História da imprensa no Rio Grande do Sul

A história da imprensa no Rio Grande do Sul inicia com o Diário de Porto Alegre, primeiro jornal da província, que surgiu em 1827, apoiado pelo presidente da província brigadeiro Salvador José Maciel. Seu redator foi inicialmente João Inácio da Cunha que trouxe do Rio de Janeiro dois franceses desertores da tropa do general argentino Carlos Maria de Alvear,[1] que pretendeu invadir o Brasil: Claude Dubreuil e Estivalet,[2][3] respectivamente impressor e tipógrafo na França para operar uma antiga tipografia comprada pelo então presidente da província João Oliveira e Daun, em 1822. O Diário de Porto Alegre foi um jornal de características controversas, oscilando entre a favor e contra o governo. Com seu reduzido formato, pouco mais do que um cartaz, de magro conteúdo, continha assuntos da vida corriqueira misturados com publicações oficiais.

A imprensa no Rio Grande do Sul começou tardiamente em relação a outras províncias brasileiras, o Rio de Janeiro já possuía um jornal desde 1808, a Bahia desde 1811, seguidos por Pernambuco, Maranhão, Pará, Minas Gerais (todos de 1821), Ceará (1824), Paraíba (1826) e São Paulo (1827).[4]

Fase inicial - 1827-1851

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O Diário abriu caminho para o surgimento de outros periódicos, de formato pequeno. Enquanto a situação política se agravava, nos tempos que precediam a Revolução Farroupilha, os periódicos partidários se multiplicavam acirrando as disputas políticas.

Os farroupilhas eram apontados por meio de sua imprensa como os propugnadores de uma causa justa, acima de tudo em nome da liberdade, enquanto os legalistas eram descritos como retrógrados, sebastianistas e conservadores.[5] Por outro lado, os jornais legalistas consideravam a si próprios como os defensores da ordem, enquanto qualificavam os rebeldes como anarquistas e subversivos que desejavam corromper e destruir as instituições estabelecidas.[5]

Na década de 1830, este exacerbado conflito político levou ao surgimento 41 jornais somente em Porto Alegre, já na década seguinte foram apenas catorze.[6] Os novos jornais encontravam sérias dificuldades para circular, sobrevivendo em média por um ano. Os jornais desta época circulavam uma, duas e raramente três vezes por semana, impressos em duas, quatro e poucas vezes mais páginas.[7] Também não tinham redação própria, sendo escrito na própria casa do redator e entregue a uma tipografia para impressão.[7]

Em 5 de julho de 1828 surge em Porto Alegre o Constitucional Rio-Grandense, substituindo o Diário de Porto Alegre cinco dias depois de sua última edição.[1] Declaradamente político, era redigido por Vicente Ferreira Gomes, oficial de tesouraria do governo e circulou até 1831.

Em 1829 surge também Porto Alegre O Amigo do Homem e da Pátria, redigido por Tomás Inácio da Silveira e Claude Dubreuil.

Em 1830 é a vez de O Vigilante de José Apolinário Pereira de Morais, jornal liberal, que circula somente de janeiro a outubro do mesmo ano. A Sentinela da Liberdade na Guarita ao Norte da Barra do Rio Grande de São Pedro de Lourenço Junior de Castro circulou de 1830 a 1837.

Em 1831 surgem O Imparcial, O Cruzeiro, O Telégrapho, Correio da Liberdade, O Compilador em Porto Alegre, O Continentino de João Manuel de Lima e Silva (em 1833 passou a ser redigido por Joaquim José de Araújo).

Em 1832 surgiram em Porto Alegre O Mercúrio, o Diário Constitucional, O Inflexível e O Annunciante, que circulou até 1835. Do mesmo ano é O Recopilador Liberal de Porto Alegre, dirigido pelo uruguaio Manuel Ruedas, acusado de ser agente de Juan Lavalleja foi expulso do Brasil, o jornal encerrou suas atividades em junho de 1836. Em 3 de janeiro surge O Noticiador, primeiro jornal de Rio Grande, dirigido por Francisco Xavier Ferreira, circulou até 9 de fevereiro de 1836 - seu proprietário foi preso e enviado ao Rio de Janeiro, onde faleceu no calabouço da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição da Ilha de Villegagnon em 1838.

