963). Studies in Christian Caucasian History. Washington: Georgetown University Press