Governo Castelo Branco
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O Governo Castelo Branco foi o período vivido pelo Brasil entre 15 de abril de 1964 e 15 de março de 1967 sob a presidência de Humberto de Alencar Castelo Branco. Foi a época inaugural da ditadura militar brasileira, instituída pelo golpe militar cujos principais objetivos eram acabar com os ideais nacionalistas reformistas, representados pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o projeto das reformas de base do Governo João Goulart. Uma das primeiras medidas de seu governo na institucionalização dos Atos Institucionais foi a promulgação do Ato Institucional 2, que aboliu o pluripartidarismo no país e concedeu poderes ao Presidente da República para cassar mandatos de deputados e convocar eleições indiretas[4]. Na política externa brasileira, passou a buscar apoio econômico, político e militar nos Estados Unidos. Durante seu governo, foi registrado um crescimento de 12,6% do PIB (média de 4,2%). Castelo Branco assumiu com a inflação em 92,12% e entregou a 25,01%.[5]
Governo Castelo Branco | ||||
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1964 – 1967 | ||||
Início | 15 de abril de 1964 | |||
Fim | 15 de março de 1967 | |||
Duração | 3 anos | |||
Organização e Composição | ||||
Tipo | Governo federal | |||
26.º Presidente da República | Humberto de Alencar Castelo Branco | |||
15.º Vice-presidente da República | José Maria Alkmin | |||
Partido | ARENA[nota 1] | |||
Coligação | UDN, PSD, PL, PR, PRP[1][2] | |||
Oposição | MDB, PTB, PSB[3] | |||
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O presidente
editarHumberto de Alencar Castelo Branco é filho de pai militar e em razão das transferências deste viveu entre o Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro Piauí e Maranhão antes de estudar na Escola Militar do Realengo sendo declarado aspirante-a-oficial em janeiro de 1921. Em sua vida na caserna lecionou ou foi instrutor de instituições militares de ensino e fez parte da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Seu último cargo antes de vitorioso o Regime Militar de 1964, foi a chefia do Estado Maior do Exército.[6] Eleito presidente da República pelo Congresso Nacional com 361 votos em 11 de abril do referido ano, tomou posse no dia 15.[7]
Aspectos políticos
editarFatos de seu governo
editarSeu governo teve início sob a vigência do Ato Institucional Número Um,[8] o qual cassou os direitos políticos do ex-presidente Juscelino Kubitschek, então senador por Goiás, e outros parlamentares e políticos de renome a partir de 9 de abril de 1964.[nota 2] Sanções de igual natureza afligiram também figuras do meio intelectual, lideranças sindicais, estudantis e funcionários públicos. Três meses após assumir, o presidente Castelo Branco teve o mandato prorrogado de 31 de janeiro de 1966[nota 3] até 15 de março de 1967 e com isso as eleições presidenciais de 1965 acabariam canceladas.[9] Em 26 de novembro de 1964 o governo federal decretou intervenção federal em Goiás extinguindo o mandato do governador Mauro Borges.[10] Não obstante, sancionou o novo Código Eleitoral[11] com o objetivo de melhorar o sistema eleitoral brasileiro coibindo fraudes desde o alistamento até o processo de votação.[12]
Embora tenha expedido Atos Complementares[13] para amoldar seus objetivos à realidade política a fim de consolidar seu poder, o Governo Militar ignorou os apelos da "linha dura" quanto a recrudescer o regime e manteve as eleições para governador marcadas para 3 de outubro de 1965: em Alagoas o resultado não foi homologado por descumprir a regra da maioria absoluta[14] conforme a Emenda Constitucional Treze, promulgada em 8 de abril.[nota 4][15][16] Em Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Norte e Santa Catarina venceram os candidatos apoiados por Brasília, mas a vitória de oposicionistas na Guanabara e Minas Gerais deram lastro à outorga do bipartidarismo via Ato Institucional Número Dois,[17][18] que criou a ARENA, legenda majoritária de apoio ao governo, e o MDB, partido de oposição.