San Miguel de Lillo
San Miguel de Lillo é uma igreja pré-românica dedicada a San Miguel Arcángel mandada construir em 848 pelo rei Ramiro I no Monte Naranco, nos arredores de Oviedo. Encontra-se a escassos metros de Santa María del Naranco.
O que chega até nós é apenas uma pequena parte da construção, visto que o resto se arruinou no Século XI.[1][2]
História
editarErguida no século IX, na etapa de Ramiro I, serviu como Igreja do conjunto palacial deste monarca em Naranco.[2] Grande parte do edifício caiu no século XI, ocorreram várias reconstruções, estando o perímetro original marcado no solo que rodeia o edifício.[3]
A nova cabeceira do século XII não tem nada a ver com a original: existem janelas que foram cegadas, reaproveitamento de materiais como evidenciado pelos contrapostos a serem usados como tijolos e elementos fora do sítio. A hipótese mais sólida para a planta original do templo foi elaborada por Lorenzo Arias e aprovada pelo Instituto de Arqueologia Alemã. Esta planta ocuparia o perímetro originalmente marcado à volta do edifício.[4]
Arquitetura
editarO seu traço original corresponde às características típicas das Igrejas Asturianas da época: Um vestíbulo de entrada sobre o qual se dispõe uma tribuna para o monarca. A planta era basilical e dividida em três naves separadas por arcos sobre colunas, que terminam na cabeceira tripartida, da qual nada resta. Dos arcos, de volta perfeita peraltados (como é habitual) só se conservam os do primeiro tramo.[3][5]
A longitude do edifício atual é de 11 metros, sendo então muito inferior à que supostamente teve, outrora alcançando 20 metros. Uma peculiaridade deste monumento é a ausência de um corpo de acesso apreciável e distinguível do exterior, como era evidente noutros templos da época. Isto torna a fachada de San Miguel de Lillo no primeiro exemplo de uma fachada monumental numa igreja espanhola. Aqui chama-nos a atenção o vão cego sobre a porta e a janela, que fornecia luz à tribuna.[4][5]
Em termos de janelas, das numerosas janelas que a igreja teve, só se conservam três e uma rosácea simples. Das fachadas laterais só se conserva o primeiro tramo da construção original e os contrafortes canelados de tracição Ramirense (Também existentes em Santa María del Naranco). O resto do exterior são apenas remodelações posteriores.
No Interior destacam-se as abóbadas (de berço) que servem de cobertura e a utilização de colunas como descanço para o arco, em vez da utilização de pilares que era comum. Os capitéis que coroam as colunas são tronco-piramidais, tal como os capitéis de tradição Bizantina, de motivos geométricos que se correlacionam com os motivos Visigóticos, unidos com a corda asturiana. Das bases de coluna (Com relevos e de grande tamanho) ainda se conservam: algumas nas suas posições originais, outras no templo mas em posições diferentes e outras no Museo Arqueológico de Asturias.[2][3]
Decoração
editarSobrevivem ainda vários exemplos escultóricos, como por exemplo, a jamba da porta principal, decorada com cenas de jogos circenses de inspiração romano-bizantina, situada na porta principal do templo, constituindo um escasso exemplo de uma depicção não religiosa num templo palatino Alto-Medieval. Sabe-se também que o artista que realizou a decoração escultórica inspirou-se num díptico romano-bizantino do século VI d.C, executado em marfim.[3]
Destacam-se também as bases de coluna mencionadas anteriormente, que têm relevos que depictam figuras aladas, muito possivelmente os Evangelistas. A eleição do tema dos Evangelistas ou tetramorfos supõe uma alusão ao apocalipse e a sua distribuição entre as arcadas é um motivo arquitetónico que reaparecerá no reinado de Afonso III na arca-relicário que este oferece à Catedral de Astorga.[4] Também podem ser observados relevos de grande importância na tribuna Régia. Ambos abrem-se em arcos que comunicam o recinto elevado com a escadade acesso e com uma sala cuja função não se conhece. Sobre a abóbada da tribuna existe uma pequena câmara cujo único acesso é um arco aberto ao muro ocidental da nave central.[4][5]
No Museo Arqueológico de Asturias está também o altar que estava originalmente em San Miguel de Lillo, cuja inscrição lê: "Este ara de bendicçión a la gloriosa Santa Maria" (Este Altar de bendição à gloriosa Santa Maria).[4]
Destacam-se também as escassas pinturas murais que sobreviveram e que têm sido alvos de constantes projetos de restauração.[6] É aqui que pela primeira vez na arte Asturiana se representa a figura humana. Podem-se distinguir três figuras diferentes, estando todas na nave Sul:
- Uma figura sentada num trono em posição central;
- (À direita) uma figura mais pequena de perfil com os braços estendidos;
- (A 6 metros de altura das outras duas) um homem a tanger um instrumento musical.
Também sobreviveram trechos pinturas murais nas abóbadas, sendo estas padronizadas, iguais às de San Julian de los Prados.[4][5][6]
Galeria
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Interior de San Miguel de Lillo, depictando o início da arcada incompleta da arruinada nave sul.
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Rosácea Simples.
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Janela decorada.
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Promenor da nova cabeceira, observa-se também a reutilização de materiais provenientes da antiga basílica.
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Vista dos contrafortes da face norte do edifício
Referências
- ↑ «Santa María de Naranco y San Miguel de Lillo». Santa María de Naranco y San Miguel de Lillo (em espanhol). Consultado em 9 de dezembro de 2023
- ↑ a b c «Igreja de San Miguel de Lillo em Oviedo». Spain.info. Consultado em 9 de dezembro de 2023
- ↑ a b c d Centre, UNESCO World Heritage. «Monuments of Oviedo and the Kingdom of the Asturias». UNESCO World Heritage Centre (em inglês). Consultado em 9 de dezembro de 2023
- ↑ a b c d e f FERNÁNDEZ, Carmen Adams (2006). El Arte Asturiano. España: Picu urrielu. pp. 78–87. ISBN 9788496628007
- ↑ a b c d «San Miguel de Lillo: pre-Romanesque harmony». Barceló Experiences (em inglês). Consultado em 9 de dezembro de 2023
- ↑ a b O, J. A. (24 de novembro de 2017). «La mejora de los frescos de San Miguel de Lillo arrancará el año que viene y costará un millón». La Nueva España (em espanhol). Consultado em 9 de dezembro de 2023
Bibliografia
editarMoffitt, John F. (1999). The arts in Spain. (em espanhol). Londres: Thames and Hudson. ISBN 978-0-500-20315-6
Arias Paramo, Lorenzo (1992). «Geometría y proporción en la arquitectura prerrománica asturiana». Oviedo: Universidad de Oviedo. Actas del III Congreso de Arqueología Medieval Española (em espanhol): 27–37. ISBN 978-84-604-1916-7. Consultado em 31 de maio de 2009