Em 1833 são criados Themis, A Idade D'Ouro, Idade de Pau, Bellona Irada Contra os Sectários de Momo, O Inexorável e O Propagador da Indústria Rio-Grandense, que foi publicado entre janeiro de 1833 e março de 1834 em Rio Grande, mantido por membros da elite econômica da cidade.

Em 1834 foram criados O Pobre, O Republicano, O Echo Porto Alegrense (primeiro jornal da província com circulação três vezes por semana), O Federal, Correio Official da Província de São Pedro, O Democrata, O Sete de Abril e Idade de Chumbo.

O Mestre Barbeiro iniciou sua publicação em 31 de janeiro de 1835 e se manteve até 19 de setembro, redigido por Antônio José da Silva Monteiro, ferrenho oposicionista dos farroupilhas, que faleceu em combate na Ponte da Azenha, ao estourar a revolução em 20 de setembro. Em Rio Grande o Liberal Rio-Grandense, legalista, circulou entre 1835 e 1836. O Continentista também surgiu em 1835, dirigido por José Calvet e o deputado Francisco Isidoro de Sá Brito, além de O Mensageiro e O Quebra Anti-Evaristo.

Em 1836 surge O Colono Alemão publicado por Hermann von Salisch conseguiu atrair à causa farroupilha vários colonos alemães, apesar dos planos de ser bilíngue, foi publicado somente em português, durou apenas 38 números.[6]

Durante a Revolução Farroupilha surgem também os órgãos oficiais da República Rio-Grandense: O Mensageiro de 3 de novembro de 1835, considerado o primeiro jornal farroupilha, O Povo de 1838, organizado por Domingos José de Almeida com Luigi Rossetti como editor. Além destes circularam a Estrella do Sul e O Americano, este o último jornal farroupilha, editado em Alegrete, até março de 1843.[8]

O Legalista e O Justiceiro, ambos de 1836, e O Artilheiro de junho de 1837 eram jornais legalistas, assim como O Campeão da Legalidade do mesmo ano, ambos de Porto Alegre.

Em 1840, redigido por Claude Dubreuil, surge O Analista que circulava duas vezes por semana e encerrou suas atividades em 1844.

É na década de 1840 que surgem os jornais de maior formato, como O Imparcial, de Porto Alegre, de 1844, e O Porto-alegrense. Em 1849 surge, também em Porto Alegre, O Mercantil.

O primeiro jornal de Pelotas foi O Pelotense foi fundado em 7 de novembro de 1851 pelo português Cândido Augusto de Melo,[9][10] que já havia fundado outros quatro jornais em Rio Grande: O Rio-Grandense 1845-1858; O Artilheiro 1849; a Rosa Brasileira 1851 e A Imprensa 1851.

Fase de consolidação - 1852-1895

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Somente depois da pacificação do Rio Grande do Sul e da progressiva recuperação da província foi que novamente se abriu espaço para o desenvolvimento das atividades jornalísticas, surgindo uma imprensa renovada, ganhando outras práticas jornalísticas, não apenas a político-partidária.[5] Nesta fase surge público para todos os gostos e gêneros de publicações e o mercado se diversifica, afastando-se da política e aproximando-se da notícia. Há o surgimento de jornais fora dos grandes centros, a imprensa literária se desenvolve e há o surgimento de jornais em língua alemã e italiana, aparecem também os jornais oficiais dos partidos políticos. Mais no final do período são fundados os jornais operários, contestando o sistema vigente, dos quais os primeiros foram O Operário, em Pelotas, e L’Avvenire, em Porto Alegre.[11]

Durante este período surgem jornais que introduzem o conceito de empresa jornalística: seus diretores e editores sabem que precisam atender a demandas de seu público, adotando algumas práticas da maioria dos jornais do centro do país, como a publicação de folhetins.[12] Em 1885 Porto Alegre tinha 85 periódicos em circulação.[12]

Fase moderna 1896 a 1945

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Inicia com a criação do jornal Correio do Povo, considerado o primeiro jornal gaúcho moderno, com estrutura técnica e administrativa de empresa.