[19] Por causa do revés na Guanabara e em Minas Gerais, o governo tornou indiretas as eleições para governador de estado e retirou a autonomia das capitais através do Ato Institucional Número Três publicado em 1966.[20] Para garantir apoio às suas teses, o Palácio do Planalto modificou o equilíbrio de poder nos estados: enfraqueceu o mandarinato de Vitorino Freire ao apoiar José Sarney como governador do Maranhão e afastou Ademar de Barros do governo paulista. Em 3 de setembro do mesmo ano foram eleitos indiretamente doze governadores[nota 5] e à 15 de novembro houve a eleição direta de 23 senadores e 409 deputados federais. Entre um pleito e outro o presidente Castelo Branco decretou o recesso do Congresso Nacional por 33 dias a partir de 20 de outubro, em resposta ao deputado Adauto Lúcio Cardoso, presidente da Câmara dos Deputados, que manteve como efetivos seis oposicionistas cassados alguns dias antes.[21][nota 6]
Cioso quanto à oposição que enfrentaria no meio discente, extinguiu a União Nacional dos Estudantes e entidades afins indicando uma hierarquia de diretórios estudantis como prepostos dos mesmos,[22] dedicando especial atenção à rotina e o funcionamento do ensino superior.[23] Quando necessário recorria às medidas de força, tais como invadir a Universidade de Brasília.[24]
Em 24 de janeiro do ano seguinte foi promulgada a Constituição de 1967 (a qual entrou em vigor na posse de Costa e Silva à 15 de março) e sancionaram a nova Lei de Imprensa à 9 de fevereiro do ano em questão.[25][26]
Terrorismo
editarNo primeiro semestre de 1965 debelaram a Guerrilha de Três Passos enquanto uma explosão avariou a oficina de O Estado de S. Paulo. Todavia, incidente mais grave aconteceu quando explodiram uma bomba no saguão do Aeroporto Internacional do Recife em 25 de julho de 1966. Visando atingir Costa e Silva, ex-ministro do Exército e candidato à sucessão presidencial, o atentado matou o jornalista Edson Régis de Carvalho e o vice-almirante reformado Nelson Gomes Fernandes, deixando quatorze feridos, dentre os quais estava o guarda-civil Sebastião Thomaz de Aquino. No mesmo dia, explosões sem vítimas atingiram a sede da União Estadual dos Estudantes (UEE) e a do Serviço de Informação dos Estados Unidos (USIS). Quanto a Costa e Silva o mesmo não foi atingido, pois seu voo teve o destino alterado para João Pessoa.
Sucessão presidencial
editarEm uma sessão de quase três horas, o marechal Costa e Silva foi eleito presidente da República via ARENA em 3 de outubro de 1966 ao obter 295 votos no Congresso Nacional, um dos quais dado pelo deputado oposicionista Anísio Rocha, de Goiás.[27][28]
Panorama econômico
editarCrise econômica no início dos anos 1960
editarA partir de 1962, o país enfrentou baixas taxas de crescimento, chegando apenas 0,6% de crescimento em 1963.[29] De um lado, houve uma queda dos investimentos públicos e privados; de outro lado, a elevação do déficit público, causando a aceleração da inflação, que em 1961 era de 51,6% e passa a 80% em 1962, chegando a 93% em 1963.[30] Tudo isso leva a uma crise no balanço de pagamentos.[31]
Plano de Ação Econômica do Governo (1964-1967)
editarO Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), consequência da visão dos ministros do Planejamento, Roberto Campos, e da Fazenda, Octávio Gouveia Bulhões, tinha como foco promover as reformas tributária, financeira e trabalhista e a diminuição dos desequilíbrios regionais. Sendo o objetivo básico combater a inflação, o que promoveu uma severa contenção do crédito e instituiu uma nova fórmula salarial, provocando uma acentuada deterioração do poder de compra dos salários. Objetivos do PAEG:[32]
- Acelerar o crescimento econômico
- Conter a inflação
- Reduzir a concentração de renda (regional, setorial e pessoal)
- Aumentar o volume de emprego
- Corrigir o desequilíbrio externo.