, 1939, mais tarde chamado A Voz da Serra.

  • Diário Serrano, Cruz Alta, 1939
  • Gazeta, Novo Hamburgo 1948

Fase contemporânea

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Porto Alegre tinha na década de 1970 cinco jornais diários: Correio do Povo, Zero Hora, Folha da Manhã, Folha da Tarde e Diário de Notícias.

O Diário de Notícias do grupo Diários Associados devido a seu perfil conservador estava em decadência. O Correio do Povo tirou proveito disto e sua tiragem de 50 mil exemplares em 1950 cresceu a 75 mil até meados da década de 1970. Rumo similar seguiu a Folha da Tarde, passando a editar uma folha esportiva que daria origem ao jornal Folha da Manhã, em 1969.

Nos anos 1980 a Folha da Tarde e a Folha da Manhã saíram de circulação e o Correio do Povo chegou a ser fechado por alguns meses, retornando com novos proprietários, com redução do número de páginas e em formato tabloide. A Zero Hora, fundada em 1964 e substituta do Última Hora, passou a ser o jornal mais vendido no Rio Grande do Sul, numa posição de quase monopólio. Em 2001 inicia a circulação de O Sul, jornal que passou a disputar o mercado com o Correio do Povo e com a Zero Hora.

Hoje o Rio Grande do Sul tem cerca de 320 jornais de todos os tamanhos e formatos.

Em 2008, uma análise do Jornal Já criticou o modo como é operado a imprensa do Rio Grande do Sul, chamando a atenção para a repetição e a falta de notícias.[27]