Para estruturar o Sistema Financeiro Nacional e corrigir a inflação, Castelo Branco estabeleceu medidas não populares que propiciariam relativo sucesso econômico:
- Modificação na estrutura tributária (os impostos indiretos foram elevados e os diretos reduzidos, protegendo setores estratégicos pela concentração de renda);
- Política monetária restritiva (baixa emissão de moeda, principalmente);
- Estabilizar os preços, a imposição de regras para fixação de preços, a redução do poder aquisitivo, “arrocho salarial” ou política de salários (acreditavam na inflação por demanda).
Relações exteriores
editarBrasil e Cuba romperam relações diplomáticas a 2 de maio de 1964, em plena Guerra Fria. No ano seguinte, uma Guerra Civil na República Dominicana pôs fim ao golpe de estado que depôs o presidente Juan Bosch em 1963, porém uma invasão dos Estados Unidos, referendada a posteriori pela Organização dos Estados Americanos, estendeu o impasse por um ano sob o fito de impedir uma nova Revolução Cubana e nesse ínterim 280 soldados brasileiros ocuparam o Palácio Nacional de Santo Domingo em 1º de junho de 1965.[33] Brasília e Havana reataram relações diplomáticas somente em 1986.
Base Industrial de Defesa (BID)
editarO governo se empenhou para a criação de um complexo industrial de defesa no país. Em 1970, o Brasil se tornou o quinto maior exportador de material de defesa do mundo.[34]
Notas
- ↑ Castelo Branco foi eleito presidente da República sem filiação partidária, pois a ARENA foi criada apenas em 4 de abril de 1966.
- ↑ Jânio Quadros, João Goulart e Leonel Brizola, por exemplo, foram punidos pelo Comando Supremo da Revolução ainda no governo efêmero de Ranieri Mazzilli.
- ↑ Data onde terminaria o período governamental inaugurado por Jânio Quadros e depois entregue a João Goulart.
- ↑ Chamada a resolver o impasse, a Assembleia Legislativa de Alagoas rejeitou o nome de Muniz Falcão, o mais votado nas urnas, e por isso o general João Tubino foi interventor em Alagoas de 31 de janeiro à 16 de setembro de 1966, quando foi empossado o governador eleito sob as regras combinadas do Ato Institucional Número Três e do Ato Complementar Número Doze de 28 de junho de 1966.
- ↑ Em 1966 houve eleição indireta para governador no Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe.
- ↑ Foram cassados os deputados federais Abraão Moura, Adib Chammas, César Prieto, Doutel de Andrade, Paes de Almeida e o suplente em exercício, Humberto El-Jaick.
Referências
- ↑ Brasil, CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. «PARTIDO SOCIAL DEMOCRATICO (PSD-1945-1965)». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 19 de dezembro de 2021
- ↑ Brasil, CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. «PARTIDO DE REPRESENTACAO POPULAR (PRP)». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 19 de dezembro de 2021
- ↑ Brasil, CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. «PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO (1945-1965)». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 9 de novembro de 2021
- ↑ FIDELIS, THIAGO (22 de setembro de 2014). «NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014.». História e Cultura. 3 (2). 527 páginas. ISSN 2238-6270. doi:10.18223/hiscult.v3i2.1153
- ↑ Parreiras, Maria Araujo. «A estrutura institucional da dívida pública brasileira e seus impactos sobre a gestão da política monetária: uma análise do regime de metas para a inflação»
- ↑ «CPDOC – A trajetória política de Juscelino Kubitschek: biografia de Humberto Castelo Branco». Consultado em 4 de fevereiro de 2019
- ↑ Castelo Branco obteve na primeira apuração 361 votos do total de 438 (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 12/04/1964. Primeiro caderno, p. 04. Página visitada em 4 de fevereiro de 2019.
- ↑ «BRASIL. Presidência da República: Ato Institucional Número Um». Consultado em 4 de fevereiro de 2019
- ↑ «BRASIL. Câmara dos Deputados: 50 anos do Golpe de 1964». Consultado em 5 de fevereiro de 2019
- ↑ O govêrno (sic) federal intervém em Goiás (online). O Estado de S. Paulo, São Paulo (SP), 27/11/1964. Capa. Página visitada em 4 de fevereiro de 2019.
- ↑ «BRASIL. Presidência da República: Lei n.º 4.737 de 15/07/1965 (Código Eleitoral)». Consultado em 5 de fevereiro de 2019
- ↑ «BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral: Código Eleitoral completa 53 anos neste domingo (15)». Consultado em 5 de fevereiro de 2019
- ↑ «BRASIL. Presidência da República: Atos Complementares às Constituições Federais anteriores à de 1988». Consultado em 4 de fevereiro de 2019
- ↑ Dos 11 eleitos assumiram 10 (online). O Estado de S. Paulo, São Paulo (SP), 01/02/1966. Geral, p. 05. Página visitada em 5 de fevereiro de 2019.
- ↑ «BRASIL. Presidência da República: Emenda Constitucional Treze de 08/04/1965». Consultado em 4 de fevereiro de 2019
- ↑ Dez estados têm novos governantes (online). O Estado de S. Paulo, São Paulo (SP), 01/02/1966. Geral, p. 05. Página visitada em 5 de fevereiro de 2019.
- ↑ «CPDOC – A trajetória política de João Goulart: O Brasil pós-golpe». Consultado em 4 de fevereiro de 2019
- ↑ «BRASIL. Presidência da República: Ato Institucional Número Dois». Consultado em 4 de fevereiro de 2019
- ↑ «BRASIL. Presidência da República: Ato Complementar Número Quatro de 20/11/1965». Consultado em 4 de fevereiro de 2019
- ↑ «BRASIL. Presidência da República: Ato Institucional Número Três». Consultado em 4 de fevereiro de 2019
- ↑ «BRASIL. Presidência da República: Ato Complementar Número Vinte e Três de 20/10/1966». Consultado em 5 de fevereiro de 2019
- ↑ «BRASIL. Presidência da República: Lei n.º 4.464 de 09/11/1964». Consultado em 4 de fevereiro de 2019
- ↑ «BRASIL. Presidência da República: Decreto-lei n.º 228 de 28/02/1967». Consultado em 4 de fevereiro de 2019
- ↑ «Universidade de Brasília: Invasões históricas». Consultado em 5 de fevereiro de 2019
- ↑ «BRASIL. Presidência da República: Constituição de 1967». Consultado em 4 de fevereiro de 2019
- ↑ «BRASIL. Presidência da República: Lei n.º 5.250 de 09/02/1967». Consultado em 4 de fevereiro de 2019
- ↑ Costa e Silva é eleito com 295 votos de congressistas (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 04/10/1966. Primeiro caderno, Capa. Página visitada em 5 de fevereiro de 2019.
- ↑ MDB expulsa Anísio Rocha, que contrariou proibição e votou em Costa e Silva (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 04/10/1966. Primeiro caderno, p. 04. Página visitada em 5 de fevereiro de 2019.
- ↑ Coutinho, Mauricio C. (dezembro de 2015). «SUBDESENVOLVIMENTO E ESTAGNAÇÃO NA AMÉRICA LATINA, DE CELSO FURTADO». Revista de Economia Contemporânea (3): 448–474. ISSN 1415-9848. doi:10.1590/198055271935. Consultado em 9 de fevereiro de 2021
- ↑ Capelato, Maria Helena R. (10 de dezembro de 1973). «Resenha de: Da substituição de importações ao capitalismo financeiro». Revista de História (96). 594 páginas. ISSN 2316-9141. doi:10.11606/issn.2316-9141.rh.1973.132095. Consultado em 9 de fevereiro de 2021
- ↑ Bugelli, Alexandre Hamilton (16 de maio de 2008). «A crise econômica brasileira dos anos 1960: uma reconstrução do debate». Consultado em 9 de fevereiro de 2021
- ↑ Brasil, CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. «PROGRAMA DE ACAO ECONOMICA DO GOVERNO (PAEG)». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 9 de fevereiro de 2021
- ↑ «50 anos depois, brasileiros que lutaram na República Dominicana brigam por reconhecimento (BBC News Brasil)». Consultado em 5 de fevereiro de 2019
- ↑ Andrade, Israel de Oliveira. «Base Industrial de Defesa: Contextualização Histórica, Conjuntura Atual e Perspectivas Futuras» (PDF). Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Consultado em 25 de janeiro de 2024