Ver também

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Referências

  1. a b BARRETO, Abeillard. Primórdios da Imprensa no Rio Grande do Sul. Comissão Executiva do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha, Porto Alegre, 1986.
  2. Ribeiro, Lilian. A citação como indicador de qualidade http://dx.doi.org/10.3916/escola-de-autores-125. Consultado em 10 de março de 2023  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  3. Poderia eventualmente se tratar de Claude Joseph Estivalet, nascido c.1790 em Aix-La-Chapelle, falecido e sepultado no município de São Francisco de Assis, no interior do Rio Grande do Sul, em 1843; casado com Laura Laurinda Franco de Oliveira, com quem teve cinco filhos entre 1833 e 1844, no mesmo município.
  4. MELO, José Marques, História Social da Imprensa:fatores socioculturais que retardaram a implantação da imprensa no Brasil, EDIPUCRS, 2a ed., 2003, 184 pp.
  5. a b c ALVES, Francisco das Neves (2009). «O periodismo gaúcho no século XIX: breves impressões históricas». Consultado em 27 de janeiro de 2013  Parâmetro desconhecido |publlicado= ignorado (ajuda)
  6. a b CAPPARELLI, Sérgio. Comunicacao de Massa Sem Massa, 5a edição, Summus Editorial, 1989, ISBN 8532302521, ISBN 9788532302526, 128 pp.
  7. a b REVERBEL, Carlos. Evolução da imprensa Rio-grandense (1827-1845), in Enciclopédia Rio-Grandense. Porto Alegre, 1956.
  8. MACEDO, Francisco Riopardense de. Imprensa farroupilha Volume 4 de Coleção Ensaios, Editora EDIPUCRS, 1994, ISBN 8570631405, ISBN 9788570631404, 162 pp.
  9. «CUNHA, Jaqueline Rosa da. A formação do sistema literário de Pelotas: uma contribuição para a literatura do Rio Grande do Sul. PUCRS, Porto Alegre, 2009». Consultado em 9 de abril de 2011. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  10. Segundo Cunha, op.cit., Cândido Melo chegou a Rio Grande numa companhia dramática.
  11. JARDIM, Jorge Luiz Pastorisa. Comunicação e militância: A imprensa operária do Rio Grande do Sul (1892-1923). Porto Alegre: PUCRS, 1990.
  12. a b c d e f g h HOHLFELDT, Antonio. RAUSCH, Fábio Flores. A imprensa sul-rio-grandense entre 1870 e 1937: Discussão sobre critérios para uma periodização. Anais do XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2006.
  13. a b c JACKS, Nilda Aparecida; GOELLNER, Rene; CAPARELLI, Sérgio Capparelli. TV, família e identidade. EDIPUCRS, 2006, 258 pp. ISBN 8574305715, ISBN 9788574305714
  14. Ferreira, Athos Damasceno. Imprensa Literária de Porto Alegre no Século XIX. EdUFRGS, 1975, pp. 25-32
  15. BONOW, Stefan Chamorro (2011). «A desconfiança sobre os indivíduos de origem germânica em Porto Alegre durante a Primeira Guerra Mundial: cidadãos leais ou retovados?». Porto Alegre: PUCRS. Consultado em 2 fev 2013. Arquivado do original em 5 de março de 2016 
  16. Ferreira, Athos Damasceno. Imprensa Literária de Porto Alegre no Século XIX. EdUFRGS, 1975, pp. 36-45
  17. a b c BECKER, Klaus. Imprensa em língua alemã (1852-1889), in Enciclopédia Rio-Grandense. Porto Alegre, 1956.
  18. Damasceno, Athos. Artes Plásticas no Rio Grande do Sul. Globo, 1971, pp. 326-330
  19. Ferreira, Athos Damasceno. Imprensa Literária do Rio Grande do Sul no Século XIX. EdUFRGS, 1975, pp. 116-125
  20. Santos, Salete Rosa Pezzi dos. Representação do feminino em uma escritura desautorizada: Celeste, de Maria Benedita Câmara Bormann e O perdão, de Andradina Andrade de Oliveira. Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007, p. 32-44
  21. Duarte, Constância Lima. Imprensa feminina e feminista no Brasil: Século XIX. Autêntica, 2018
  22. a b c d e f g h STEYER, Fábio Augusto. Cinema, imprensa e sociedade em Porto Alegre (1896-1930), EDIPUCRS, 2001, ISBN 8574302333, ISBN 9788574302331, 278 pp.
  23. a b c d e f g h i «CORREA, Anderson Romário Pereira. Movimento Operário em Alegrete: a presença de imigrantes e estrangeiros (1897-1929), Porto Alegre: PUCRS, 2009, 213 p.». Consultado em 16 de janeiro de 2011. Arquivado do original em 4 de março de 2014 
  24. GERTZ, René Ernani. O aviador e o carroceiro: política, etnia e religião no Rio Grande do Sul dos anos 1920. EDIPUCRS, 2002, 271 pp. ISBN 8574302929, ISBN 9788574302928.
  25. Monteiro, Charles. "Fotografia e crônica: a construção de uma visualidade urbana moderna de Porto Alegre nas revistas ilustradas nos anos 1920". In: ArtCultura, 2014; 16 (29): 155-166
  26. «GaúchaZH». gauchazh.clicrbs.com.br. Consultado em 17 de fevereiro de 2018 
  27. «Informação de baixa qualidade também intoxica». Jornal Já. 2 de outubro de 2008. Consultado em 25 de abril de 2020. Cópia arquivada em 25 de abril de 2020. O noticiário em mosaico, cada vez mais sucinto e impreciso, é servido de modo a nos deixar a sensação de uma realidade caótica, incompreensível, que é para nos convencer a desistir de pensar. Tem é que fazer tudo o que seu mestre mandar. Claro que não há uma mente maligna maquinando isso. Há um processo feito de omissões e conveniências, cujo resultado, entre outros, são redações obedientes e burocráticas, em que a falta de criatividade se confirma pelas exceções.Nem toda a mídia é ruim, nem tudo na mídia é ruim. Mas essa sensação que ela pretende passar, de que dá conta de tudo, é falsa. Não temos informações em excesso, como parece. Temos falta, “carência alimentar”, de informação qualificada, que escape ao mexerico diversionista. É uma informação em escala industrial, homogeneizada, manipulada, que entoxica. É como se tivéssemos que comer hamburguer todo o dia.  line feed character character in |citação= at position 823 (ajuda)

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